Este fim-de-semana dediquei algum tempo à leitura das entrevistas dadas pelos 2 candidatos que, em principio, disputarão a vitória no próximo sábado. Dessa leitura retiro uma conclusão em tudo idêntica à que havia retirado da leitura dos seus programas: equivalem-se.
Equivalem-se no seu aspecto mais importante, contribuem muito pouco para uma tomada de decisão consciente sobre o destino a dar aos meus votos. Há muito "vamos ver", muito "achismo" ou enunciação de "medidas" que mais não são do que banalidades. Fica quase tudo para depois das eleições, o que subverte um pouco o seu sentido: deveríamos estar a votar num modelo de governo do clube e não de pessoas.
Mas há algumas diferenças que merecem ser assinaladas porque a mim me dizem alguma coisa. Reparei na primeira página do jornal "O Jogo" de ontem, onde BdC acusa Couceiro de se comportar como um rufia. Rufia.
Eu não sei se BdC domina bem a língua portuguesa, até porque a seguir também usa o verbo "mediocrizar", que deixa algumas dúvidas sobre a sua correcção, mas isso é um pormenor. Mas rufia é uma derivação do substantivo "rufião" que significa:
1-
Indivíduo que vive à custa do que uma prostituta ganha.
2-Pessoa que se envolve frequente ou facilmente em brigas.
Com toda a naturalidade BdC queixa-se linhas abaixo do nível da campanha de Couceiro, dizendo que "os Sportinguistas não querem um discurso de quezília de truculência"! Acrescenta que "não entra em debates de carácter" apesar de saber que Couceiro "já foi empregado em vários clubes".
E como BdC se queixou também de Couceiro "em cada 10 palavras usar o seu nome em 5" dei-me ao trabalho de contabilizar, nas 2 entrevistas que tinha disponíveis, (O Jogo de ontem e o Record de sábado) e contabilizar as vezes que cada um dos candidatos se refere ao seu oponente. E além disso retirei as frases para que se consiga perceber os contextos. A entrevista de BdC tem 2 páginas e a de Couceiro tem 4.
BdC ao Jogo:
Há 2 anos apresentei uma estrutura com Inácio Virgílio e
José Couceiro que ia ficar com a logística ao nivel do futebol.
Espanta-me que em cada dez palavras de Couceiro 5 tenham o
meu nome. Os Sportinguistas não querem um discurso de quezilia e truculência.
(Pedro Gomes no dia anterior declara que Couceiro é um perdedor nato, dias
antes BdC inicia as hostilidades insinuando que Couceiro anda à procura de
emprego).
E não há dúvidas que José Couceiro é o herdeiro de GL.
Já vi José Couceiro utilizar com requinte a palavra Vale
referindo-se a Vale e Azevedo.
Foram à procura de alguém que na ideia deles mesmo não tendo
soluções para o Sporting me pudesse vencer falo de José Couceiro.
É uma irresponsabilidade em linha com o discurso de Couceiro
que diz que o clube está numa situação de sobrevivência e precisa de não sei
quantos milhões. (Já em Novembro BdC dizia que “Este é o momento mais grave
que o nosso Clube já atravessou nos seus 106 anos de história. Quer a nível desportivo, quer a nível
financeiro, atingimos limites que colocam em causa toda a razão de existência
do Sporting Clube de Portugal.” O que
mudou agora para BdC se sentir autorizado a fazer este reparo?).
A passagem de José Couceiro pela Rússia deve tê-lo marcado
fortemente.
Esse candidato (José Couceiro) entende que tudo é para
arrasar.
Couceiro ao Record
O Sporting está cheio de problemas para virmos agora evocar
que a mesa da AG foi eleita pela lista de BdC. Nem pensar nisso.
Já tinha sido convidado por ele (BdC) em 2011. 2 anos depois
fui novamente abordado.
Cada um que conclua o que quiser. Da minha parte o que fica é um estilo de BdC que me desagrada, que foi adoptado por grande parte dos seus apoiantes e que me remete para o pior que vi em FSF e Bettencourt, na falta de respeito por quem não perfilhe as suas ideias. Tenho feito um grande esforço para não formular a minha decisão de voto num voto contra "isto" e "estes". Mas que o esforço é grande lá isso é...
Não sei se Couceiro ou alguém da sua campanha - há acusações feitas à empresa que lhe faz a comunicação que ainda não vi concretizadas - usa de idênticos procedimentos ou linguagem. Em Couceiro estranharia, confesso.
Mas esta questão é menos importante do que constatar que se este tem sido o foco da campanha eleitoral ou pelo menos um dos seus aspectos mais relevantes, aos sócios se pode agradecer. Não a todos, mas a um grande número, sem dúvida e no que toca à blogosfera, à sua quase generalidade.
No que à blogosfera diz respeito, a sua maioria tomou como matéria de decisão do voto o facto de se "ser ou não da continuidade", centrando por isso o debate numa questão que será, face a outras, de somenos importância no dia 24.
Além de desviar as atenções e ser redutor, facilita a vida aos candidatos: é muito mais fácil proferir esta acusação ou fazer a demonstração do seu contrário do que demonstrar capacidade para resolver ou o pelo menos tratar a complexidade das matérias que lhe aparecerão em, calcula-se, em avalancha.
Também ajudaria muito que as diversas sessões de esclarecimento não fossem actos de aclamação e entronização. Este é o tempo de obrigar os candidatos a apresentarem os seus planos para a redução do orçamento da SAD, quem são os investidores, se os têm, como pretendem levar a cabo a reestruturação financeira, ou enfrentar a possibilidade de termos que estar ausentes das competições europeias, por força de uma hipotética adesão ao plano de recuperação de empresas, ou simplesmente como convocar TODOS os Sportinguistas para a refundação que se adivinha. Doutra forma a crescem as hipóteses de, depois das eleições, sermos apenas confrontados com inevitabilidades.
Votos por correspondência
Pela primeira vez seria possível aos sócios que moram longe da Grande Lisboa sem terem que se deslocar a Alvalade, o que reduzia em muito o maior sacrifício que lhes é exigido para exercerem o seu sportinguismo. Não me enganei no tempo verbal, "seria" porque sobram muitas dúvidas se tal ainda será possível de acontecer em tempo útil (até sexta-feira), porque há muitos, onde me incluo, que ainda não receberam os respectivos boletins para iniciar o anacrónico processo burocrático de validação. E há quem esteja em piores circunstâncias, por estar no estrangeiro.
A menos que haja um tratamento muito cuidadoso por parte da A.G., que terá que passar por um acordo entre todas listas, ficarão sportinguistas sem a possibilidade de participarem no acto eleitoral. Impugnação a caminho de quem não se conformar com os resultados que podem ser novamente renhidos é apenas uma das muitas hipóteses em aberto...