quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A Taça da Liga tinha um preço e estamos a pagá-lo

Há males que vêm por bem? Se este ditado fosse feito por Sportinguistas seria provavelmente ao contrário. Acabamos de conquistar a Taça da Liga para mergulharmos numa daquelas depressões cavadas de cortar os pulsos. Ou, se preferirem, de roer as unhas até ao... cotovelo. Tudo porque empatamos o jogo com o Setúbal, um dos candidatos à descida no campeonato ainda em curso.

Convenhamos que a exibição medonha é mesmo causadora de depressão. Entrada em tom de passeio, futebol aos repelões, toada que se manteve durante todo o jogo.  Dos princípios de jogo que nos deram alguma esperança inicialmente com a chegada de Keizer não se vê uma réstia. Dizer que as equipas se ajustaram e refizeram da surpresa inicial é redutor. 

Há várias razões para justificar este abandono, que vão desde o pouco tempo e excesso de lesões para consolidar o modelo e assim dar-lhe segurança. Mas, da mesma forma que houve dedo de Keizer há agora falta dele. E, apesar da fleuma que lhe é característica, nota-se no semblante aquele ar de astronauta perdido na imensidão do espaço, sem saber se deve descer, subir ou ir para a direita ou esquerda. E é esse o comportamento da equipa em campo nestes últimos jogos. 

Façamos um ponto de ordem aqui: eu nunca tive grandes veleidades relativamente à época em curso até Keizer chegar. Depois disso não desminto ter chegado a sonhar.  E com razão, pelo futebol apresentado. Agora estou naquele ponto em que ela(e) nos leva para o quarto e em vez de preliminares estamos a falar dos cortinados e tapetes... 

Analogias à parte, o que mais me preocupa nesta equipa é a ausência de correcção dos erros. E quem não aprende com os erros arrisca-se a cometê-los de novo. E foi isso que aconteceu ontem. Não foi apenas a entrada "à turista" que nos condenou a ver a baía de Cádis ao Petrovic desde o estuário do Sado. Por jogadas semelhantes passamos os palpos de aranha em Guimarães e só a grande exibição de Renan impediu um enxovalho maior. E ela vem sendo executada indiscriminadamente por vários outros: bola na referência atacante, que, não tendo marcação próxima, como devia, explora a bel-prazer o muito espaço disponível para quebrar os rins aos defesas e criar perigo. Só não vimos isto com o FCP porque então Marega tinha-se divertido à grande.

Mas a gestão do plantel também merece senão reparos pelo menos muitos pontos de interrogação. Muito em particular o desaparecimento de Miguel Luís, que dava critério no passe e qualidade a defender, pela forma inteligente que lia o jogo e ocupava os espaços. Tal como já havia deixado a ausência de Phillype em Tondela. E o que dizer da presença aparentemente tão obrigatória como inútil de Diaby? Mas estamos a falar de um treinador que aterrou há dois meses em Portugal, pegou numa equipa moribunda e descrente. A dois pontos do primeiro lugar e em segundo na tabela? Sim, mas porque os nossos adversários perdiam pontos inesperadamente, algo que deixou de acontecer.

É verdade que ontem fomos completamente gamados de forma tão descarada como nos havíamos habituado a ver nos idos de 80 e 90 do século passado. Há coisas que não mudam ou tardam muito a mudar. Por isso mesmo, se queremos ser mais felizes no futuro, não basta sermos mais organizados do que temos sido, temos que incorporar os "Malheiros & Cia"como obstáculos permanentes a ultrapassar. E nunca, nunca dar nenhuma vitória como óbvia ou adquirida.

Estamos a pagar o preço da conquista da Taça da Liga. No cansaço acumulado, na falta de tempo para treinar. Mas também pelo que foi dito por Frederico Varandas, quer em relação à arbitragem quer aos rivais. A desfaçatez com que o Malheiro chega ao jogo em Setúbal e inclina o campo é o preço que temos que pagar pela afronta. Frederico Varandas tem agora que saber desatar o nó górdio a que ficou preso pelas suas declarações em Braga. Sem receios, porque o que disse então estava certo tal como desmascarar a forma habilidosa de errar sempre para o mesmo lado de Malheiro também o é. Calar é consentir e isso é muito pior.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Taças para que vos quero!

A ínfima parte que me pertence nesta vitória na Taça da Liga dedico aos adeptos que acreditam que ganhar é sempre possível para o Sporting. Mais do que um resultado aqui ou ali, ganhar é nosso destino!

Dedico também aos  jogadores que lutaram sempre, mesmo quando tudo parecia já perdido e as forças escasseavam. Na alegria genuína com que festejaram disseram o quão importante para eles era esta vitória.

Dedico também aos que de forma desrespeitosa menosprezaram a força deste enorme clube ainda a levantar-se do pó e a sacudir as cinzas. Aos que diziam que podíamos ser goleados pelo Braga. Aos que, na véspera, pensavam que voltávamos a uma final para cumprir uma  formalidade e ser meros figurantes na festa do FCP.

Dedico também aos "desportistas" de pacotilha, que o são apenas na hora da vitória e rapidamente se transformam em grunhos na hora da derrota. Anões moralistas, que pregam aos outros virtudes que não possuem ou desconhecem. De todas as desgraças que nos têm sucedido espero que esta nunca nos aflija!

Foi "só" uma Taça da Liga, é certo. Podia até não ter sido. Mas fomos os mais fortes (ao contrário do que dizia o outro...) porque aguentámos, cerrámos os dentes na adversidade do resultado e das lesões e, na hora da verdade, falhámos menos. Já fomos melhores e perdemos muitas vezes. Desta vez fomos melhores porque ganhámos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Keizer? Bola!

Não gosto de desculpas, mas também não gosto de reacções a quente que mais não fazem do que introduzir ainda mais irracionalidade onde ela já abunda. Interrompo assim um longo intervalo sem publicar, muito por força do desaire miserável de ontem.

Antes de mais não faz qualquer sentido as atitudes de terra queimada. Os maus resultados recentes têm exactamente os mesmos responsáveis que os bons resultados iniciais. A entrada de Keizer foi um doping moral que se esfumou por várias razões muito concretas: não temos plantel para fazer "um passeio no parque" como muitos pensavam que ia ser após as vitórias consecutivas.

Com o cansaço dos jogos acumulados vêm ao de cima as limitações individuais que abundam no nosso plantel - grande parte dos golos sofridos, que são muitos, têm vindo daí - e os jogos consecutivos não permitem a intervenção do treinador.

O Sporting para ser campeão ou para acalentar essa ideia tem de defender muito melhor e não pode sofrer um golo ou mais por jogo. É um problema de treino e organização sim, mas também resulta da baixa qualidade geral dos jogadores de meio-campo que poderiam desempenhar essas tarefas. Há muito "lixo" para varrer. (não gosto de me referir assim aos jogadores mas é o que é...).

Quanto à diferença que poderia significar ter visto chegar mais jogadores mais cedo neste defeso, é verdade. Mas também é verdade que se o tivéssemos conseguido eles praticamente não teriam treinado, logo a possibilidade de poderem ser utilizados com proveito era praticamente nula. Constatar isto é também admitir que chegar ao 2º lugar é neste momento e nestas circunstâncias uma miragem. Temos que competir não com um mas com dois adversários, que estão melhor que nós e mais equilibrados. O 2º lugar é de um deles, a menos que o Sporting consiga melhorar significativamente. 

Mas quer se queira ou não, Keizer está num processo de aprendizagem, precisa de perceber o campeonato português e por isso a chegada de Raul José e Quaresma podem ser muito importantes. É aqui que acho que há razões para esperar algo de muito melhor, tem havido uma procura por dotar o departamento de futebol de conhecimento e profissionalismo e abandonar as decisões tomadas de forma errática pela cabeça de um um dois. Há razões para crer que pode resultar, não decidam os sportinguistas fazer o habitual: deitar a criança fora junto com a água do banho. Mas essa é uma das nossas especialidades e não falta quem ansiasse por este momento...

Mas voltando ao que aconteceu ontem, é preciso a humildade para perceber as especificidades do nosso campeonato, onde há bons treinadores que, não dispondo de tão bons jogadores como os grandes, conseguem montar equipas que se lhes opõem, dão lutam e muitas vezes lhes ganham. Essa humildade parece que esteve ausente desde o momento da convocatória, no alinhamento da equipa, na postura desta em campo e finalmente numa péssima leitura do jogo.  E quando vejo um treinador abdicar das suas ideias e do processo que fez crescer a equipa partir para o chuveirinho, recorrendo aos centrais, quando deixa ficar em Lisboa pelo menos um avançado que estaria mais confortável para esse desempenho, fico à espera do pior.

Como diria o outro, ontem para Keizer foi bola! Bola!