terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Sem bússula à procura do Petit Maritimo

Foi mais uma vez penosa a nossa passagem pelos Barreiros agora renovados. Nada a dizer do empenho dos jogadores mas muito a reflectir sobre a orientação que lhes foi dada para este jogo. A começar por uma saída a jogar condenada ao fracasso perante um Maritimo à La Petit: lentidão de processos e muita previsibilidade, precisamente o oposto que o jogo exigia. A isso ajudou também o facto de jogadores nucleares estarem claramente penalizados pelo jogo da passada quinta-feira. Muito em particular Bruno Fernandes que, à medida que o tempo avançava, ia perdendo discernimento e falhava passes atrás de passes. E Bruno Fernandes, sendo apenas um, tem sido claramente a "equipa". Quase tudo o que de bom é feito é-o graças a ele. 

Podemo-nos queixar da "habilidade" do  árbitro? Ou do anti-jogo dos insulares? Podemos, mas para tal se justificar e não soar a desculpa temos que fazer muito mais do que começar por desperdiçar os primeiros quarenta e cinco minutos. Ou os segundos sem acertar na baliza e sim no guarda-redes, fazendo dele um herói quando mais não foi do que um actor para passar o tempo, com a total complacência do árbitro. A verdade é que a qualidade das oportunidades criadas foi tão baixa que condenou à partida o respectivo sucesso.

Sabemos que no futebol português a palavra vergonha não existe. Se queremos lutar por alguma coisa contra as "equipas à La Petit", com quem sistematicamente perdemos pontos, não podemos usar desculpas ou alegar desconhecimento. O treinador do Marítimo mais uma vez consegue o que quer  (é quase inacreditável que nos tenha roubado oito pontos em nove jogos) e nós ficamos a lamentar como se não soubéssemos já ao que íamos.

Keizer precisa urgentemente de uma bússola para se orientar. O futebol português está longe de pedir as soluções que se oferecem no holandês. Se a bola não chega com qualidade à frente não adianta tirar médios por troca com avançados. É um facto que Wendel não estava a jogar, mas por o Phillipe para a molhada onde já estava Diaby perdido contribui apenas para acentuar a confusão e falta de discernimento que se acentuava à medida que o tempo decorria.




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Tijolada final no La Cerâmica

Foi triste o adeus à Liga Europa. Triste porque foi mais uma oportunidade perdida para afirmar o nome do Sporting no futebol internacional, como todos desejamos. Triste porque sentimos que podíamos ter feito mais e também porque, mais uma vez, sentimos que fomos impedidos de fazer mais.

Há que o reconhecer sem qualquer subterfúgio: em ambos os jogos os nossos adversários foram-nos superiores, eles que também não são os coitadinhos que a sua classificação na La Liga levaria a supor. Na Liga Europa continuam sem perder. Se no primeiro jogo a nossa prestação foi confrangedora, ontem foi ligeiramente melhor, mas ainda assim muito longe do que temos que fazer a este nível. Ao contrário do que disse Keizer na antecipação ao jogo, a táctica é muito importante. É determinante até porque o jogo não se faz apenas da compleição fisica e da corrida, sendo óbvio que o apuro físico também é determinante. É a táctica ou a abordagem estratégica que permite a gestão dos movimentos, a colocação e gestão dos espaços e dos momentos, de forma a atenuar quer o carácter anárquico do jogo, dando aos jogadores condições para tomar as melhores decisões em função das circunstâncias.

Ora o que vimos ontem no La Cerâmica foi algo de muito semelhante, com ligeiras cambiantes, ao que já vimos na era Keizer: muita dificuldade a sair a jogar - o treinador espanhol antecipou bem que íamos sair a 3 e igualou numericamente a oposição - muita distância para os médios, sempre obrigados a receber de costas. Dessa forma praticamente não conseguimos criar condições para visar a baliza adversária. Com duas escassas excepções, ambas muito mais por obra e graça não do espírito santo mas da raça, pundonor e talento de Bruno Fernandes mas não por acções de carácter colectiva, como deveria ser. Os 24 anos (!) de Bruno Fernandes valem o seu peso em ouro e equivalem e superam os de muitos veteranos. 

Obviamente não podemos deixar de olhar para o resultado desta eliminatória sem esquecer os dois lances que acabam por marcar o nosso destino na competição. A expulsão de Jefferson é um misto de imprevidência do jogador e e mau juízo do árbitro. Jefferson não é um exemplo de inteligência, como sabemos, mas está a correr e em disputa física, pelo que não pode parar para pensar. O árbitro viu o que viu e revendo o lance várias vezes perde-se a convicção de mero acidente que o visionamento imediato do lance fornece. O jogador não pode ficar com a perna no ar ou no bolso. Agora se o árbitro acha que o Jefferson pisou o adversário, deveria puni-lo com vermelho directo, mas certamente a sua má consciência não terá deixado...

Há  ainda o lance de Dost que, em condições "normais", ter-nos-ia dado a qualificação. Mas o seu falhanço estrondoso veio na linha da exibição do nosso ponta-de-lança. É óbvio que atravessa um período já prolongado de má forma, mas é bom não esquecer que o holandês tem quase tantos jogos feitos como golos marcados. O seu jogo tem limitações evidentes mas também tem virtudes das quais temos beneficiado amplamente. Só a falta de memória poderá alterar estes factos. E, pelo que se vai vendo, os suspiros por Luiz Phelyppe estão longe de se justificar.

Não foi uma jornada feliz, tudo o que podia correr mal correu, mas também é verdade que fizemos muito pouco para correr melhor. E quando parecia que estávamos em condições de poder fazer um pouco mais, depois de igualarmos o resultado, os pratos da balança voltaram a inclinar...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Keizer faz prova de vida

Não podia ter expectativas mais baixas para o encontro que nos ia opor aos arsenalistas de Braga. O jogo com o Villareal havia-se encarregado de as esvaziar, tão amorfa que fora a exibição. Keizer porém resolveu preparar-nos uma surpresa mostrando uma faceta criativa que não parecia possuir. Mas talvez o mais surpreendido de todos tenha sido Abel, de tal forma que a nossa superioridade haveria de se manter pela generalidade do tempo de jogo. 

A verdade é que o jogo começou a ser ganho precisamente na quinta-feira, quando o treinador holandês resolveu fazer descansar grande parte dos titulares no jogo com os espanhóis. A estratégia é discutível, obviamente, mas a verdade é que, quanto mais não fosse pelo brio e pelo orgulho, o jogo de ontem era o mais importante. Mas o plano foi tão bem arquitectado e tão bem desempenhado pelos jogadores que pareceu termos de volta o Keizer Ball com uma variante até agora inédita, que alguns diziam que não era possível: estava pela frente um adversário poderoso. Ganhamos, com este vislumbre da sagacidade de Keizer, um novo fôlego para a esperança que já começava a definhar. 

Saliente-se que o acerto na escolha táctica contou com a indispensável atribuição de funções adequadas ao sucesso dos jogadores, oferecendo-lhes assim a possibilidade de mostrarem maior qualidade do que a que vínhamos observando. Essa é afinal a função do treinador e é o inverso do que se vinha sentindo e que me levou a escrever isto no último parágrafo do post anterior: "podemos discutir a qualidade individual de alguns jogadores mas até aí o trabalho de Keizer está a falhar: um bom treinador potencia a qualidade dos jogadores, mas a consequência directa das suas opções  tem resultado na exposição dos seus defeitos." Ontem até Gudejl e Diaby pareceram outros.

Os próximos jogos serão um observatório interessante para aferir que efeitos teve esta vitória tão categórica nos níveis de confiança da equipa e que reacções provocará nos adversários. Mas sem dúvida que a nota mais importante a reter foi a prova de vida que Keizer acabou por realizar. Se é verdade que ele ainda nos está a conhecer a nós - clube, cidade, país, competição - ficou no ar que também o vamos ter que o conhecer melhor.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Miserável!

Ao contrário do que provavelmente pensava a generalidade dos adeptos, em nenhum momento me passou pela cabeça que o Villareal era um adversário facilmente ao nosso alcance, só porque estão em último lugar na sua Liga. Não apenas porque não faltam jogadores de qualidade e experiência no seu plantel, mas também pelo diferente percurso que se regista na Liga Europa, onde continua sem perder. 

Bastaram por isso apenas três minutos e alguns segundos para ficar à vista de todos ao que vinham os de Vila-real, bem como a raiz dos nossos problemas: uma equipa que deixou de o ser, que perdeu as suas referências e que se viu despida das virtudes do agora tão distante período de encantamento com Keizer-Ball. Até prova do contrário, estivemos na presença de um meteorito que hoje não se vislumbra que possa voltar à vida, tão profundo que é o abismo onde se despenhou.

Tem a palavra agora Frederico Varandas. A aposta no técnico holandês foi uma jogada pessoal de elevado risco, totalmente desaconselhada no contexto em que o clube vive. Uma aposta no escuro do seu curriculum e de uma escola em perda, como aqui dissemos na altura. Mas pior do que um erro de avaliação é continuar a laborar num erro. Não decidir, não comunicar, não explicar é apenas aprofundar a sensação de nau à deriva. Varandas vai ter que decidir se corta a âncora que Keizer se tornou ou se se afunda com ele.

P.S.- podemos discutir a qualidade individual de alguns jogadores mas até aí o trabalho de Keizer está a falhar: um bom treinador potencia a qualidade dos jogadores, mas a consequência directa das suas opções  tem resultado na exposição dos seus defeitos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Fomos à Feira e trouxemos apenas o essencial

Fomos à Vila da Feira buscar o essencial: os três pontos. O nível exibicional continuou sofrível, particularmente a primeira parte, onde estivemos a desorientação foi tão grande que não teríamos sido capazes de ver a torre de menagem, ainda que tivéssemos encostados a ela. Na segunda parte as coisas melhoraram um pouco, mas muito mais em esforço do que por evidente superioridade que se deveria registar pela diferença individual  à disposição dos treinadores. A excepção foi mais uma vez Bruno Fernandes, cuja classe merecia muito melhor companhia.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Também tu, Godinho?

No final do jogo de ontem eram várias as perguntas que me ocorriam havia uma que não me saía da cabeça: como é que o Sporting envolto em tantos problemas e à procura da sua identidade ainda desperta o interesse e a vontade em tantos de nos abater? A arbitragem do Godinho fez lembrar a do Malheiro em Setúbal. Entrada a condicionar imediatamente um central, falha na avaliação do lance de Bas Dost com o guarda-redes adversário e, tal como em Setúbal, um VAR mudo e quedo.

Mas talvez o mais sintomático da duplicidade de critérios tenha sido a condescendência perante o insulto de um puto talentoso mas ainda de cueiros. Há coisas que parece que ao invés de mudarem parece que se acentuam e será muita ingenuidade da parte dos órgãos sociais do Sporting pensar que não dizer nada ajudará a alguma coisa. Já sabemos que palavras leva-as o vento e que é preciso mais do que isso para alterar de forma significativa a divisão em duas meias luas que é o futebol português. Mas é cada vez mais claro que o famigerado sistema parece estar a aproveitar a porta aberta pelas declarações de Frederico Varandas no final da Taça da Liga. Depois de ontem e depois de Setúbal ficar calado aparenta consentimento ou desleixo.

Mas o resultado desfavorável tem pelo menos um "mérito" que o alcance de um empate poderia encobrir: o futebol que vem sendo praticado pelo Sporting é uma estrada para o abismo. Neste registo desengane-se que o resultado tangencial dá alguma esperança porque dificilmente viramos o resultado, até porque sofremos sempre um golo. A equipa está sempre mais perto de sofrer do que de marcar. Aliás, se grande parte do jogo de ontem tivesse jogado sem ponta-de-lança ninguém tinha notado. O conceito de jogada colectiva perdeu-se. A equipa está partida, os sectores muito longe uns dos outros e mesmo em cada um deles o distanciamento entre os seus elementos condenam à partida o êxito das respectivas acções. Se a qualidade individual é escassa, desta forma ela parece ainda mais evidente. 

O golão de Bruno Fernandes, que Keizer se encarregou de deixar tarefas de segundo plano, mitigou a realidade constrangedora mas a sequência de resultados não engana: cinco resultados seguidos sem ganhar, mesmo considerando que o empate em dois deles deu o primeiro troféu da época. Mas, neste registo, até parece que foi no século passado. É preciso serenidade? Sim. Mas também reacção. Os próximos três jogos (Feirense, Villareal e Braga) exigem uma resposta diferente do que tem sido dado até aqui.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Meterorito Keizer estatela-se contra Lage

Ser do Sporting é viver permanentemente numa montanha russa de emoções contraditórias. Tão depressa estamos a subir a montanha e, em posição privilegiada, a beneficiar de uma vista magnifica ( conquista da Taça da Liga, Campeãs Europeias de Corta-Mato) como de repente descemos a pique, já com o estômago colado à garganta, despenhando-nos a toda a velocidade (Setúbal, Derby). 

Mas a mais paradigmática das analogias é, neste momento, o próprio Keizer. O treinador que nos ressuscitou em sete jogos seguidos parece estar de pá de coveiro na mão a reabrir o buraco  de onde nos havia tirado. É certo que há jogadores sem nível para jogar no Sporting. Nem é preciso nomeá-los. Mas há alternativas a Gaspar. Se é para errar temos o Thierry Correia, que pode crescer. Gudjeli nunca será um "6" a menos que queiramos apanhar "6" outra vez num jogo qualquer. 

Mas pior que a escassez de recursos que o treinador tem à sua disposição e as escolhas que faz são a sua falta de uma ideia para o nosso futebol. Anarquia total, total incapacidade de agir ou reagir nas mais diversas situações que os momentos do jogo requerem. Um treinador completamente perdido no banco e, sem perceber o que está a suceder no campo, é totalmente incapaz modificar o curso dos acontecimentos. Imagem que acentuou numa conferência a roçar o patético, tal era o afastamento da realidade que demonstrou. Não tenho memória de um dérby tão desequilibrado e onde tenhamos dado uma imagem de total impotência como ontem! 

Não creio, com desgosto  mas com sinceridade, que haja uma segunda vida para Keizer. É cada vez um meteorito que passou por Alvalade de brilho tão intenso como fugaz. Poderá haver recuperação? É o meu desejo, mas que dificilmente teria a sorte de ver concretizado. O que quer dizer que se aproxima mais uma daquelas frentes frias e a possibilidade de o Sporting a convalescer voltar a recair é bem real. Vai ser preciso ainda mais coragem que a que foi necessária para concluir que Peseiro não servia.

Uma pequena nota já em modo de post scriptum que é de inteira justiça pelo que vi in loco, durante os 90 minutos: Bruno Fernandes. Fossem todos como ele!