terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A importância de ser Ernesto ou as eminências pardas no futebol português

Com base num escrito de Oscar Wilde, esteve em tempos em exibição um filme com o título homónimo "A importância de ser Ernesto". Uma comédia de costumes bem urdida que vos convido agora a ler a versão aplicada ao futebol indígena.

Andou o País agitado no final do ano não tanto com as consequências da crise, cuja verdadeira amplitude ainda se ignora, mas mais com a arbitragem de Pedro Henriques. Ainda se ouvem os ecos da gritaria dos homens da Luz pelo pretenso roubo de um golo que lhes daria os 3 pontos, e que, por consequência, lhes garantiria hoje a liderança do campeonato, após o desaire da Trofa.

Depois de muito chinfrim e lamúrias (sim, que apesar dos epítetos de calimeros, os sportinguistas nisto são ainda aprendizes de feiticeiro) ficou-se a saber a nota de Pedro Henriques, uma das mais baixas negativas até hoje. No episódio seguinte veio a revelação que o autor da nota havia sido um observador da Liga, antigo árbitro da A.F.Porto, de seu nome Ernesto Pereira. E, provavelmente as coisas ficariam por aqui. Porque, como sabemos, os observadores dos árbitros são como as notas de 500€: toda a gente sabe que existem, mas ninguém os vê.

O que o "A Norte…" tem sérias dúvidas é se o que esteve por detrás da nota negativa de Pedro Henriques foi o seu pretenso mau desempenho naquele lance final, ou a azia natural de um benfiquista convicto. Até porque este observador nem é conhecido pelo seu rigor à avaliar maus desempenhos. Conhecido pela sua discrição na pele de observador, quando despe o fato Ernesto revela-se um feroz benfiquista, capaz de falar do seu clube com o enlevo que os muçulmanos radicais não falam do Maomé e nutrir idêntica fúria pelos seus adversários. Não se escusa de se gabar entre os amigos que a capa da A.F. Porto tem muitas vezes iludido os árbitros das suas verdadeiras opções clubistas. Ou seja, grande surpresa deve ter tido Pedro Henriques... Pelos vistos na Luz, frente ao Nacional, e perante uma decisão adversa aos seus interesses clubistas, mais não fez do que o famoso Diabo, apertando com igual empenho o pescoço do árbitro, da forma que estava ao seu alcance.

Vivendo sob o signo da suspeição há mais de 3 décadas, o futebol português dispensaria bem estes ernestos de circunstância, bem como o enorme séquito de eminências pardas que se movimentam em seu redor. Se o futebol se deseja credibilizar, deve dotar-se de meios de redundantes de controlo de falhas, sejam elas de ordem técnica, jurídica, resultantes de venalidade ou da simples clubite aguda. A carreira de observador de árbitros é já de si interesse questionável e parece ser justamente um inverso do que se pretende, criando mais um ponto de debilidade. Ainda mais se o seu acesso é permitido a ex-árbitros cuja carreira se saldou por um profundo cinzento e estão agora destinados a avaliar árbitros de 1ª categoria, alguns deles internacionais. Sendo estes sofríveis, são ainda avaliados por gente de nível técnico e experiência inferiores. Este procedimento é tão absurdo como seria se os pedreiros avaliassem os trabalhos de arquitectos ou engenheiros.

O trabalho dos árbitros, criticado muitas vezes e com razão, é pelo menos escrutinado semanalmente pela opinião pública e publicada, sabendo-se inclusive quanto auferem e como estão classificados. Os observadores vivem num limbo que lhes facilita uma actuação sombria e oculta. Tendo como missão classificar os árbitros, decidindo quem sobe e desce de categoria, acabam por servir muitos interesses que não os do futebol, como ficou provado nas escutas do Apito Dourado. Consultando a página de Liga nada se fica a saber além dos nomes dos árbitros e respectivos auxiliares. A quem serve este estado de coisas?

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