segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Farto III

Farto, eu também estou farto, cansado e desiludido. Já não há pachorra nem paciência, muito menos capacidade para entender a apatia colectiva que se vem instalando de alguns anos a esta parte no nosso Clube.

Afinal onde está e o que é a cultura Sporting? Este não é o Sporting que me viu crescer. Este não é o Sporting que aprendi a amar.

Como vou eu transmitir os valores, os princípios, a velha mística leonina à minha filha? Onde estão as referências do Sporting? Onde estão os nossos, que nos defendem e impedem que nos ataquem e enxovalhem consecutivamente?

A verdade é só uma. Andamos 17 épocas sem vencer um campeonato, mas o coração ainda batia e fervilhava. O Sporting ainda respirava, tinha alma. Hoje, pouco parece restar dessa alma. O Sporting está em coma, em coma profundo. Poderá soar a exagero este meu desabafo, mas acreditem que não. Se não acordarmos a tempo, o Sporting morrerá aos poucos.

JEB tem uma tarefa titânica pela frente. Como gestor de créditos firmados, sabe perfeitamente que a empresa que dirige não vive só de razão. Precisa de pão, porque em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. O pão que o Sporting precisa não se resume a euros, mas sim a um suplemento de alma. O pão é a emoção, porque o Sporting precisa de coração como de pão para a boca. Alguém que acorde e reacenda a mística leonina, que desperte a paixão de ver jogar o Sporting, que volte a juntar famílias e amigos para ir ver o Sporting, o Grande Sporting.

Sábado, vi o jogo a 500 km. Num núcleo do interior transmontano. Estava cheio de leões. Nesta altura há muito emigrante em terras transmontanas. A maioria equipada a rigor. Como é bom ver que os que estão mais longe de Alvalade ainda fervilham mais do que nós pelo clube do seu coração. Porém, o sentimento era geral: um enorme desconforto, uma profunda apatia e desilusão que se instalou no reino do leão. Os Sportinguistas estão cansados, tristes, fartos e desiludidos. Sobretudo estão fartos da serenidade, da tranquilidade, da apatia que parece ter assolado Alvalade. Ainda hoje estamos à espera que estas declarações, proferidas após a nossa maior humilhação europeia, que pode bem repetir-se a qualquer momento, produzam qualquer efeito. O que mais será preciso acontecer?

JEB tem um enorme desafio pela frente. O seu mandato pode ficar para sempre condicionado pelas decisões que tomar ou não tomar durante esta época. Perdeu uma excelente oportunidade para restaurar o respeito pelo Sporting quando viu um campeonato de juniores ser ganho à pedrada, como o próprio fez questão de frisar, sem no entanto ter protagonizado outras medidas capazes de mostrarem a indignação e as feridas no nosso orgulho. O Sporting continua a ser deliberada e continuadamente desrespeitado.O Sporting, como clube de massas, que também o é, tem que viver do cocktail razão e coração. Bettencourt, percebeu isso. Os novos onzes de sócios, os treinos em Alvalade, os convites às velhas glórias para assistir aos jogos na tribuna, as iniciativas como a baliza do Damas, entre outras, mostram que o Presidente sabe que há um enorme trabalho a fazer na recuperação do maior património leonino, que são os seus sócios e adeptos e a sua ligação afectiva e forma de viver o Sporting.

Restaurar a cultura Sporting é de facto o maior desafio para JEB. Mas, bem prega Frei Tomás. Que adianta tudo isto, se todas as semanas os Sportinguistas (em Alvalade cada vez menos), nos núcleos, nos cafés, em casa, um pouco por todo o mundo, em vez de assistirem e vibrarem com todo o seu fervor aos jogos do Sporting, iniciam a partida com o coração nas mãos?

Urge acordar, pelo Sporting Clube de Portugal.

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