quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Por um Punhado de Euros

Arsène Wenger vaticinou segunda-feira a criação efectiva de uma Liga Europeia no prazo de dez anos. O seu presságio é apoiado numa simples conclusão, as actuais competições, principalmente os campeonatos nacionais, não vão conseguir criar receitas suficientes para aguentar os níveis actuais de investimento dos clubes de futebol.

Esta possibilidade é há muito tempo discutida entre os principais clubes europeus e vejo como inevitável, mais ano menos ano, que um grupo de tubarões afronte a UEFA com essa realidade. O argumento de Wenger é real e as alterações recentemente introduzidas no acesso dos clubes às competições europeias são uma resposta tímida da UEFA às pretensões dos seus principais angariadores de patrocínios.

Não sei qual é o posicionamento do Sporting perante esta possibilidade, e é algo que me preocupa. Vamos ficar fora deste comboio? Como conseguir garantir um bilhete de acesso?

Há várias formas de se conseguir ser e estar junto da elite, destaco quatro:

1 – Ser Mediático.
2 – Ser Competitivo.
3 – Ser Rico.
4 – Ter História.

Verifico que em qualquer dos pontos o Sporting tem de crescer, e estes próximos dez anos serão decisivos para o nosso posicionamento, analisando do último para o primeiro.

Ter História – É aquele em que o Sporting tem o seu melhor posicionamento, como destacou o treinador do nosso adversário de terça-feira, o Sporting é um clube histórico das competições europeias, também Platini já se referiu a esse nosso trunfo dizendo que o Sporting fazia parte da realeza europeia.

Infelizmente no mundo actual este será o argumento com menor “peso” na escolha final dos clubes que irão compor um futuro campeonato europeu, principalmente porque, aliada às nossas consecutivas presenças tem apenas uma Taça conquistada e uma presença numa final. Mesmo assim estamos em igualdade com a concorrência, nada se pode fazer para abrilhantar mais a história passada, apenas escrever o futuro.

Ser Rico
– Como se costuma dizer, não será suficiente ser rico para garantir a entrada num clube restrito mas vai facilitar muito a tarefa. Neste ponto particular a nossa concorrência é feroz, exemplo, como apresentar melhores argumentos do que um Chelsea que não tem história, nem vitórias europeias, mas que é um actor fundamental do mercado futebolístico actual.

Não vejo que este ponto seja possível de inverter em dez anos e passarmos a ser um actor respeitado do mercado, como diz Wenger o nosso campeonato não gera receitas suficientes para um clube nacional poder ter a riqueza como argumento.

Ser Competitivo – Eis o argumento decisivo onde o Sporting poderá crescer e demonstrar a todos que merece ser grande, tão grande como os maiores da Europa como disse um dia o nosso fundador. Felizmente para nós os orçamentos não ganham jogos, e por outro lado a história também não.

A competitividade é uma atitude, em parte uma forma de ser e de estar, não é genética nem se compra nas lojas, antes cultiva-se, pratica-se, desenvolve-se. O Sporting tem de desenvolver bastante este conceito, neste momento quando olho para nós vejo a imagem de Atlas, um Titã esforçado a carregar o mundo às suas costas, quando a imagem que gostaria de ver era a de um Leão insaciável em busca da vitória.

Podemos trilhar este caminho das mais variadas formas mas há dois pontos que me parecem essenciais, primeiro libertarmo-nos do fardo que carregamos e emagrecer a anafada Sporting SGPS para uma estrutura simples, ágil e agressiva onde se possa trabalhar unicamente para o crescimento do Sporting e nunca para a sua estabilidade.

Mais do que uma boa gestão, o Sporting precisa de uma atitude empresarial, gananciosa e invejosa, onde todos os que trabalham em Alvalade têm permanentemente de querer mais, não admitir dificuldades nem concorrência. Se foram angariados 6.000 novos sócios, é pouco deviam ser 10.000 (ou não há mais 4 mil possíveis de angariar?), foram 10.000 continua a ser pouco e assim sucessivamente até angariar os adeptos de futebol.

O segundo ponto é de uma simplicidade atroz, não aceitar a mínima derrota. Adoptar que não é concebível o Sporting perder, que tal conceito não existe que tudo o que não for vencer está errado e precisa de ser corrigido. Simples, não é? Nas palavras… mas acreditem que resulta, principalmente no desporto.

Ser Mediático – Não vale de nada mas pode ser decisivo! Confuso? Pensem no Beckham, nunca será um jogador fundamental de nenhuma equipa, mas serão poucas as equipas que não gostariam de o ter nos seus quadros só pelo aumento de audiência que isso por si só trás.

O Sporting tem uma posição relativamente confortável neste ponto, a nossa formação é falada em meio mundo, e a génese de dois dos melhores jogadores do mundo ajudou bastante. Mas é preciso mais, daqui a dez anos Ronaldo estará em fim de carreira, não será bom manter um estreito contacto com ele para ambicionar que ele regresse a Alvalade? E Figo ainda tem de dizer muito mais vezes que em Alvalade só tem contacto com o seu lugar de sócio? E Schmeichel não quererá colaborar com o Sporting? Alguém no mundo desportivo não recebe, não abre portas a estes atletas?

Num clube onde a capacidade de investimento é restrita, o espaço que fica para contratações mediáticas é curto, mas tenho dúvidas que não se consiga num curto intervalo de tempo (1 ou 2 anos) apostar decisivamente em investimentos deste tipo. Por exemplo nas posições menos caras do futebol, guarda-redes, laterais, trinco, é possível um investimento controlado como foi Schmeichel. Outro exemplo é o treinador nunca por nunca se deve poupar dinheiro no timoneiro, se os recursos são reduzidos prefiro investir tudo num bom comandante do que em três razoáveis soldados, para isso temos uma Academia de elite.

Claro que para se apostar em ser mediático convêm ter algo para mostrar ou uma mensagem para transmitir, e essa mensagem deve ser simples, agressiva e facilmente repetida.

Algo como… Esforço, Dedicação, Devoção e Glória, eis o Sporting!

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