domingo, 23 de agosto de 2009

Um kolkhoze em Alvalade

Há quem há muito peça a substituição de PB no comando do futebol leonino. Na minha opinião ela já devia ter acontecido pelo menos no final do campeonato passado. O tempo e as soluções do actual treinador esgotaram-se nas goleadas, na falta de qualidade e consistência do futebol e, sobretudo, nos campeonatos perdidos nas primeiras jornadas. Com as taças brilhantemente conquistadas, PB deixou-me ficar a impressão daquele ciclista que ganhará alguns grandes prémios, mas só muito dificilmente conseguirá a Volta a Portugal. Só vejo uma possibilidade para a manutenção de PB: a assumpção, por parte da direcção do Clube, com todas as consequências inerentes, que não é possível fazer melhor.

Confesso que não ficaria surpreendido que muitos Sportinguistas aceitassem esta redifinição de objectivos. Tudo tem sido feito nesse sentido, invocando-se os orçamentos, a inexperiência, juventude e até a falta de categoria do plantel, como escudo ou desculpa para quem tem a missão de dirigir o futebol. Passadas 2 jornadas já voaram 5 pontos ante equipas abaixo do nosso campeonato, seja no lugar que ambicionam, seja na qualidade do seu plantel, seja no valor do seu orçamento. O que terão eles para fazer a diferença? Porque se continua no Edifício Visconde de Alvalade a não querer perceber?

O futebol do Sporting, jogado no campo e o que é preparado nos gabinetes, assemelha-se a um kolkhoze. Tal como este novo tipo de organização agrícola significou um avanço relativamente à estrutura feudal então em vigor na Rússia, a chegada dos actuais responsáveis e da “filosofia Sociedade Anónima” correspondeu a uma melhoria relativamente à estrutura que substituiu. Passado todo este tempo facilmente se constata que, alcançados 2 titulos nacionais e algumas taças, vendido o património e com um passivo que nos estiola, tudo mudou para voltar ao mesmo. O clube está submetido a uma lógica onde o privilégio ao mérito ou critério de exigência se esgota no conhecimento pessoal, à amizade, à procura da solução mais fácil e não da que melhor serviria os nossos interesses. No fundo uma estratégia de sobrevivência que visa eternizar o regime instalado. Por isso se assiste ao rooll-on de nomes na hora das eleições, subindo uns e descendo outros, sem se perceber muito bem porquê. Não importa o que se faz, quanto se produz, quem faz e o quê. Importa apenas manter tudo como está. Fala-se hoje de muitos nomes no Sporting, esquecendo-se o que lhes dá o azeite para a lamparina: o Sporting Clube de Portugal.

Não é de estranhar a situação em que nos encontramos. Aliás, muito forte é um clube que, a tratos de polé, consegue manter o seu estatuto e continuar a lutar. JEB percebeu bem a importância de PB no contexto do eleitoral do clube. Pode agradecer ao seu antecessor a falta de tempo de análise da estrutura do futebol e até de todo o clube, mesmo que para tal me sirva de uma amnésia selectiva, que me varre da memória a constituição dos órgãos sociais do clube dos últimos anos. Mas não pode ficar eternamente na sua cadeira, fazendo de conta que não vê que, pelo menos no futebol, é preciso mudar. Não apenas uma simples chicotada psicológica, mas uma mudança de paradigma. Essa necessidade já vem de longe, mas esta época está exposta de forma crua e dolorosa. A preparação do plantel, da época, as aquisições, as dispensas, a colocação dos ex-júniores, são a evidência de que se pode fazer mais e melhor. Os resultados e exibições são apenas consequências do que não é feito como devia.

Tenho a certeza que JEB escolheu a honra de presidir ao nosso clube consciente de que para chegar às lindas rosas há por vezes que tocar nos espinhos. O pior que podia acontecer ao Sporting hoje era ver-se diluir a esperança de dias melhores, que foi consubstanciada numa votação maciça, por deixar o clube à consignação de quem, de forma reiterada não está à altura do cargo que ocupa. E não é apenas o Paulo Bento, Sr. Presidente! O Sporting, aquele que os Sportinguistas desejam, não pode ficar passivamente à espera que os outros falhem e, sendo incapaz de ganhar, contentar-se apenas com as derrotas alheias.

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