domingo, 13 de dezembro de 2009

After Hours



Nova Iorque fora de horas. Este post, com um título cinéfilo, não pretende transformar um blogue sobre o Sporting noutro tema que, neste momento, seria certamente mais agradável, como, por exemplo, a deliciosa sétima arte. Eu sei que, por vezes, a tentação é grande, mas temos que resistir à famosa sugestão proferida num célebre discurso de Paulo Bento…

Como dizia, o título e o respectivo post, apenas reflectem uma daquelas coincidências que a vida por vezes nos proporciona. Ou que a nossa mente se encarrega de propiciar. Tanto faz. Ontem, após mais um desaire do Sporting em casa - situação que começa a repetir-se com inusitada frequência -, dei comigo resignado e não revoltado como antigamente. Nem o árbitro, o azar, o relvado, a falta de empenho, de inspiração, a falha de golos incríveis, a derrota, a justeza ou a sua inexistência no resultado final, nada disso me perturbou verdadeiramente. Perdemos simplesmente mais um jogo de futebol. Ponto final, parágrafo.

E o parágrafo seguinte, logo após vir aqui ‘ANorte’ debitar a minha réstia de negrume num comentário pretensamente humorístico e deambular sem eira nem beira pela blogosfera completamente desmotivado, foi decidir atirar tudo para o ar, virar costas, ligar a tv e procurar assistir a uma boa sessão de cinema como catarse da minha conformação. Na 2, aos sábados costumam passar uns filmes jeitosos e bem ‘dentro de horas’.

Sintonizei o segundo canal da RTP e eis que me deparei com a possibilidade de rever este célebre filme de Martin Scorsese que, diga-se de passagem, apesar do seu baixo orçamento reabilitou o famoso realizador para o cinema. Reabilitação com baixo orçamento… Ora aqui está um eventual paradoxo, que, no Sporting, parece não querer repetir-se... Mas as coincidências com o Sporting não se ficaram por aqui. A meio do filme, dei comigo a comparar a desgraçada personagem principal, um gajo perdido numa noite escura e de temporal em pleno SoHo, com o nosso clube. Vejamos:

A Paul Hackett (a tal personagem) tudo lhe acontece. Peripécias inimagináveis, mesmo surreais. Entra numa sucessão de acontecimentos negativos em que até quem o pretende ajudar acaba por inadvertidamente prococar-lhe o efeito contrário…

Nesse processo, digno de Kafka, perde o dinheiro, perde (literalmente) a miúda, já que esta se suicida, perde as chaves de casa, é injustamente perseguido por uns vigilantes do bairro, anda (lá está), sem eira nem beira, sem conseguir escapar àquela sinistra espiral e completamente à mercê de um destino que se adivinha cada vez mais trágico, sendo até completamente incapaz de, apenas e só, regressar a casa são e salvo…

Às tantas, deixa de protestar, de lutar contra a adversidade, deixa-se levar pelo interminável infortúnio que, já de manhã, o larga, imundo, calado, derrotado, mesmo à porta do seu local de trabalho…

E pensar que tudo o que Paul Hackett queria era ser feliz e conquistar uma miúda gira.

E este Sporting 'after hours', será, algum dia, novamente, feliz? Encontrará a sua chave de casa e, sequencialmente, do sucesso? E para quando a reconquista de uma miúda realmente gira?...

4 comentários:

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