sábado, 6 de novembro de 2010

"Falta gente com discurso e sangue à Sporting"

Eurico foi dos melhores centrais portugueses que vi jogar. Jogador de capacidades técnicas excepcionais, com uma inteligência natural para ler o jogo, seria hoje seguramente jogador de uns dos maiores clubes europeus, daqueles que, quando querem um jogador, o dinheiro é apenas uma formalidade a cumprir. Hoje o I publica uma entrevista com Eurico, na qual revela a sua faceta de jogador à antiga, dos que preencheram o meu imaginário de menino e as cadernetas de cromos. Irreverente e controverso como sempre esta é a sua visão sobre o clube onde se sagrou campeão por duas vezes:

Dos três grandes, onde preferiu ser campeão nacional?

No Sporting. Tem força clubística. É uma pena que agora já não seja assim. É aquele clube em que os sócios não deixam de ter um sentimento genuíno, muito próprio. E é o que tem ganho menos. Há qualquer coisa ali que devia ser estudado. Tanta grandeza, tanta força e tanta fidelidade. Falta gente com discurso e sangue à Sporting. Ao longo das décadas, o Sporting vai-se afastando dos grandes. É um clube de investimentos. Na minha altura, era um clube de vitórias. O que ainda sobrevive é a paixão dos adeptos pelo Sporting.

Depois dos três grandes, acabou a carreira em Setúbal, com duas épocas (1987-89). Ao lado de Meszaros, Jordão e Manuel Fernandes, seus companheiros no Sporting.

É verdade. Grandes amigos, grandes jogadores.

Há um golo do Jordão que circula aí como um dos mais espectaculares de sempre...

Sabes que estava a marcá-lo nesse dia [30 de Janeiro de 1983]? Eu. Antes de mais, adoro o Jordão. É um ser humano muito, muito, muito sui generis. É coerente e inteligente. Um dos meus melhores amigos do futebol. Cinco ou seis anos antes de acabar a carreira, já estava saturado do futebol. E era um predestinado. E um predestinado nunca se chateia do que gosta, mas o problema é este mundo do futebol. As pessoas e tudo aquilo que anda à volta dele. O que é que ele fez? Abandonou a carreira e orientou a sua vida pelas artes plásticas. É um homem realizado sob o ponto de vista mental.

E o golo?

Às vezes, ainda discuto com ele sobre se ele fez de propósito ou não. É uma bola cruzada, tipo centro-remate e ele antecipa-se ao defesa, que sou eu. Na antecipação, eu espero que ele controle a bola. Em vez disso, ele mete a parte lateral da bota, calcanhar, e atira à baliza do Amaral, que não tinha a mínima hipótese. Foi no topo sul do antigo Alvalade. Um golo de antologia. De museu. Esse jogo acabou 3-3 e ele marcou os três golos. Mas isso não é tudo. Havia gestos técnicos, dribles e golos nos treinos que nos faziam ficar a olhar para ele. Eu fui um privilegiado por trabalhar com ele. De verde e branco [Sporting e V. Setúbal]. E também de encarnado [Benfica e selecção nacional, no Euro-84].

5 comentários:

  1. Acho que estas palavras, ditas pelo único jogador que foi campeão pelos três grandes, deviam ser gravadas em todas as salas onde reunem os nossos dirigentes de modo a nunca se esquecerem o que é o SPORTING!

    Porra Eurico, fiquei emocionado. Muito bem! Não sei é se ao cair na real não ficarei ainda mais deprimido ao ver que estamos tão longe do nosso ideal.

    Mas pronto, vem o aí o Canal Sporting, vamos voltar a ter um pavilhão, a formação continua a dar frutos e a equipa principal vai-se reconstruindo. Talvez voltemos a ter o nosso Sporting de volta. Talvez...

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  2. Grandes palavras do Eurico sobre o Sporting e sobre um dos meus jogadores favoritos de sempre, Jordão de seu nome.

    Para quem, como eu, começou a acompanhar o Sporting no final dos anos 70 e início dos anos 80, é impossível deixar de recordar alguns jogadores dessa época como sendo dos melhores de sempre: Manuel Fernandes, Jordão, Oliveira, Meszaros, Eurico, Gabriel, Inácio, entre outros.

    E depois toda aquela primeira fornada de jogadores formados no Sporting e que foram sem dúvida a primeira grande aposta da nossa formação (Venâncio, Morato, Carlos Xavier, Fernando Mendes, Mário Jorge, Litos).

    Nesses tempos conquistava-se a juventude para ser adepta deste grande clube.

    Hoje, vemos JEB dizer que levar 3 do Gent é coisa normal e que não afecta a moral da equipa...

    E a nossa moral imbecil?????

    SL
    José

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  3. Foi exactamente esta conclusão que cheguei hoje enquanto conduzia a caminho de casa e reflectia sobre o nosso clube..Falta alguém que seja a voz do povo Sportinguista!

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  4. É pá, é preciso tomar cuidado com estas afirmações!..

    Ainda lhe vão chamar de terrorista e de não ser Sportinguista!

    Isto ao mesmo tempo que o nosso PRESIDENTE afirma que levar três do Gent é normal..ora aqui está um discurso à Sporting..

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  5. Quando lemos declarações como estas ficamos a pensar:
    -O que é que aconteceu para que as coisas hoje sejam tão diferentes? De quem é a culpa? O que é que nós simples adeptos podemos fazer para recuperar este Sporting de que fala o Eurico?
    Hoje a frase "Somos diferentes" parece já não ter tanto significado porque uns quantos transformaram o Sporting naquilo que é hoje. De quem é a culpa? Nossa. Sim dos adeptos, mas sobretudo dos sócios do Sporting. Porque foram eles que colocaram lá as pessoas que retiram ao Sporting aquilo que ele tinha de melhor e o transformaram naquilo que é hoje. Cabe agora aos adeptos e sobretudo aos sócios de hoje restituirem ao clube a sua grandeza. Escolhendo as pessoas certas. Tem faltado discernimento nas escolhas. Muitos sócios têm sido ofuscados pelas luzes muito brilhantes mas que depressa se fundem e se apagam.
    Precisamos de gente iluminada à frente do Sporting mas não precisamos mas não de gente que de tanto brilho nos ofusque.
    Se o Sporting somos nós...temos que ser nós a devolver ao clube aquilo que ele perdeu.Aquela força de que fala Eurico.
    Oxalá o consigamos fazer rapidamente.

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