domingo, 14 de novembro de 2010

O bilhar grande e o ecletismo leonino

O Sporting de há um ano para cá rodopiou sobre si mesmo e, após uma volta de 360º, ficou mais pobre. Gastamos como nunca sem produzir resultados. Somos cada vez menos.

O que o Sporting produz hoje em campo é igual ou pior ao que se fazia no pior tempo de Paulo Bento e igualmente irregular ao que se observava com Carvalhal, sem no entanto chegar perto das melhores exibições. Essa irregularidade não está associada à turbulência exterior, uma vez que a contestação é residual, não há “episódios Sá Pinto / Liedson”, Izmailov está afastado do grupo de trabalho e o treinador não dá conferências de imprensa sozinho ou em vãos de escada e o apoio institucional é total.

Donde vem então a irregularidade exibicional do Sporting? Do seu próprio treinador e da sua concepção do que é o futebol. O Sporting actual tem um registo em que se dá mais ou menos bem e quando as coisas lhe começam a correr bem. Canta mas não encanta. Canta pouco e pianinho. Apesar de se contar pelos dedos as jogadas com princípio meio e fim, sempre vai conseguindo, nessas circunstâncias, impor a melhor valia individual dos seus jogadores.

Mas não há equipa que consiga controlar o jogo do princípio ao fim. O Sporting de Paulo Sérgio não sabe respirar. Conhece apenas a correria desenfreada. Mas quando precisa ou o adversário lhe impõe um registo diferente a equipa desorganiza-se e deixa de funcionar como tal. Ontem foi ainda pior. Foi a intervenção do treinador que desligou as luzes, deixando a equipa às escuras, deixando de se ver uns aos outros e o caminho para a baliza adversária. Não é assim que se ultrapassa um mau momento psicológico, antes se cava a desconfiança já instalada pelos resultados e agravada pelas próprias palavras de Paulo Sérgio: ao lembrar publicamente que a equipa precisa de reforços, o treinador diz que não confia nos jogadores que tem. Ficamos sem saber quanto precisamos e gastar para não trocar de papéis de equipa grande com a Académica.

O treinador, os seus equívocos e as suas insuficiências, é o principal factor de instabilidade. Vitórias como as de ontem resumem os ganhos aos 3 pontos que, para as ambições do Sporting, já de pouco servem. Quantos, dos poucos que ainda restam, deixarão de aparecer para ser confrontados com a indigência exibicional e mental a que estamos confinados?

Bettencourt dizia há tempos que teria que ir dar uma volta ao bilhar grande se não obtivesse resultados.  Apesar dos pesares, não é uma modalidade muito praticada pelos presidentes leoninos. Analisando as últimas décadas, apenas Jorge Gonçalves foi obrigado pelos Sportinguistas a conhecer tal modalidade, pelas razões que se conhecem. Bettencourt já terá feito o suficiente para merecer igual distinção, mas os Sportinguistas tornaram-se ecléticos perante a asneira e o dislate, admitindo todos os seus géneros. Mas está na altura de o presidente e Costinha perceberem que pior do que o erro cometido ao contratar a incompetência que a actual equipa técnica representa é persistir no erro de a manter. Está na altura, e já vai tarde, de Paulo Sérgio se dedicar às voltas do bilhar grande.

7 comentários:

  1. Os "subsídios" não estão a chegar a todos?

    http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Sporting/default.aspx?content_id=492560

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  2. Leão de Alvalade,

    Discordo. PS é apenas a face mais visível da incompetência do Sporting. Fazê-lo dar uma volta ao bilhar desacompanhado permitirá que se mantenha a incompetência noutras esferas, algumas das quais aludidas neste post (porque se o Sporting deu uma volta de 360º sobre si, a responsabilidade não será apenas sua).

    Estamos finalmente a entrar na zona perigosa.

    Vimos o que os apoiantes do Costinha, no princípio da temporada, diziam acerca da contratação do Zapater (várias vezes referido como sendo melhor jogador do que o Veloso), ou da cedência do João Moutinho ao FCPorto, entre tantas outras medidas populistas/sanguinárias.

    O problema do Sporting será ainda maior se se trocarem pessoas de vistas curtas por pessoas de vistas turvas. São as ideias das pessoas que fazem a diferença na acção e se todas as ideias que obtêm um mínimo de palco mediático são más, o futuro não pode ser risonho. Resta-nos contribuir para que assim não seja.

    Queriam uma revolução e tiveram-na. Queriam emoção e cá está ela. Esqueceram-se que as emoções são positivas e negativas e o Sporting vive numa depressão praticamente desde que JEB chegou ao clube, tendo transformado essa emoção numa espiral auto-destrutiva. Quem preferia pensar há muito que se tinha alheado desses apelos à emoção.

    Há muitos meses atrás propus um novo projecto para o Sporting. O Sporting precisa de voltar a entrar nas discussões entre sportinguistas como algo em que se projecte o futuro. Dou o exemplo da minha família, em que há sensivelmente um ano o tema se tornou proibido. Já não queremos falar do que só nos traz desconforto.

    Esse é o legado de JEB+Costinha+Revolucionários: um Sporting de futuro incerto. A prisão de JEB a PS tem pelo menos o condão de nos oferecer alguma esperança de um futuro melhor, fora desta espiral negativa. A sua substituição ou manutenção apenas levará à contratação de um pinheiro e da continuação da autodestruição do clube.

    Ainda vamos a tempo.

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  3. PLF:
    Não estaremos assim tão em desacordo. Por alguma razão vou dizendo que

    "Bettencourt já terá feito o suficiente para merecer igual distinção, mas os Sportinguistas tornaram-se eclécticos perante a asneira e o dislate, admitindo todos os seus géneros."

    Também partilho da ideia de que:

    "O Sporting precisa de voltar a entrar nas discussões entre sportinguistas como algo em que se projecte o futuro."

    aliás o que aqui tenho escrito tem ido de encontro a essas ideias.

    No entanto a minha opinião pode pouco contra a vontade a inacção, comodismo e inércia dos restantes consócios.

    Ao menos, para minimizar as perdas, que se desfaça um trio fatal de incompetentes. Vieira não se tornou melhor presidente depois de contratar Jesus e também lá teve e tem o seu Costinha, que é Rui.

    Mas juntou à equação um treinador que percebe alguma coisa de futebol. Bastou-lhes para voltarem a ser campeões.

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  4. Leão de Alvalade,

    no que me parece que discordamos é da utilidade de quebrar o trio. É verdade que ainda não conhecemos quem, alternativamente, possa decidir no topo. Mas o que JEB tem feito leva-nos a crer que não será complicado encontrar alguém que tenha um projecto sólido para o Sporting. O Sporting é grande demais para ser dirigido por estes néscios.

    Tenho também algumas dificuldades em ir buscar inspiração ao Benfica, pois é uma realidade que não conheço e que é também bastante diferente da do Sporting (atente-se, por exemplo, ao facto do Sporting ser tri-campeão de juniores como mero reflexo do potencial que poderia recolher na sua formação). As lógicas do Benfica não são totalmente claras, com a contratação de jogadores em número suspeito e por preços ainda mais suspeitos. Isto apesar de meritoriamente ter sido campeão.

    Digo isto porque, como para a vitória de ontem ou para o campeonato de 2001/2002, só a sustentabilidade das políticas prosseguidas permite atingir vitórias com regularidade.

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  5. Deixo uma cavaca na fogueira. Escrevi aqui e noutros sites do clube que era fã do Mário Patrício. Este fim de semana mostrou que as amadoras mostram ambição, garra mas acima de tudo qualidade. Para mim o director geral tem muito a ver com isso. Pergunto: Não será Mário Patrício um nome a ter em conta para a estrutura do futebol? ou no mínimo alguém do mesmo perfil???

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  6. Tiago,
    Partilho da tua opinião.

    Fomos campeões nacionais de futsal mas mesmo assim não chega, somos Sporting, queremos mais, com melhores jogadores e melhor treinador. Foram-se buscar ainda mais bons jogadores para juntar aos que lá estavam e provavelmente o melhor treinador de futsal da actualidade.

    Investimos fortemente no Andebol nesta temporada com bons jogadores e jovens mas mantínhamos um treinador tenrinho e inexperiente. Com os maus resultados a começarem a aparecer, chegou a hora de substituir o treinador por outro experiente e campeão. Este fim-de-semana fomos á luz dar na boca aos avermelhados.

    Precisamos no futebol de ter bons jogadores mas também um treinador experiente, inteligente e com estofo de campeão. Mas acima de tudo começar por ter alguém que, de cima, saiba comandar as tropas e ter esta visão.

    Precisamos de um Mário Patrício no futebol!!!

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  7. O JEB e o Costinha estão a destruir o futebol do Sporting de uma forma que vai demorar anos a recuperar, os anos necessários a os tricampeões de juniores entrarem no plantel principal. Porque os jogadores da casa que tinham algum valor extra eles despacharam, como fizeram com o Moutinho (claramente não soube gerir a questão e a teoria da maçã podre foi uma forma de encobrir a incapacidade e ingenuidade dos dirigentes), o Veloso (como dizem muito bem, o Zapater é muito fraquinho, comparem o rendimento e a qualidade de passe dele com a do André Santos), e no futuro acontecerá ao Carriço e ao Patrício (são os únicos que eu vejo a dar retorno financeiro a médio prazo). Entretanto vão queimando o Yannick e o Saleiro na incapacidade de os encaixar no modelo do Paulo Sérgio, e vão criando todas as condições para um desfecho desastroso no que diz respeito ao Izmailov.
    Se eu quisesse intencionalmente destruir o futebol do Sporting, dificilmente seria capaz de tanto em tão pouco tempo.

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