domingo, 5 de dezembro de 2010

O caso Maniche: reflexões sobre a estratégia de um plantel*

*in Público, por Carlos Barbosa da Cruz:

1. A generalidade da comunicação social imputou a derrota do SCP contra o V. Guimarães à expulsão do jogador Maniche, que agrediu um adversário, em gesto alegadamente irreflectido.

2. Maniche, não obstante o brilho da sua carreira, foi sempre um jogador instável e temperamental, características que não se têm atenuado com a idade; no Colónia, seu anterior clube, pagou a maior multa de que há memória, por comportamento incorrecto com o público.

3. Já no SCP tinha exteriorizado algum destempero, com o arremesso de uma garrafa de água no final do jogo com o Benfica, o que lhe custou um jogo de suspensão.

4. O que surpreende, portanto, é que alguém ainda se surpreenda com estas instabilidades de um jogador que a Europa não quis e que o SCP resolveu acolher, numa linha de aproveitamento de jogadores em fim de carreira que já com a contratação de Ângulo não tinha dado grandes resultados.

5. Causa assim alguma apreensão ouvir o treinador do SCP dizer que contava com o Maniche para trazer estabilidade e maturidade à equipa, contribuições para que ele claramente não está talhado.

6. Este episódio traz acuidade a uma questão mais vasta e importante que é a de saber qual a estratégia subjacente ao actual plantel da equipa profissional de futebol do SCP.

7. Eu sei que o SCP tem especialistas, conselheiros, entendidos, scouters, olheiros e tutti quanti, que seguramente se pronunciam sobre o movimento de aquisições e dispensas.

8. Simplesmente, essa realidade, por muito respeitável que seja, não preclude as interrogações que as escolhas feitas no actual plantel suscitam.

9. Na reabertura do mercado de 2009, o SCP foi comprar o João Pereira e o Sinama-Pongolle, que não podiam jogar a Liga Europa, na qual o SCP estava empenhado, sendo a única frente em que poderia ainda brilhar; ao ver o SCP a tentar marcar um golo (que valeria a eliminatória) ao Atlético de Madrid em Alvalade, não pude deixar de me lembrar de tamanho paradoxo.

10. Simon Vukcevic foi dispensado do plantel para o Olympiakos de Atenas no final da época passada; recambiado para Lisboa (porquê?), é hoje dos poucos jogadores com perfume que ainda fazem Alvalade sonhar, mas, como critério de escolha, estamos conversados.

11. Adrien, Pereirinha e Wilson Eduardo estão fora alegadamente a rodar, o que, no caso dos dois primeiros, que já jogaram na Champions, é algo paradoxal; face ao que tenho visto, penso que onde eles fazem falta é no SCP.

12. Custa-me a perceber a gestão do dossier Izmailov. Mesmo tratando-se de um jogador difícil, ou com um empresário difícil, não haverá talento no SCP para cativar o jogador e evitar (mais) uma perda anunciada?

13. Continuo a achar que a "maçã podre" João Moutinho é uma história mal contada e tenho seguido com alguma azia o jeito que ele tem feito ao FCP.

14. Visivelmente, Torsiglieri escolheu Alvalade para aprender a jogar futebol; a decisão será boa, mas interrogo-me se o SCP tem de pagar por isso.

15. Nuno André Coelho e Zapater vieram à troca, sendo por definição jogadores que os clubes a quem vendemos jogadores não precisavam e usaram para baixar a factura, ou seja, não terão sido escolhas, mas conveniência, como os factos se têm encarregado de demonstrar.

16. Caneira, Purovic, Stojkovic, Pedro Silva e o próprio Grimmi são de nenhuma utilidade ao plantel, só se fazem sentir no final do mês.

17. A isto há que somar o Liedson e o Pedro Mendes, mais atreitos a paragens por força da idade, o Yannick e o Saleiro, em clara regressão evolutiva, e o Hélder Postiga, que parece só jogar em ano de final de contrato.

18. Não me pronuncio sobre um tal Tales, contratado no último dia do mercado regular, porque nunca tive o prazer de o ver jogar.

19. Claro que há coisas boas, a progressão notável do Daniel Carriço, a estreia do Cédric ou a afirmação do Rui Patrício.

20. Só que - e com muita mágoa o digo - as coisas más são mais do que as coisas boas.

21. A equipa de futebol vem, de forma paulatina mas inexorável, diminuindo o seu valor e enfraquecendo a sua performance; basta olhar para os resultados e para a sua composição.

22. Mais do que profissões de fé de acrisolado sportinguismo e promessas de amanhãs que cantam, importa ter a consciência que, com este plantel, o SCP dificilmente ganhará o que quer que seja.

23. E não acho que seja só por causa do (pouco) dinheiro; não encontro na montagem da equipa do SCP um critério discernível e objectivo, uma estratégia, a equipa continua macia, baixa e leve, vejam-se os golos que o SCP sofre de bola parada e os que não marca da mesma forma.

24. Claro que seria muito mais cómodo ignorar esta situação e continuar a prometer que é para a próxima, que não há mais margem de erro e outros lugares-comuns já estafados, mas, com essa atitude, o clube não vai a lado nenhum.

25. Desejo vivamente que o presidente, a SAD e toda a estrutura consigam dar a volta a esta tão delicada equação. Os sportinguistas, esses, ficar-lhe-iam, de certeza, eternamente gratos. 

Carlos Barbosa da Cruz é ex-dirigente do Sporting

2 comentários:

  1. Perante isto que está à vista de todos os Sportinguistas e que já foi falado aqui muitas vezes, ainda há quem aplauda os incompetentes que anda a aniquilar o Sporting.

    E ainda falta falar aqui de outros, por exemplo da venda do Tonel que tanta falta faz comparativamente a um argentino que custou 3 milhões e que veio mesmo para aprender a jogar à bola.

    Sem falar na amostra de treinador..

    Palhaços incompetentes.

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