quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Será que os Sportinguistas querem mesmo mudar de vida?

Dizer que o momento do Sporting é particularmente difícil e complexo é pleonástico. Todos o sabemos, independente do posicionamento pessoal que tenhamos sobre o que vem sucedendo no clube. A necessidade de mudança também me parece consensual. Já tenho dúvidas que todos tenhamos consciência da urgência dessa necessidade e dos resultados dramáticos que inevitavelmente ameaçarão o estatuto do Sporting como clube grande, porque continua a haver quem, de forma irrealista, o dê como dado tão adquirido como o sol que nasce todos os dias.

Urgente ou não é pelo menos uma base de entendimento a percepção de que temos que alterar processos para podermos aspirar a resultados melhores. Os associados do Sporting serão chamados em breve a pronunciar-se sobre o que querem que o clube seja no futuro bem próximo. Tendo imperado o bom-senso, o clube elegerá novos corpos sociais no dia 26 de Março que, sendo um sábado, permitirá certamente uma afluência em conformidade com a importância do momento e a grandeza do clube. O cenário de cooptação seria uma perda de tempo e um passo em falso.

Mas o cenário de eleições também encerra os seus perigos. Desde logo porque há que considerar a hipótese de ficarem desertas as candidaturas, o que cavaria ainda mais o fosso de indefinição em que vivemos. Mas também aqui temos uma palavra a dizer. Pessoalmente estou convicto que a importância e a gravidade da situação em que mergulhamos também fará soar as campainhas de alarme junto dos que se sentem capazes de oferecer soluções para uma inversão sustentada de rumo.

Neste contexto há erros muito comuns e já praticados em situações semelhantes às que hoje vivemos e que, ao invés de chamar os melhores, afasta-os, deixando campo aberto aos aventureiros e irresponsáveis que, nada tendo a perder, tudo o que vier é ganho. Nunca é demais lembrar a importância do nome Sporting para quem quer tirar partido da exposição mediática: Sousa Cintra, Dias da Cunha; Filipe Soares Franco eram já empresários de referência mas foi a sua associação ao nome Sporting que os tornou conhecidos dos portugueses. Ao contrário do que acontecia antes dessa exposição, Cintra, por exemplo, era já o "rei das águas" mas poucos o conheciam como tal.

Desses erros há pelo menos 3 fáceis de identificar. (i)O primeiro dos quais é a propensão que os Sportinguistas têm para acreditar em candidatos providenciais e em candidatos infalíveis. Alguém que faça todo o trabalho que as suas funções implicam e se possível poupe a maçada aos sócios de ainda terem que escrutinar a sua acção. Muitos dos problemas de que o Sporting hoje enferma não se teriam instalado se, ao invés da cega complacência com tudo o que nos diziam, fossemos vigilantes, exigentes e actuantes. Como temos aprendido a duras penas, esse tipo de candidato não existe, mesmo que a sua vida empresarial ou profissional tenha sido recheada de sucessos. A competência não se transmite de forma genética ou por contágio como a gripe ou a tosse convulsa, bastando frequentar as mesmas salas ou respirar o mesmo ar.

(ii) Além de confiarem cegamente na divina providência os Sportinguistas acreditam nas vagas de fundo para convencer candidatos que o não querem ser. Terá sido assim com Bettencourt, com os resultados que hoje se conhecem e, associado erro identificado no parágrafo anterior, o que se quer fazer agora com João Rocha Jr. Saber-se desejado é um conforto para quem quer avançar mas não dá nem retira o que é essencial para dar o passo decisivo: convicção. Sem ela nenhum candidato se tornará num bom presidente.

(iii) Por fim a facilidade com que se apodam os que pretendem avançar. Abutre é uma das mais simpáticas e useiras classificações. Que, como dizia acima, não afasta os indesejados, antes sim os que, na hora de contabilizar as perdas profissionais, pessoais e familiares que o exercício do(s) cargo(s) nos corpos sociais implicam ainda têm que somar os insultos.

O Sporting não está em condições de afastar os que, entre si, tenham capacidade coragem e vontade de  enfrentar uma empreitada que antes de trazer fama e proveito provocará muitas insónias e cabelos brancos e que implicará sacrifício pessoal, profissional e até familiar.

Gosto de dar o exemplo do Barcelona no que muitas vezes sou acusado de irrealismo. (Os Sportinguistas sempre muito ufanos em proclamar aos 4 ventos o ilustre palmarés do clube, esquecendo-se que na década de 80 ombreávamos em conquistas com os catalães. Pelo meio perdemos a postura pioneira e talvez não seja mau olhar para os que agora melhor fazem.) O clube catalão viveu mais de 20 anos sob a dinastia de Josep Lluis Nuñez (1978-2000) e do seu delfim Juan Gaspart (2000-2003) que se veria obrigado a resignar em favor de Enric Reina. Perante os sinais de abastardamento e declínio os sócios do clube catalão não hesitaram em fazer um corte radical com o passado, escolhendo para presidente um jovem advogado mas desconhecido. E apesar de, sob a sua presidência o Barcelona ter conhecido o período mais profícuo da sua história centenária, perante os rumores de descontrolo financeiro, Joan Laporta seria preterido em favor de Sandro Rosel, que de imediato sujeitou o clube a uma auditoria externa dolorosa mas clarificadora, apesar da polémica interna que suscitou. Neste entretanto o Barcelona continua a ganhar.

Têm a palavra os Sportinguistas. Se queremos mesmo mudar de vida temos que mudar a forma de viver. Repetir os mesmo erros trará apenas os mesmos resultados.

11 comentários:

  1. "Neste entretanto o Barcelona continua a ganhar."

    E tem um passivo gigantesco. Só que eles geram receitas ao contrario de nós.

    Optimo post Leão. Estou muito espectante em relação aos candidatos e os projectos que apresentarão. MAs ficarei desiludido se aparecerem menos de 3 listas.

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  2. Alguma vez os Sportinguistas não quiseram mudar de vida?

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  3. Eu tenho uma proposta a fazer:

    Presidente: Leão de Alvalade
    Director Geral: Hugo Malcato
    Director Futebol: PLF
    Treinador: Lima

    LOL

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  4. LMGM

    Que me lembre, há cerca de ano e meio, 90% não quiseram...

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  5. Excelentíssimo post!

    tenho uma discordância: abutres é a designação certa porque há muitos anos que sugaram tudo no Sporting só falta o cadáver. LOL

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  6. Eu Sportinguista quero mudar de vida. Se não surgirem candidatos, ou existir um "monopólio de consensos" (como tem sido usual) cabe a cada sócio votar em branco, uma vez que não se trata de eleger a direcção menos má, mas uma boa. Por mim e o meu voto não vale assim tanto, votarei apenas num bom projecto, não em pessoas. Mas quando digo bom, digo - coerente e ambicioso. Para querer melhorar é preciso subir a fasquia, e o estado do clube tem mesmo de melhorar.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Os sportinguistas não sei, mas este sportinguista em particular quer 'mudar de vida' e muito...

    Once again: mais importante que o nome que encabeça uma lista, é o seu projecto, são as suas ideias, a equipa que a constitui. Neste ultimo aspecto convém tentar perceber até que ponto apesenta coesão, vontade, motivação e elementos conhecedores dos respectivos 'metiers'...

    Olha-se para a lista de JEB e veja-se a sua (in)acção. Se há coisa pior que JEB é, sem ponta de dúvida, a sua lista que nunca ruge, apenas MIA ('Missing In Action')...

    Gde Abraço!

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  9. adicionem dcfutebolclube.blogspot.com

    nos ja adicionamos o vosso

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  10. Hmmm....estou a ver que aqui ninguem partilha do meu sentido de humor...lol

    Virgilio,

    O projecto é importante, pois claro. Tal como o nome que o segue. Não quero um presidente que apresente um projecto ambicioso para ser campeão e depois me apresente o Luis Campos como treinador.

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