As saudades de Bojinov

Valeri Bojinov chegou ao Sporting cercado de dúvidas sobre a oportunidade da sua contratação. As dúvidas faziam algum sentido, tendo em conta que, associadas as duas lesões gravíssimas relativamente recentes (ruptura de ligamentos em 2007 e do tendão de aquiles no ano seguinte) registava-se a pouca utilização na época anterior no clube proveniente, o Parma. 

As lesões passadas não deveriam constituir grande temor, por não se tratarem de reincidências do mesmo problema (vide caso Izmailov). Se os clubes não contratassem jogadores com histórico de lesões graves o rol de craques no desemprego seria extensíssimo. Mas a pouca utilização é um indicador já mais perturbador e merecedor de atenção e era por aí que as dúvidas faziam sentido. Aproveitaria Bojinov a oportunidade para relançar a sua carreira, ele que era apontado desde muito cedo como um dos jogadores europeus mais promissores da sua geração, que acumula com o titulo de jogador mais jovem a estrear-se no Cálcio, aos 15 anos? Ou estaria o Sporting a contratar um jogador acomodado e à espera de uma reforma antecipada?

Para adensar as dúvidas o jogador chegaria no inicio de época em má condição física, com problemas lombares que atrasaram a sua preparação em cerca de um mês, facto que, associado a um problema idêntico com Luís Aguiar, terá estado na origem da demissão do responsável clínico, Gomes Pereira. Impossibilitado de dar o seu contributo à equipa viu Wolfswinkel e até Rúbio fazerem golos, mostrando-se aos adeptos.

Há poucas semanas o jogador búlgaro foi entrevistado por uma rádio italiana onde confessou as suas saudades de Itália: "Tenho saudades de Itália e é verdade que quando lá estou sinto-me como se estivesse em casa". A frase mereceu algum destaque entre alguma blogosfera e redes sociais sportinguistas, havendo quem se apressasse a carimbá-lo com um enorme "flop" e oferecer guia de marcha ao jogador, ignorando, vá-se lá saber porquê que, na mesma ocasião, o jogador havia afirmado também "como profissional que sou, tenho o dever de cerrar os dentes e dar o máximo pela equipa que actualmente represento." Vá-se lá também saber porquê foram ignoradas declarações idênticas de Elias a uma TV brasileira, onde o jogador brasileiro confessava também naturais saudades de casa e do seu país.

Bojinov jogou ontem pela primeira vez desde que chegou um jogo inteiro pelo Sporting. Mais feliz numas ocasiões que outras, fez uma demonstração de que a sua aquisição não foi nenhum disparate. Mesmo jogando numa posição ingrata e sem ritmo competitivo o jogador procurou sempre ser útil à equipa, quer no último terço no terreno, onde está mais à vontade, quer ao descer para oferecer linhas de passe ao portador da bola. Nada de deslumbrante mas o suficiente para fazer pensar os que se apressam em libelos destruidores que, em regra só contribuem para a instalação de um clima antagónico em torno dos jogadores, prejudicando-os e com isso, e sobretudo o clube que dizem gostar. O que aconteceria se não gostassem. Que a comunicação social o faça isso já não estranho nem me custa.