domingo, 18 de março de 2012

Notas de Manchester, a partir do estádio


A jornada de Manchester ficará para sempre gravada na memória de todos os sportinguistas, que por esse mundo fora sofreram a bom sofrer até aos 95 minutos de jogo. Os felizardos que tiveram a hipótese de viver esta jornada no City of Manchester viveram uma aventura épica, com todos os contornos de um drama intenso com final feliz: orgulho, vingança, sofrimento, alegria e celebração. Esforço, dedicação, devoção e glória na terra dos milionários do futebol.

Os sportinguistas presentes no estádio eram cerca de 1000, vindos de Portugal e de toda a Europa, maioritariamente concentrados no nível 1 do south end do estádio, mas distribuídos também pelo segundo anel desta bancada e pela central, onde se encontravam umas largas dezenas de adeptos vindos de Lisboa no dia do jogo em charters fretados por uma agência de viagens. Ainda que poucos, permitiram a espaços reproduzir no estádio o diálogo entre bancadas que é característico em Alvalade desde a década de 90.

Para o início do jogo estava preparada a abertura de duas faixas gigantes trazidas de Lisboa onde se poderia ler “We don’t sell our club” e “Sporting is ours”. A ideia, surgida nas semanas que antecederam o jogo, era deixar uma mensagem contra o sistema de propriedade do Manchester City, clube que abandonou o modelo associativo para se tornar propriedade de um milionário. As centenas de milhões de libras gastas nos últimos anos não tornaram o Manchester City num grande clube, não lhe trouxeram história e, com a excepção de uma Taça de Inglaterra, não lhe trouxeram títulos. Manchester é ainda a cidade em que um clube foi fundado em 2005 por adeptos do Manchester United descontentes com a aquisição do seu clube pelos Glazer. 7 anos volvidos e três divisões acima, o FC United of Manchester é hoje uma realidade muito interessante que merece ser conhecida, e que já foi objecto de posts aqui no A Norte. No dia a seguir ao jogo reuni com o presidente do Clube e visitei o terreno onde, a partir de Maio de 2012, o seu estádio, com capacidade para 5000 espectadores, será construído de raiz com fundos provenientes dos seus sócios.

Por tudo isto, foi uma pena que as autoridades do Man. City não permitissem a entrada no estádio destas faixas, apesar dos meritórios esforços de Vitor Marcelino, o oficial de ligação dos adeptos (SLO, na sigla inglesa) do Sporting, em funções há poucas semanas. O que entrou no estádio foram dez potes de fumo que criaram uma atmosfera ainda mais efervescente no sector leonino aquando da entrada em campo das equipas. Durante mais de uma hora, os bravos leões de Manchester foram os únicos a fazer-se ouvir no estádio, acompanhando uma primeira parte de luxo dos homens de Sá Pinto. A incredulidade do resultado foi-se esbatendo à medida que a crença na passagem se foi adensando. Dizíamos entre nós que só um início de segunda parte catastrófico nos poderia tirar a concretização do sonho.

A segunda parte, bem… A segunda parte. A segunda parte no estádio não foi diferente da segunda parte das casas dos sportinguistas. Nervosismo, desespero, choro, enfim, um sofrimento horrível que jamais se esquecerá, mas que foi recompensado com um apito final que soou a marcha triunfal. Num misto de alegria esfuziante e alívio, Renato Neto era talvez o mais efusivo nos festejos, batendo com a mão no peito e berrando desalmadamente. Quase toda a equipa se dirigiu para junto dos adeptos, e aí sim, a festa atingiu o clímax. O grande Sporting está aí para quem o quiser conhecer, para quem quiser ver a realidade com olhos de ver.

A derrota de Manchester foi quase tão boa como a derrota de Alkmaar, mas, ao contrário desta última, não nos qualificou directamente para uma final. Mas, se nos apanharem em Bucareste a 9 de Maio, saberemos que uma etapa mítica foi cumprida em Manchester.

Sporting sempre!

10 comentários:

  1. Grande Bruno Martins.
    Aqui de São Paulo muito sofri, mas esse sofrimento foi trasnformado em uma grande alegria ao final da partida. É só pena os lucotores da espn brasil onde vi o jogo, estarem a torcer pelos ingleses, mas por aqui é assim mesmo a maioria é sempre contra as equipas portuguesas.
    Ti amo sempre Sporting.

    ResponderEliminar
  2. Pelos vistos não foi muito diferente ver o jogo na tv portuguesa. Também cá os comentadores estavam contra a equipa portuguesa. O Paulo Garcia bem que gritou golo no último lance da partida, a ver se ajudava a mete-la lá dentro, mas não teve sorte.

    ResponderEliminar
  3. Continuamos sem saber se haverá consequencias das ameaças de Rui Costa ao director da liga

    http://oantilampiao.blogspot.pt/2012/03/o-terror-dos-tuneis-volta-ameacar.html

    Consulte-se então o Regulamento Disciplinar da Liga e ler atentamente o ponto 2 do artigo 52.º, que castiga “os clubes que exerçam violências físicas ou morais sobre delegados da Liga, observadores de árbitros, dirigentes, jogadores, treinadores, secretários ou auxiliares técnicos, médicos, massagistas e delegados ao jogo do Clube adversário (…)”: subtracção de seis pontos na classificação geral e/ou multa de € 25.000 a € 100.000.
    Este ensurdecedor silêncio está explicado.

    ResponderEliminar
  4. Bruno

    Para ti aquele fado do Prof Moniz Pereira:

    "Valeu a pena, vir ao mundo ter nascido..."

    E que continue sempre a valer a pena.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  5. O Bruno foi um dos priveligiados que esteve em Manchester.Nós, os que ficamos do lado de cá, temos de lhe agradecer. A ele e a todos os outros que ali gritaram bem alto o nome do nosso Sporting. Agradecer-lhes por isso e, sobretudo, por terem acreditado. Quantos de nós não ousaram fazer a viagem porque, bem no fundo, tinhamos algum receio de que as "coisas" podiam não correr bem? Afinal era o grande City, que aviara o Porto com 4.
    Por isso, estão de parabéns todos os que foram, todos os que acreditaram.
    Foi absolutamente arrepiante ouvi~los a entoarem o orgulho de ser sportinguistas. Nas nossas casas, no aconchego dos sofás sentimo-nos em comunhão com os bravos de Manchester. Os que estiveram no campo e os que os aplaudiram nas bancadas. Obrigado a todos. Obrigado filho.

    ResponderEliminar
  6. Mais do que apoiar o Sporting fora, a intromissão na vida do clube visitado era de grande educação e fair play! Aquilo das faixas foi uma pena... Há adeptos que nunca deviam sair de casa!

    ResponderEliminar
  7. A mensagem era mesmo para o Sporting, que nem faz Assembleias Gerais de sócios do clube!

    Isto de soluções para o clube fora do clube é um fartote! Estamos quase a passar do clube das facções para o clube das seitas!

    Com a equipa em Barcelos, hoje todos ao Tivoli, solução 2012! Qual detergente para máquinas de lavar! É mais uma oportunidade para mostrarem as faixas!

    Pena os ultimos resultados!

    ResponderEliminar
  8. O José Eduardo deve ter algum acordo com o Tivoli! Não sai de lá! Que mandem alguns clientes para o restaurante! De onde já saía era do estádio!

    ResponderEliminar
  9. Grande Post!

    Adoraria ter ido a Manchester, apenas não fui por ser nesta altura irrealista gastar tanto dinheiro (no mínimo 300€) em 30/40 horas fora do Pais.

    Não fui, mas estive lá…

    Na semana anterior tinha metido a férias fizemos os já habituais 600Km mas desta vez, para receber uma grande alegria do nosso grande Sporting.

    Lembro-me que no carro a razão nos dizia que era quase impossível passar esta eliminatória, mas era a fé que nos levava a Alvalade…

    Foi lindo! Foi um orgulho poder assistir aquela demonstração de carácter, capacidade, entreajuda e determinação. Que orgulho!

    Nos últimos 10 minuto quase não respirava, da mesma maneira que nos últimos minutos da Manchester, estava inerte (já no meu sofá)! No final, que festa… que alegria… que orgulho… e a verdade é que uma vitória destas, afecta-nos no dia-a-dia, nos dias seguintes ando de sorriso nos lábios, como já todos nos conhecem como Leões todos nos vêm cumprimentar e felicitar pela grande postura e por elevarmos bem alto o nome do nosso Pais!

    Ao ler as tuas palavras não consegui deixar de me arrepiar!

    Parabéns Bruno pela tua jornada e obrigado por a teres tornado nossa!

    SL

    DiogoSMaia

    ResponderEliminar
  10. Bruno, como alguém disse, conseguiste ter o privilégio de viver uma gde momento ao vivo com o N/ Gde Amor... Fizeste-me um bocadinho de inveja, confesso ;).

    A cronica está excelente e julgo que transparece o sentimento que mts leões sentiram no Estádio do árabe... Imagino os festejos finais! Uma loucura!

    Qts aos cartazes, não custou tentar, mas acho que eram mais ou menos óbvio que antes de vcs os conseguirem fazer entrar no Estádio, teriam que ver o que tinham escrito... E vendo, tb era mais ou menos óbvio que não os deixariam entrar... Imagino o achaque que o árabe apanharia ao lê-los.. hehehe... Se calhar o melhor é mantermos essa luta por cá sem envolver outros... Os outros que se amanhem! :P

    Parabéns. Abraço.

    ResponderEliminar

Este blogue compromete-se a respeitar as opiniões dos seus leitores.

Para todos os efeitos a responsabilidade dos comentários é de quem os produz.

A existência da caixa de comentários visa dar a oportunidade aos leitores de expressarem as suas opiniões sobre o artigo que lhe está relacionado, bem como a promoção do debate de ideias e não a agressão e confrontação.

Daremos preferência aos comentários que entendermos privilegiarem a opinião própria do que a opinião que os leitores têm sobre a opinião de terceiros aqui emitida. Esta será tolerada desde que respeite o interlocutor.

Insultos, afirmações provocatórias ou ofensivas serão rejeitados liminarmente.

Não serão tolerados comentários com links promocionais ou que não estejam directamente ligados ao post em discussão.