terça-feira, 13 de agosto de 2013

O desfecho do caso Bruma

Começo pelo fim:  já depois de redigido o essencial deste post Cátio Baldé declarou hoje à Antena1 a vontade de chegar a entendimento com o Sporting. Aparentemente são boas noticias mas as aparências iludem. 

Essa vontade só será real se a decisão da CAP, a conhecer nos próximos dias, for favorável ao Sporting. Esta boa vontade não é mais do que o entreabrir de uma porta caso a decisão seja oposta ao pedido efectuado. Se houvesse qualquer negociação esta não faria sentido com o normal decurso do processo.

Não sendo a decisão favorável ao clube, o jogador não voltará a vestir a camisola do Sporting, sendo o seu destino mais do que um rumor já bem nutrido: o outro lado da segunda circular. A ser verdade, será o quarto jogador a ser desviado de Alvalade, sendo que este, pela sua especificidade, e a confirmar-se, assumirá contornos de uma óbvia declaração de guerra que apenas era até agora tácita e táctica.

Dificilmente o desfecho do caso Bruma nos será favorável. Desde logo pela impossibilidade de fazer regredir toda a água que entretanto acabou por correr debaixo das pontes, voltando a colocar o caudal favorável à aproximação entre ambas as margens do rio que separa jogador e clube. Essa aproximação só existirá por conveniência de uma e apenas uma das partes, conveniência que agora excederá a que é normalmente obtida pela satisfação das partes quando celebram um contrato de livre vontade. A parte em causa é o jogador e seus representantes, caso percam a acção na CAP. Isto porque, caso a decisão seja outra, não só encontrarão muitos clubes a oferecer mais do que o Sporting lhe(s) pode pagar, mas também porque olhariam com temor um regresso.

Era preciso que, se Bruma ficasse, tudo corresse mesmo muito bem e as bancadas esquecessem todos os episódios desta triste novela estival. Mas a dura época que nos espera tende a constituir-se num pródigo dealer de flashback´s, em  cada passe mal conseguido ou golo falhado, do que foi a relação do jogador e seus representantes com o clube, logo com os adeptos na bancada. E ninguém sabe o que poderá suceder ao jogador, que ainda teria que negociar com Bruno de Carvalho a renegociação do contrato. Se Labyad foi para a B porque "não se esforça" e "ganha muito"...

É preciso revisitar a história recente para perceber o que concorreu para este desfecho. 

Em Fevereiro deste ano Cátio Baldé dava conta de uma possibilidade de entendimento a curto prazo, ainda na direcção de Godinho Lopes, num processo que se arrastava há algum tempo. Este queria fechar este processo ainda antes das eleições, coisa que hoje sabemos não logrou conseguir.

Quando Bruno de Carvalho chega à presidência deixou bem claro, numa das suas primeiras entrevistas, que algo iria ser diferente na relação com os empresários de futebol. No post que redigi a propósito dessa mesma entrevista já na altura me pareceu esta nova postura uma estratégia de risco, embora estivesse longe de imaginar que a relação com Bruma se iria agudizar ao ponto de se encontrar no plano que hoje é conhecido de todos.

Bruma não é só um dos jogadores mais promissores da sua idade, é também conhecido por se assumir como Sportinguista. Terá sido o conhecimento dessa condição que terá levado Bruno de Carvalho a esticar a corda sem perceber que poderia ser ela a única coisa que lhe ficaria na mão. 

Terá sido o facto de querer como jogador e como Sportinguista continuar de leão ao peito que o terá levado a ceder na exigência de deixar cair a representação de Zahavi. Depois de ter estado incontactável, Bruma dá uma entrevista dando conta de que o final feliz estaria próximo. Então dizia que "o Sporting é o clube do meu coração. O Sporting é o clube que eu amo. Um dia, quem sabe, talvez possa ir para outro clube. Mas o Sporting nunca ficará prejudicado com isso. Se eu sair, será o Sporting a resolver a minha situação e a fazer tudo." A recusa em receber os seus representantes, sem a sua presença, uns dias depois, deitaria tudo a perder. Pelo menos para já.

Creio que Bruno de Carvalho nunca esperou este súbito desenlace, ao que não terá sido alheio a entrada do advogado de Cátio Baldé, Bebiano Gomes. Ao deixar que o assunto lhe saísse da sua área de intervenção directa, Bruno de Carvalho (o Sporting) praticamente perdeu grande parte das hipóteses de ver o jogador de volta. Não só porque o contrato do jogador abre algum campo a algumas dúvidas - e não deixa de ser curioso que em Fevereiro o empresário afirme, na supra aludida entrevista, que o jogador tem mais um ano de ligação ao clube - mas sobretudo porque permite a intervenção de terceiros. 

Ora todos sabemos do nulo poder que o Sporting dispõe nas entidades que regulam o futebol português. Por isso sempre que permitimos que uma decisão saia do relvado de Alvalade ou dos seus gabinetes estamos a abrir a porta de interesses de concorrentes directos contra os nossos. Isto tanto é válido para a Comissão de Arbitragem como para o Conselho de Disciplina ou de Justiça, enxameados por verbos de encher e amanuenses de outras cores que não as nossas.

Os terceiros são, no caso Bruma, nem mais nem menos que a já tão famigerada Comissão Arbitral Paritária. Comissão que é constituída por 3 elementos nomeados pela Liga e outros 3 nomeados pelo Sindicato dos jogadores. Do Sindicato dos Jogadores sabemos mais ou menos o que esperar, é uma entidade criada com o intuito de defender os interesses dos jogadores. Da Liga sabemos que é agora mais vermelha do que nunca, a que não será alheio o facto de o seu presidente ser genro desse enorme benfiquista de ares marítimos, Carlos Pereira.

Por tudo isto creio que a maior parte de Bruma já não nos pertence. Isto é dizer que dificilmente espero uma decisão favorável. E, tal como reconheço acima, uma decisão favorável ao Sporting não significa sequer o desfecho deste caso. 

Claro que perder um jogador que nos poderia ser muito útil no relvado no imediato e no curto/médio prazo na tesouraria me belisca o orgulho. Mas nos passos desta história aqui descrita encontro a semelhança com outros percorridos por caminhos que nos levaram a perder jogadores importantes demasiado cedo e com pouco proveito. Processos a que hoje se deve muito da desconfiança em torno do investimento na formação. 

Olhar apenas para o exterior - jogadores, empresários, comissionistas, etc - à procura de razões que expliquem estes falhanços acaba por ser uma fuga em frente, um estado de negação de uma realidade cada vez mais evidente: o Sporting tem de ser um melhor gestor da sua actividade fundamental: a competição desportiva em todas as suas vertentes. Se, como tudo indica, o desfecho deste caso nos for desfavorável, foi em Alvalade que começamos a perdê-lo.

P.S.: Como complemento deste post recomendo a leitura destes seguintes artigos:

7 comentários:

  1. Mesmo que a razão seja dada ao Sporting (algo inédito, uma vitória na justiça desportiva), Bruma irá fazer uma novela tipo Jardel, com o apoio do Sindicato, alegando falta de condições psicológicas para voltar ao Sporting.
    E, aí, vai buscar o baú e falar das tarjas existentes (no jogo com o Tourizense) de adeptos leoninos contra si, daquilo que se escreve nos blogs e comentários em orgãos jornalísticos, bem como a forma como esta direcção e outros entendidos (Dias Ferreira, Cadete, Eduardo Barroso, Miguel Lopes) escreveram e disseram sobre ele.

    Escrevo o que digo há tempos: esqueçam o Bruma (e, já agora, o Ilori).

    Não se aprendeu com o Passado, mais uma vez.
    E TODOS têm culpa neste cartório.

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  2. Excelentes os artigos em anexo.
    A situação do bruma não tem nada a ver com a do labyad, um ganha umas cem vezes mais que o outro, e não justifica ganhar, eu no lugar do bruma faria exactamente o que ele fez. No entanto espero que a razão esteja do lado do sporting, não pelo presidente, que esteve mal, mas pelo sporting, só!
    Ao freitas não custou fazer o contrato que fez com o labyad, com o boji, oniewu ou bolo arroz ou mesmo pranjic, mas custou dar 40 ou 50 mil ao bruma, actos de gestão, como tantos outros, mas que tem sido sempre lesivos para o sporting.
    Perguntem ao varela, porque foi para o porto, mais um excelente acto de gestão, ou ao Baldé, outro, o que aconteçe em campo não e motivo da sorte ou azar mas na incompetência, como a de quem escolheu o torssiglieri quando tinham ao lado o otamendi.

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  3. Tu Relvas farias o mesmo no lugar de Bruma. Outros jogaram com sacrifico e apenas com a honra de vestir a camisola sem exigir nada ao Clube. Por isso, pode deduzir que o Bruma como atleta não faz falta a Clube e tu Relvas como simpatizante/socio tb não.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. No worries... que o SPORTING É NOSSO (outra vez...)

    Episódio 1: Bruma. Como já disse (há mt tempo) apenas estou curioso para ouvir, ler, ver, as desculpas pelo desperdício de milhões. Mais uma vez repito e constato: o SPORTING É NOSSO e o Sporting é que se lixa com F bem gordo(outra vez). E outra vez devido à incompetência, inflexibilidade, estupidez, arrogância dos seus dirigentes (passados e presentes). Eis, neste episódio o maior exemplo da continuidade que tanto queremos ver arredia de Alvalade...

    Resta uma solução: rezar. Rezar para que o propalado sportinguismo de Bruma produza um MILAGRE de consciência no rapaz, aliado a um espírito competitivo e combativo tão forte que lhe permita lidar com o famoso tribunal de Alvalade... Reze, pois, quem for crente... Muito e muito intensamente.

    Episódio seguinte: Ilori.

    Season finale: Dier.

    Temos aqui um 'Game Of Thrones' e pêras para assistir. Com leões, lobos, dragões, águias e mts outras bestas quadradas à mistura. A próxima temporada está prestes a começar...

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  6. História mal contada a do post inicial.

    Em primeiro lugar, porque as declarações de BdC relativamente aos empresários foram já depois de tentativas de negociações falhadas com Bruma, após este ter pedido valores incomportáveis para a realidade do Sporting. Um Sporting com o mínimo de noção do que pode gastar.

    Depois, quando Bruma faz aquela entrevista ao jornal "A Bola", já tinha faltado a uma reunião com o seu presidente. Supostamente porque "adormeceu".

    Depois de várias tentativas de entendimento que estiveram perto de acontecer e só falharam porque houve sempre exigências de última hora ( o que depois de se falharem reuniões, diz bem da boa fé de uma das partes ), O Sporting recusou-se reunir mais com os representantes sem a presença de Bruma, farto de ser toureado.

    As imprecisões do comentário inicial, porque acontecem sempre na mesma linha, a de colocar sobre a nova direcção responsabilidades em excesso, dizem tudo sobre a postura de quem o escreveu e num caso em que um jogador e seus representantes têm tido, quase desde o inicio, um comportamento de puro gozo com o Sporting.

    Fosse a postura de BdC tão arrogante como aqui se diz, não estaria este tempo todo a tentar negociar com o jogador e todas as intervenções do presidente, logo após aquelas primeiras declarações sobre os milhões que se querem ganhar à conta de um puto de 18 anos com meia dúzia de jogos na primeira equipa, revelam que se quer chegar a um entendimento e que Bruma ainda é visto como um potencial activo do clube.

    Nada de novo, em relação também a outros users deste blog. É uma pena. Olhos fechados a todo um passado de calamidade absoluta e medidas de gestão inenarráveis para se entreterem agora com historietas e novelas, sem grande conhecimento de causa ou reescrevendo, intencionalmente a história.

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  7. Nuno Bispo, obrigado por mais um momento de clarividência e pelo trabalho de descer ao nosso nível para nos iluminar a existência com a verdade absoluta e incontestável.

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