sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Análise do documento de reestruturação da SAD

O Sporting comunicou ontem à CMVM os números que estão por trás da recomposição dos plantéis das suas equipas profissionais de futebol. Melhor do que esse comunicado foi o documento publicado no jornal do clube com informação detalhada sobre a matéria. Esta acção corresponde a uma ideia que sempre aqui defendi relativamente à gestão da informação do clube: ao invés de fornecer informação a terceiros, que nem sempre tratam o clube com devem, o Sporting devia usar os seus próprios meios, como o site e o jornal, para comunicar com os que devem ser sempre considerados o seu público alvo, e que, por isso, deve privilegiar.  Muito bem.

Esta comunicação, algo completamente novo em clubes com a grandeza do nosso, merece-me análise quanto ao método, bem como relativamente à qualidade das medidas tomadas.

Relativamente ao método escolhido ele merece os maiores elogios sobretudo por corresponder, segundo creio, a uma atitude tomada de forma voluntária, e que portanto não resulta de nenhuma obrigação decorrente da sua exposição no mercado de acções. Como é evidente a informação em causa haveria de constar obrigatoriamente em futuras prestações de contas ao mercado, essas sim obrigatórias. Ao fazê-lo desta forma e no imediato, o clube joga uma importante cartada psicológica junto do mais importante e indispensável activo: o seus sócios e adeptos.

Quanto à apreciação das medidas tomadas realçaria o seguinte:

- A necessidade e as obrigações contraídas junto dos bancos que suportam a reestruturação, e o elevado número de casos sobre os quais impediam decisões, funcionaram seguramente como um anel constritor, diminuindo drasticamente o tempo para grandes reflexões. Provavelmente com outro tempo e sem tanta necessidade, outras medidas podiam ter sido tomadas e mesmo algumas das que foram tomadas poderiam ser tomadas de outra forma.

- Houve uma redução drástica nos valores a despender com custos de pessoal. Dos 44,7 milhões de gastos previstos para a próxima época, foram reduzido os custos para 26,7 milhões,  o que equivale a uma economia de 18 milhões. Para aí chegar o Sporting construiu um plantel muito mais barato, livrou-se de 25 jogadores que valiam 21,7 milhões em remunerações, mesmo que para isso se visse obrigado a pagar 1,2 milhões em indemnizações.

- Desconhecem-se  os valores relativos à hipotética poupança com os vencimentos de Bojinov. Uma vez que é muito provável que a decisão de o despedir vá resultar numa disputa judicial, os 21,7 milhões não podem ser considerados definitivos. Situações como as de Labyad e Elias, que o Sporting já assumiu ter rescindido unilateralmente os respectivos contratos de imagem, não são referidas.

- André Santos 70 mil €, Boulahrouz 466 mil €, Danijel Pranjic 333 mil €, Oguchi Onyewu 327 mil € foram os indemnizados. 

- As 25 saídas equivalem a 22,3 milhões € de proveitos, equivalendo simultaneamente a  uma poupança de salários de 8,3 milhões.

- Apenas André Santos e Plange foram cedidos sem contrapartidas financeiras. Atendendo ao valor do jogador e o facto de ainda o termos indemnizado, esta é uma decisão que deixa algumas dúvidas relativamente ao seu acerto.

- Os valores pelos quais foram cedidos Schaars e Árias são baixos, mais ainda se tivermos em linha de conta que o primeiro recuperou a titularidade na selecção do seu país e o segundo tem jogado com alguma regularidade no PSV e é visto como o titular a curto prazo da selecção do seu país.

- Grande parte dos referidos proveitos têm origem nos negócios Bruma (10 milhões€) e Ilori(7,5 milhões €) podendo estes vir a ser acrescidos se alguns objectivos forem cumpridos.

- Foram contratados 13 jogadores para as duas equipas (A e B) o que me parece excessivo face à necessidade de poupança. Nomes como Welder, Magrão, Cissé, Sousa, Sambinha estão longe de ser "cirúrgicos". Falta ainda saber o valor de Piris, Slimani ou Everton.

- O custo zero ou valores muito baixos foram regra. Não foram revelados os valores de intermediação, vulgo comissões.

- Montero já tem "quase pago" o valor do seu empréstimo: 1,135 milhões €, sendo a opção de compra de 1,173 milhões, o que se pode dizer uma verdadeira pechincha, com a "agravante" de podermos ficar com a totalidade do passe. Jefferson e Maurício vão pelo mesmo caminho. Vitor a custo zero foi também um bom negócio.

- O Sporting não divulgou os valores relativos aos empréstimos de Miguel Lopes, Viola, Rúbio, Zezinho, Etock e Renato Neto. Os dois últimos dificilmente regressarão, uma vez que o contrato que ainda os liga ao clube cessa no final da temporada.

- Foram renovados 19 contratos. O tratamento igual de casos diferentes merece ser questionado, sem colocar em causa a importância que a medida tem, como creio, no futuro do clube. Salomão fica com contrato até aos 30 anos, Kikas até aos 27. Muitas dúvidas relativamente ao valor de alguns desses jogadores para se afirmarem no Sporting, mas sobretudo uma dúvida importante relativa à estratégia de ter um plantel inteiro com o qual o clube se compromete quase até ao final da década. Quantos deles subirão à equipa principal ou serão vendidos para assegurar a indispensável rotação dos que, vindo dos júniores, anseiam progredir na carreira?

- Tendo em conta o elevado número de jogadores que mereceram o prolongamento do vínculo ao clube, o meu lamento pela saída de Farley Rosa, sem dúvida um dos melhores da sua geração. Não sei quais foram os fundamentos da decisão, eventualmente a impossibilidade de cobrir a proposta do Sevastopol. Mas não é certamente por acaso que o jogador consta da lista das dez melhores contratações do campeonato ucraniano, juntamente com nomes como Fernando, Bernard ou Dragovic.

8 comentários:

  1. Análise muito certeira LdA. A saída dos tais 25 jogadores com um custo de 21,7M foram fundamentais. Realmente com mais tempo as decisões podiam ter sido mais certeiras.

    Teria ficado com Arias e André Santos, não tinha ido buscar Magrão, Welder, Cissé, Piris, Hugo Sousa. Em relação ao Schaars, sinceramente prefiro o Vitor e deve custar (em salários) 1/4 do primeiro.

    Etock pelo que se ouve gostava mais da noite e não reconheço categoria ao Renato Neto para jogar no Sporting. A renovação do Salomão também me parece excessiva. Farley Rosa não vi jogar...esteve emprestado na época passada?

    Ps- Comprei o jornal Sporting pela 1ª vez ontem e gostei do detalhe da análise à restruturação do futebol leonino! Segundo o jornal o Ruben Semedo assinou até 2018, o que é uma excelente notícia.

    Ps 2- Ler as 2 páginas da Bola com as declarações do Luís Duque é, para mim, revoltante. Um autêntico saco de gatos que teve à frente dos destinos do clube, sem estratégia, sem rumo, completamente à deriva.

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  2. PM,
    o Farley era júnior de último ano e nessa condição bem como na NextG series deu sempre nas vistas. Era claramente um dos melhores deste lote.

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  3. LdA,

    Não duvido da qualidade do Farley, lembro-me do golão que marcou ao Liverpool na NextG, mas também é verdade que nos anos que cá esteve, nunca foi um "titular indiscutível", quer para o Sá Pinto ou para o Abel.

    E face aos número que foram expostos, se calhar resume-se um bocadinho a uma questão de escolhas, até porque o Farley joga nos mesmos terrenos que o Chaby e o João Mário.

    E se o jogador prefere dar sequência à sua carreira no Sevastopol, isso se calhar também diz um bocadinho do rumo que quer.

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  4. PM

    O Arias ao que parece anda a jogar nos reservas do Psv,parece que não convenceu por lá.

    Embora entre Arias e Welder(embora possa estar a ser injusto para o segundo visto que pouco o vi jogar)preferia o Colombiano.
    Contudo o ordenado de Arias para o estatuto que tinha devia ser incompatível com a realidade do clube.
    Quanto ao André santos nada a dizer,pessoalmente denotei alguma falta de esforço e empenho por parte do jogador.Tinha qualidades mas a atitude em campo não era a melhor,é pena.

    No caso das renovações a de Salomão pessoalmente não gostei contudo basta pensar um pouco para a entender.Face na altura as possíveis ou de Capel ou de Bruma era necessário arranjar uma solução para colmatar uma dessas possíveis saídas.

    Tentou se o empréstimo primeiro de Pizzi e depois de Bruno Gama sem sucesso,Salomão acabou por ser uma solução de recurso a muito baixo custo.As margens para atacar o mercado eram baixas,e a maior aposta monetária aparentemente foi feita em Montero(e para já parece ter sido um tiro em cheio)não sobrando muitos recursos para fazer uma grande aposta noutras posições.

    Pessoalmente acho que Salomão não vai ter grande utilização ao longo da época,agora não foi uma renovação desprovida de qualquer sentido.

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  5. FCS,
    O Farley Rosa foi "apenas" o 3º jogador mais utilizado nas competições do escalão dele, atrás do Ruben Semedo e do Ié, e à frente do Meira que é guarda-redes. Para quem não é titular indiscutível não é mau. Acresce que era um miúdo bem referenciado na Academia pela sua postura e a saída só se terá devido à preferência dele em continuar a carreira onde lhe fosse possível e não onde gostaria de continuar.

    Bandeira,
    o seu comentário parece-me pouco contraditório: por um lado não acredita na utilidade do jogador por outro lado não lhe parece desprovido de sentido que se tenha oferecido um contrato até aos 30 anos.

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  6. LdA, é um comentário "ao lado", às contas dos outros, mas é um caso que me parece merecer destaque
    http://atascadocanto.blogspot.fr/2013/09/mangala-defour-e-as-ilegalidades-do-fc.html

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  7. LdA,

    Sinceramente pensei que fosse menos. Dos jogos que acompanhei, especialmente no período do Sá Pinto, era suplente quase sempre utilizado.

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  8. Isto não tem directamente a ver com o posto, mas se alguém quiser ver ou rever a entrevista do Duque na Bola TV, tem aqui a entrevista completa:

    http://www.youtube.com/watch?v=FjQNXfAA8-o

    É absolutamente inacreditável a bandalheira que era a gestão anterior, tanto do clube como da SAD.

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