segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Falar da selecção é falar do Sporting: de Ronaldo a William Carvalho

Apesar de todos os pesares devo ser dos poucos que não deixa de estar atento ao percurso das selecções em qualquer das modalidades. Como o futebol é a que eu venero, a selecção nacional de futebol é a que dedico mais atenção.E falar da selecção é falar do Sporting. Seis dos jogadores convocados fizeram a sua formação no clube que, somados mais dois que ainda há pouco tempo vestiam a nossa camisola, perfazem oito. Talvez mais importante, em termos de projecção do nome do Sporting, seja o facto de Ronaldo, um atleta extraordinário, ter crescido e saído para a ribalta com o selo de qualidade da nossa Academia.

Muitas das discussões sobre os trajectos da selecção nas diversas competições dos últimos anos tem sido feita em torno das qualidades individuais de Ronaldo. Se a selecção perde Ronaldo "é um jogador banal" ou quase, quando ganha ele já é outra vez "o melhor do mundo". Foi mais ou menos esse o rescaldo do jogo de Belfast. Infelizmente nem mesmo um jogador de enormes qualidades como Ronaldo consegue superar a natureza colectiva do jogo, mesmo que, de quando em vez, a disfarce. Infelizmente sobretudo para a nossa selecção, porque poucas vezes tem conseguido beneficiar do facto de ter consigo "o melhor jogador do mundo". 

Para mim a "questão Ronaldo" na selecção nunca foi muito o que é que ele pode fazer por nós, antes sim o que nós podemos fazer por ele. E até agora foi muito pouco. (Algo semelhante podemos observar na selecção argentina onde joga o outro "melhor jogador do mundo". Aqui com um agravante: os resultados têm deixado também a muito a desejar, tendência invertida aqui e acolá, embora a qualidade disponível por Sabella seja muito superior à que Paulo Bento pode desfrutar.)

Os primeiros tempos de PB na selecção pareciam indicar que finalmente estávamos a caminho de descobrir o caminho marítimo para o nosso próprio tiki-taka depois de uma goleada histórica aos seus percursores. Já quase ninguém se lembra disso, talvez nem o próprio Paulo Bento. Os últimos jogos revelam um futebol incaracterístico, que em nada potenciam as características dos nossos jogadores, por isso a sua qualidade tem sido mais reconhecida pelo seu percurso nos clubes que na selecção. Desse modo o fosso que existe entre Ronaldo e os demais parece quase sempre maior, perdendo com isso todos os envolvidos: Ronaldo e os outros.

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Rui Patrício teve um jogo difícil, tendo sempre muitas dificuldades em lidar com os bloqueios a que esteve sujeito nas bolas paradas, num jogo que pôs a nu o aspecto de jogo que precisa de melhorar para dar um salto em frente e fundamental para quem sonha com as melhores ligas: o jogo aéreo.

Adrien e André Martins não saíram do banco. Não que não pudessem oferecer soluções ao jogo da selecção, em particular para assegurar melhor controlo de posse de bola. Mas se, cada vez que ganhávamos a posse, a enviávamos outra vez pelos ares, ainda bem que continuaram sentados.

Muito se falou da não convocação de William Carvalho. Devo ser dos poucos que concordou com Paulo Bento. Não vale a pena queimar etapas, atalhar caminhos na progressão deste jovem promissor. Se dúvidas houvesse, quem presenciou o dérby com atenção pôde constatá-lo. William já tem muito caminho feito mas muito ainda por fazer. A forma notável,  - em particular num miúdo da sua idade num jogo daquela importância - como sai, de forma imperturbável, da pressão dos adversários está muito longe de encontrar paralelo na reacção à perda de bola. Ou na indispensável agressividade e uso do corpo para obstar à livre progressão dos adversários. Em condições normais ninguém pode negar o futuro a William Carvalho, por isso não vale a pena querer antecipá-lo a todo o custo.

3 comentários:

  1. Bom texto.


    Também gostaria de ver da vossa parte uma analise ou comentário a este último R&C.Julgo que é algo que merece ser comentado e do interesse de todos.

    Cumprimentos e SL

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  2. Concordo!

    Já agora, para os muitos sportinguistas que ouço dizer que não têm nenhum interesse na selecção nacional e nos seus mesquinhos jogos de interesses, gostava de deixar claro que a nossa capacidade de potenciar a formação, segurar os melhores e lucrar com o muito talento que formamos, passa sem dúvida pela capacidade que o nosso futebol tenha (em campo, mas também na opinião pública e nos centros de poder) de ir assegurando aos melhores suficiente visibilidade para poderem chegar à selecção nacional (não por favor, mas pela sua qualidade), como recentemente vem acontecendo com André Martins e Adrien Silva, e a curto prazo certamente também com Cédric Soares. William Carvalho, e vários outros, têm tempo de amadurecer para a renovação necessária pós-mundial 2014.

    SL, MTP

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  3. Muito bem esta análise. Para lá do resultado a primeira parte do jogo da selecção foi péssima. Portugal fez um evidente "esforço" para se aproximar do nível- muito baixo - de jogo dos irlandeses. O resultado foi o que se viu. Apenas o desespero e a necessidade de deslocar Ronaldo para o centro do ataque, com a companhia de um ponta-de-lança mais fixo, neste caso Nélson Oliveira, permitiu demolir a resistência dos irlandeses. Concordo com a análise sobre o William Carvalho. As suas limitações e as suas qualidades estão exemplarmente descritas. Tem que melhorar a reacção à perda da bola e aprender a usar o corpo, sem fazer faltas. Está muito bem no lugar e na selecção onde está. Rui Jorge será um bom conselheiro. Quanto a Rui Patrício julgo que aquilo que o separa de ser um guarda-redes de top mundial é exactamente o jogo aéreo. Esta limitação está identificada no clube, tanto quanto sei, desde sempre. Isso levanta uma questão que se pode tornar limitativa de maiores voos: a sua (in)capacidade para melhorar nesse aspecto. Com a sua estatura teria todas as condições para dominar o espaço aéreo mas não é isso que acontece.

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