quinta-feira, 6 de março de 2014

O fim do império azul é, para já, um mito

Há já demasiada gente a apressar-se a declarar o fim do império azul e branco. Uma precipitação que está longe de se sustentar em dados objectivos e que pode vir a trazer algumas surpresas provavelmente desagradáveis. 

O que começou sobretudo por um problema de ordem técnica e de liderança - o trabalho de Paulo Fonseca e os respectivos resultados - juntou-se agora também, de forma inevitável, a questão anímica, de que o recente jogo em Guimarães é o melhor exemplo. Porém parece-me ainda cedo para deitar foguetes. A época em curso está longe de se poder considerar perdida. A nível interno, e face ao actual espectro, o segundo lugar no campeonato e a vitória numa ou ambas as taças ainda em disputa podem constituir alivio bastante rápido dores até agora sentidas, especialmente porque, a acontecer, seriam alcançadas à custa dos rivais. Mas, mesmo que a época em curso não traga melhorias de monta - o que é até bem provável - nada há de definitivo que indique que a próxima época se lhe assemelhe. As razões para este meu raciocínio vêm abaixo explanadas e são o motivo do meu post de hoje.
 
Se olharmos para o plantel agora à disposição do novo treinador, Luís Castro, facilmente se constata que há ainda muito valor individual disponível à espera de melhor enquadramento para subir de rendimento. Isto mesmo considerando que a politica de reforços seguida foi algo atípica, o que equivaleu a um plantel com alguns desequilíbrios evidentes. As mexidas do mercado de Janeiro revelam não apenas necessidades urgentes de tesouraria, com o alívio da folha salarial, mas, atendendo ao que vai comentando nos mentideros, também ao saneamento do balneário, face a tensões que Paulo Fonseca e a estrutura que o devia suportar não conseguiram prevenir ou resolver de forma menos fracturante. Porém, são episódios circunstanciais que não têm que significar um estado permanente, basta para tal resolver os problemas criados pela passagem de Paulo Fonseca.

O poder que estendeu de forma tentacular a todos as organizações da pirâmide onde assenta a organização(?) do futebol português permanece intacto. Esse poder começa nas Associações, nas respectivas comissões de arbitragem, onde se promove e faz marcar passo quem interessa, e estende-se aos restantes órgãos nacionais. Nos tempos mais recentes o FCP tem sido obrigado a disputar ombro a ombro alguns bastiões com o SLB, disputa silenciosa que se estende também a nível nacional e onde o Sporting não tem participado. Poder que assenta também num núcleo de clubes amigos que com ele coopera, a que acresce o número daqueles que, por temerem as consequências de represálias, não fazem mais do que falar baixinho sem se lhe opor. É esse poder que o Sporting decidiu finalmente enfrentar. Se a estratégia é a adequada ou não é ainda cedo para se perceber.

Nas razões do sucesso do FCP há que não esquecer o saber constituído e acumulado ao longo dos últimos anos. O FCP de hoje é muito diferente do de há uma ou duas décadas, por exemplo. O domínio azul e branco não teria conhecido a importância que se regista hoje no número de títulos nacionais e internacionais se, além da movimentação nos bastidores, não tivesse um departamento de futebol competente, provavelmente o melhor dos três grandes. 

Ninguém melhor para explicar a forma de trabalhar do FCP que o actual homem forte do futebol, Antero Henrique (dados retirados e compilados de entrevistas recentes quer a órgãos nacionais quer estrangeiros):

A nossa prioridade é o sucesso desportivo e dentro disto há três factores que entendemos como fundamentais: recrutamento, desenvolvimento e rendimento. O recrutamento articula-se com 'scouting', o desenvolvimento com a formação e o rendimento com a produtividade do jogador na equipa principal. 

Não vamos deixar de ter a melhor equipa para ter a melhor formação. (No que é um remoque bem claro para o Sporting).

Podemos ter equipas com muitos jogadores portugueses. Mas queremos é grandes equipas com grande potencial.

Queremos ser o mais competitivos e ter uma boa formação porque o nosso lema é formar campeões até do ponto de vista cultural e sociológico. Não há campeões sem jogadores robustos e aque não falo em jogadores que correm muito e são pesados. Queremos jogadores com determinadas características para uma equipa de elite.

Organizamos o FCP sob um lema: "um plantel, três equipas" porque queremos uma migração natural entre a equipa A, equipa B e sub-19. O ciclo de treino acaba por ser o mesmo para todos os jogadores do plantel, o que permite planteis mais reduzidos e menor desperdício.  

Não se pode dizer que o discurso seja incoerente com a prática e os resultados falam por si. São as suas consequências práticas que permitem a valorização de activos que proporciona retorno financeiro para a cada ano renovar os investimentos. Um amplo reconhecimento no mercado e relações de preferência com os melhores actores ajudam não apenas a escoar os activos, assim como a conseguir o financiamento necessário. 

Por outro lado, quem conhece e acompanha o fenómeno futebolístico de perto sabe que o nível de acompanhamento dispensado aos seus profissionais de qualquer dos escalões, a jogar na casa mãe ou emprestados, supera em muito o que é prática comum nos outros grandes da capital. Associado ao êxito quase permanente, tal torna o clube como um destino apetecido de muitos profissionais.  

Não podia terminar o post sem abordar aquela que é provavelmente a questão crucial: a liderança. Ninguém é eterno e isso é cada vez mais evidente a cada aparição pública de Pinto da Costa. Mesmo antes que a sua influência directa nos destinos do clube cesse, as suas melhores qualidades sofrerão o inexorável declínio. A sua sucessão será um desafio para toda a entourage que o acompanha e forma como ela ocorrer decidirá o futuro próximo.

Contudo, e embora haja aqui e ali já sinais de aparente declínio, é ainda muito pouco para de decretar o final dos tempos para o clube de Pinto da Costa. Como estes parágrafos tentam demonstrar, há razões de sobra para ter como muito pouco provável que o império que construiu se esboroe e esfume num ápice. O poder de que ainda dispõe - o valor dos seus activos, o poder dos bastidores e o saber constituído - ainda lhe asseguram suficiente poder de fogo em qualquer um desses campos que será imprudente menosprezar.

8 comentários:

  1. Vê-se logo que não percebes puto do que dizes:
    1) quando ganha é por trafulhice
    2) quando está em grande é por trafulhice
    3) quando está em perda tem o conhecimento mas não evita as derrotas (e a perda)
    4) quando está mesmo em baixo acreditam que ainda está em cima

    Vives tão afastado do conhecimento - eu posso só falar se o Sporting ou o Benfica jogam bem ou mal e pelo que vejo, não faço ideia o que são por dentro - que pões uns princípios do Antero que não salvaram do fracasso o seu projecto, pessoal, Visão 611, que não rendeu absolutamente nada, logo esses tópicos do Antero são para boi dormir e "enganar" os "encautos", umas merdas de marketing saloio que parecem dar resultado quando se ganha.

    A verdade é que a crise da falta de capacidade da "estrutura" foi apenas disfarçada com os dois últimos campeonatos in extremis e ganhos à custa do saber do treinador VP, que toda a gente, incluindo muitos portistas, achava ser um meco. Havia quem não acarditasse ser possível o Jasus perder 2 campeonatos, mas sem notarem ser quase impossível, fora as provas a eliminar e onde certas opções dos treinadores são altamente discutíveis, ganhar ao FC Porto (daí 3 campeonatos só com uma derrota e como foi com paixão).

    A "estrutura" é uma treta e desta vez aquilo desabou mesmo, é curioso que os rivais se preocupem se será agora que... não, eles são fortes e aquilo não cai já.

    Se o Sporting não desapareceu do mapa achas que o Porto irá desaparecer? Não, continuará, mesmo sem PdC. O Porto comete erros de amador como qualquer outro! Tem acumulado muitos. A crise poderia ter sido bem mais grave, foi apenas amenizada. Mas é grave mesmo, porém só a morte não tem cura.

    Incurável é a tendência para falarem do que não sabem: se a ganhar pouco sabem valorizar, a perder julgam que a responsabilidade das gaffes é facilmente ultrapassada.

    Eu acredito menos nisso, infelizmente, sei o que a casa gasta e nunca poupo os dirigentes bem remunerados para a porcaria que fazem, por acção e/ou omissão.

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  2. Zé Luís,

    Até posso não perceber puto do que digo, mas prefiro isso do que não se perceber o que digo e contradizer-me em cada linha.

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  3. Concordo. Fazer o funeral ao Porto só por causa de uma época má - sendo que o mau ainda pode incluir umas tacitas... - só pode indicar uma tremenda falta de memória de longo prazo. Épocas más, em que ficam fora da luta pelo título relativamente cedo, não são vulgares lá em cima, mas também acontecem - assim de repente, lembro-me de 2009-10, 2004-5 e 2001-2. O que os distingue não é não terem épocas más (que acontecem a todas as equipas) mas sim serem fortíssimos na reação na época seguinte.

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  4. Não tenho grande conhecimento de causa, mas se o "imperio" ruir será quase de certeza pela via financeira

    O porto tem, como se viu nos últimos resultados, um deficit orçamental muito elevado (muito mais do que o do Sporting)

    Tem conseguido comprar barato e vender (muito) caro, mas este ano, não comprou assim tão barato e jogadores como James, Moutinho, Falcão não aparecem todos os anos

    Neste momento olha-se para a equipado do porto e não se vê grandes possibilidades de encaixes volumosos - talvez, Mangala, Jackson e pouco mais, Curioso que esta semana sai uma noticia que refere que Mourinho está interessado no "prodigio" Iturbe

    Não se perspectivando grandes receitas - o porto fará de tudo para não deixar fugir também a presença na Liga dos Campeões e um eventual 3º lugar não chega, porque o play-off será sempre um embate imprevisível.

    Como quem está em 2º é o Sporting - antevejo muitas dificuldades para o que falta do campeonato, mas tenho alguma confiança porque sei que Leonardo e os jogadores farão de tudo para se superar em campo.

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  5. ... Oh meus amigos, é certo que fcp não vai acabar assim muito facilmente, mas que a coisa vai oscilar um bocado vai!

    ... O que mais me intriga é como os sócios e adeptos do fcporto (que os há inteligentes e sérios) não perguntam à "estrutura" onde pára o guito (um balúrdio de guito) que ela tem realizado na venda de jogadores (negócios fabulosos) ... e aqui está o cerne da questão, quando esse dinheirão se acabar a estrutura vai abanar, cair não cai, mas ficará reduzida ao nível regional, perdendo força nas instituições que o apoiam sejam elas desportivas, políticas, regionais ou nacionais!! E então sim veremos um porto ao mesmo nível dos outros clubes, a ser tratado de igual modo, nem mais nem menos!!

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  6. Vamos lá ver é como será o Porto de Marco Silva no próximo ano.
    Esta ano vao novamente fazer lucrar com transferências milionárias e voltarao a ter a capacidade de contratar 2/3 jogadores que podem voltar a pôr aquele clube a jogar á bola como deve ser.

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  7. A maior barreira dessas todas é o 'caso Banif'.
    É um enorme fosso de água como nos 3000 mts obstáculos

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  8. «Vê se pagas é o que deves!»
    Ontem, segundo a imprensa, o presidente da agremiação corrupta terá soltado em jeito de desabafo e dirigindo-se ao presidente do Vitória de Guimarães:
    "Já estou arrependido de ter emprestado dinheiro ao V. Guimarães. Vê se pagas é o que deves!"

    Será este apenas uma ponta do iceberg da enorme teia montada pela agremiação corrupta que subjuga a grande parte dos clubes das duas ligas profissionais aos seus interesses.

    Na mesma semana em que vimos confirmadas as suspeições à volta da ingerência na utilização ou não de determinados jogadores em jogos frente à agremiação corrupta; vemos também confirmada que essa ingerência vai para além dos jogadores, assumindo também a vertente de empréstimo financeiro.

    Que favores foram pagos com este 'empréstimo' ?
    Que favores esperava a agremiação obter com este 'empréstimo' ?

    http://oantilampiao.blogspot.pt/2014/03/ve-se-pagas-e-o-que-deves.html

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