quinta-feira, 24 de abril de 2014

O comunicado: o que se sabe e o que fica por saber

O Sporting acabou por emitir um comunicado (ler aqui) visando o esclarecimento das acções tomadas pelo Conselho Directivo sobre o jornal do Sporting, tendo como pano de fundo o despedimento do que restava do corpo de redacção da referida publicação.

Ficamos assim, através da sua leitura, a saber que :

1- O processo de despedimento envolveu sete trabalhadores (e não 8, como aqui havia sido reportado, seguindo as fontes disponíveis) e que tal se insere num processo de restruturação e ajustamento da gestão de conteúdos e plataformas de comunicação.

2- As medidas tomadas correspondem a um modelo definido pelo CD visando melhor organização, maior qualidade e rigor na informação institucional. 

3- A gestão de conteúdos e plataformas de comunicação ficam concessionadas à empresa YoungNetwork Group.

4- Os elementos que virão a trabalhar na área actualmente concessionada terão que ser obrigatoriamente sócios do Sporting.

Alguns comentários avulsos ao comunicado:

1- O despedimento tem implicações mais abrangentes, não se circunscreve apenas ao Jornal do Sporting.

2- O actual comunicado podia muito bem ter sido prévio à divulgação da noticia pelos órgãos de comunicação social, tendo em conta que a elaboração do seu conteúdo não estava pendente de nenhum dado estratégico que não pudesse ter sido divulgado anteriormente. Não é muito importante, é uma questão de forma, mas que evitaria muita da especulação que surgiu sobre o tema.

3- É abordada a existência de um modelo mas cujos contornos não se conhecem e que, valha a verdade, não precisam de ser detalhadamente divulgados. Mas trazer ao conhecimento geral de sócios e adeptos da estrutura que se pretende para esta área - Comunicação e Marketing - ajudaria não só a perceber melhor o que se pretende fazer e o que vai mudar. Por exemplo:

- O Jornal do Sporting, qual é a sua viabilidade? 

- Qual é a sua importância para a relação com adeptos e sócios, nomeadamente com os de faixa etária mais elevada, que são assinantes há décadas e não usam nem usarão as plataformas mais modernas como as digitais?

- O site do clube vai ser remodelado quer no layout quer na variedade de conteúdos, mas sobretudo no que diz à qualidade da informação produzida?

4- Fica-se a saber da concessão dos serviços mas nada é dito sobre o tempo de concessão. Mais importante do que isso é não se perceber qual o(s) critério(s) que presidiu à decisão:

Porquê a YoungNetwork Group? 

Que experiência tem a referida empresa na gestão de conteúdos e de plataformas de comunicação? 

Porque não foi feita uma consulta de mercado?

Ao despedimento dos funcionários e à sua contratação corresponderá não só a esperada melhoria dos serviços prestados, mas também à economia de recursos financeiros? Eles são quantificáveis?

5- A questão de serem apenas elegíveis sócios do Sporting a trabalhar nesta área levanta-me ainda mais dúvidas, algumas delas preocupantes: 

- Como é que a referida empresa chega o conhecimento e como recrutará esses elementos? 

- É-lhes cedida uma lista de sócios elegíveis pelo CD? 

- Aceitam-se candidaturas espontâneas? 

- O facto de ser sócio do Sporting é maior garantia do que ser um bom profissional de comunicação? 

- Se a referida empresa vai cobrar os serviços ao Sporting, se vai ter que pagar aos colaboradores de que necessitará e ainda terá lucro, não seria menos oneroso para o clube assegurar os serviços pelos seus próprios meios, recorrendo na mesma aos préstimos dos associados, muitos deles disposto a fazê-lo pro bono?

6- Esta mudança tem pelo menos um mérito: deixará de ser possível o tradicional "desculpismo". O clube tem agora, como cliente, a capacidade de exigir a qualidade dos serviços que lhe prestam. Parece-me contudo que os problemas de que a área da comunicação enfermavam, poderiam ser dos recursos humanos à disposição, mas passavam também muito pela coordenação e gestão que, ao longo dos anos tem sido deficiente, isto para ser económico e simpático.

7- Convenhamos que muitas destas questões nem são assim tão importantes. Mais importante me parece:
 
- A forma como o CD tomou as decisões, sem se preocupar por exemplo com a transparência das medidas agora tomadas. As intenções podem ser as melhores, o critério adoptado afunila a margem de actuação de quem as toma: os resultados têm também que ser também os melhores sob pena de serem questionadas as decisões e quem as tomou.

- A avaliar pelas reacções gerais o estado do clube balança entre o total alheamento, o deferimento tácito, ou pelo aplauso e aclamação, sem qualquer análise ou raciocínio critico. Sabemos por experiência própria o resultado a que isso pode conduzir.

8 comentários:

  1. vai ver quem é que fez a comunicação da campanha do Bruno

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  2. Falta aí fazer uma pergunta: quem é a empresa e que relações e interesses têm alguns dos elementos do Conselho Directivo com essa empresa?

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  3. A YoungNetwork já desempenhava funções de assessoria de imprensa e comunicação criativa (a cargo da CarmenYoung, do grupo) ao Sporting. Veja-se os anúncios da Gamebox e do 12.º jogador (muito bem conseguidos, na minha opinião).

    O que parece estar na base desta decisão é potenciar sinergias entre quem já faz parte da Comunicação do SCP e - diga-se - estamos a falar de uma das maiores e melhores agências de comunicação de Portugal, com carácter internacional (está presente em Angola, Dubai, etc).

    Fez a campanha do então candidato a Presidente BdC, começou a trabalhar com o SCP há já bastante tempo, pelo que a suspeição levantada em vários fóruns parece ser preguiçosa.

    Parece-me que há vantagens em concentrar a comunicação numa só entidade, escrutinada pela Direcção, para evitar dispersão de informação, custos e de estratégias.

    Se (i) os custos forem reduzidos face à solução anterior e (ii) o SCP não pagar acima do valor de mercado, não vejo onde possa questionar-se esta decisão ou falar em tachos.

    Depois, é normal que os colaboradores sejam do SCP e é perfeitamente natural que a YN tenha vários colaboradores do Sporting. Difícil missão seria se fosse fazer o jornal do FCP ou do Belenenses...

    SL

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  4. Jorge vicente (ex-jornal SCP)24 de abril de 2014 às 14:32

    É uma tristeza constatar que o nosso grande Amor também actua com base nos amiguinhos... essa empresa é nada mais nada menos do que um grupo de amiguinhos de BdC, e dizerem que só os sócios do Sporting lá trabalharão é atirar areia para os olhos dos sportinguistas, pois muita gente que trabalha na YoungNetwork é adepta de outras cores. Muita gente mesmo!
    Agora a questão que coloco é esta: se não temos capital para manter um jornal do Clube, como será possível termos um canal de televisão?

    PS.- o ulitmo parágrafo do ponto 7 do texto está sublime. Que pena tanta gente enterrar a cabeça na areia e dizer que sim a tudo que vai sendo feito...

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  5. 1º anónimo
    Essa informação é mais do que conhecida, foi aliás abordada num post anterior em 2 dias a este.

    JPM
    Se souber a resposta às questões que coloca agradeço, de outra forma, se é mero levantar de suspeitas sem nada que o sustente não é comportamento por aqui muito apreciado e sobretudo presta um mau serviço ao clube.

    2º anónimo,
    Não tenho a YoungNetworks como referência das melhores na sua área, outras há que a precedem. Depois Angola e Dubai estão longe também de ser países referência. Isso não afirma ou infirma a qualidade do trabalho que desenvolve.

    Quando diz que a YoungNetworks começou a trabalhar "há muito tempo" refere-se com certeza de há 1 ano para cá. Considera a qualificação adequada?

    Sobre a questão do escrutínio remete-o(a) para o meu ponto 6: se esse escrutínio não era feito ou era mal feito (o anterior número, à semelhança de outros, vinha cheio de gralhas, algumas delas na 1ª página!) anteriormente e as pessoas coabitavam no mesmo edifício, como é que agora vai passar a ser melhor?

    Para a operação "valer a pena" não se pode ficar apenas pela redução de custos e pelo valor da factura, tem de haver acréscimo de qualidade no que é oferecido.

    Sobre a questão dos tachos ela seria melhor percepcionada pelos sócios e adeptos se por exemplo as relações CD/empresa fossem mais transparentes e a escolha não tenha a aparência da conveniência por estar ali à mão mas pela qualidade do trabalho desenvolvido.

    Ajudaria também a perceber o que se persegue com a ideia de os colaboradores da empresa que venham a interagir com o Sporting sejam obrigatoriamente sócios do Sporting. Devo confessar que acho muito pouco provável ou um notável processo de selecção de recursos humanos que nas várias áreas que serão chamadas a intervir haja pelo menos um Sportinguista e esse seja o mais habilitado para o exercício da função.

    SL

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  6. Tanta conversa por conversa....

    A young network é mesmo boa.
    Não é job 4 the Boys.

    Pesquisar um pouco antes de criticar.

    E não há nada de errado em manter ou aprofundar relações com alguém da tua confiança.

    Queriam o quê? Um concurso público?

    E já agora, a direcção tem de fazer um escrutínio aos sócios para cada decisão que toma?
    Querem também serem informados e decidirem nas possíveis contratações que o clube vai avançar?

    O que acabei de dizer não invalida mantermos um olhar atento e crítico.
    Nem tudo o que esta direcção fará será 100% isento ou idóneo.
    O SCP é dos sportinguistas, não do Bruno e sus muchachos, por isso é importante estar atento.

    Mas, nesta situação, é um não caso.

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  7. Sinceramente acabem com o jornal e tragam de voltas aquelas revistinhas que havia antes dos jogos no antigo estádio. Nem me importava de pagar 1 euro por cada. Lembro me que era miudo e fazia colecçao. Era bom porque além de dizer as equipas de cada jogo ainda tinha algumas entrevistas.

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  8. O artigo está muito bem escrito e as questões colocadas não deixam de ser pertinentes. Alguns comentários tocam naquilo que se pode tornar uma ferida; esperamos que se tal acontecer não se torne infecciosa. O JPM tem razão no comentário que faz. Por outro lado, um despedimento colectivo tem o seu significado político, quer queiramos quer não. Cada um entenda-o como quiser. Em tempo de vacas magras...
    Quem elaborou o comunicado sabia que esta questão iria levantar polémica, que o artigo aqui presente bem evidência. Então tenta adoçar os sócios com a exigência de serem sportinguistas e sócios a fazerem o trabalho no futuro. Populismo bacoco. Que sejam bons profissionais acima de tudo; se forem sportinguistas tanto melhor; se não forem sócios do clube terão de o ser, pelo menos enquanto desempenharem a tarefa para a qual foram contratados.
    Não nos podemos esquecer que foram Sportinguistas e Sócios de longa data que levaram o clube à situação que o B.C. o encontrou.
    Para reflectir toda esta situação e manter os Sportinguistas vigilantes.
    Por enquanto o B.C. ainda me merece confiança. Mas a tal linguagem popularucha para cativar o sócio e o adepto que só quer ouvir aquele tipo de conversa, a mim coloca-me à defesa.
    Parabéns ao autor do artigo.

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