segunda-feira, 5 de maio de 2014

Finalmente as contratações cirúrgicas I - Avaliação retrospectiva

Introdução:
Finalmente as contratações cirúrgicas. Finalmente porque o post sobre o tema já foi prometido diversas vezes e porque, estando escrito e reescrito já várias vezes, corre o risco de ir parar ao caixote do lixo sem ver a luz do dia. A demora não foi intencional, mas talvez o post se torne mais oportuno, uma vez que falta apenas um jogo para se encerrar a época e as últimas exibições deixam muitas interrogações sobre o quão profunda têm de ser as cirurgias entretanto anunciadas.

Uma vez que o post se tornou demasiado extenso, vi-me obrigado a dividi-lo em 2. O presente é uma avaliação retrospectiva. Fica o próximo para breve avaliação por sectores ao plantel que termina a época, complementada com a análise prospectiva do que pode ser a sua reconstituição face aos novos desafios para a época 2014/15.

Enquadramento
O que são contratações cirúrgicas? A expressão é curiosa uma vez que uma cirurgia tanto pode ser uma delicada microcirurgia vascular intracraniana como uma amputação a envolver o indispensável mas prosaico serrote. O que umas e outras e as demais cirurgias têm em comum é que todas exigem conhecimento muito especifico, que requer formação especializada e regular ao longo do exercício da função. Julgo que deve ser o paralelismo que se pretende fazer com o uso da expressão. Diagnosticar as falhas e supri-las usando de conhecimento e experiência acumulados. 

Ao dar conta pública de que o Sporting iria fazer "mexidas cirúrgicas" Bruno de Carvalho reclama para si e a equipa que o acompanha nas decisões essa aptidão e o que a generalidade da opinião pública percepciona é que haverá poucas mudanças no actual plantel. Isto é, no balanço das entradas e saídas, os movimentos serão reduzidos e os estritamente necessários.

A pergunta, inevitável, surge: o Sporting detém, no seu seio, esse conhecimento para o reclamar? Dos 3 elementos do núcleo duro (Bruno de Carvalho, Inácio e Virgílio) apenas Inácio possui experiência, Bruno de Carvalho e Virgílio não. A experiência é porém, para mim pelo menos, um factor hiper-valorizado. Mais importante, naqueles lugares, são a percepção do que é o jogo, quais são as necessidades para implementar um modelo que sirva as ambições do clube, e os processos que levam às de tomadas de decisão e estas propriamente ditas.

Análise Retrospectiva
São os resultados o principal factor de avaliação de que a generalidade da opinião pública se serve para apreciar o trabalho quer dos treinadores, quer dos dirigentes. E é em função dos resultados alcançados que agora se avalia o trabalho feito pela SAD (Bruno de Carvalho, Inácio e Virgílio) porque são eles os responsáveis pelas decisões de contratar e vender. E, uma vez que os resultados excederam as expectativas, a avaliação generalizada é muito positiva, quer no interior do clube, quer mesmo pela generalidade da critica e mesmo dos adversários.

A decisão estruturante da época foi a chamada de Jardim. Isto não é dizer que só esta decisão nos conduziria aos resultados alcançados, ou mesmo que estes não podiam ser melhores, porque isso seria mera especulação sem qualquer sustentabilidade. É reconhecer o papel fundamental do técnico e, por via disso, quem foi responsável pela decisão. Uma decisão feliz e corajosa, se atendermos, pelo menos eu assim o entendia, que Jesualdo tinha qualidades importantes para aquele momento em que o Sporting se encontrava.

Quanto a incorporações de novos jogadores, atente-se ao quadro das contratações realizadas na preparação da época que ainda decorre:

Maurício, Jefferson, Piris, Shikabala, Magrão, Héldon, Slimani, Welder, Vitor, Montero, Cissé. 

Numa avaliação rápida do que foram as respectivas participações individuais na época do clube facilmente se constata que a percentagem de acerto é de 50%: Maurício, Jefferson, Piris, Slimani e Montero do lado bom, Cissé Shikabala, Magrão, Héldon e Wélder do lado dos falhanços. Shikabala, Magrão (diz-se que vai ficar) e Héldon têm ainda a possibilidade de, no próximo ano, desfazer a impressão negativa. A fazer a ponte, numa posição neutra, fica Vítor, que demonstrou potencial mas teve poucas oportunidades. Cissé e Welder têm que, passe o exagero, renascer para se apresentarem a um nível incomparável superior e assim poderem ser olhados como opção.

A ordem de chegada dos jogadores é importante. Maurício, Welder, Jefferson e Montero foram os primeiros a chegar. Piris, Vitor e Slimani chegam depois. Isto porque certamente por se percebeu que Welder, Cissé e mesmo Magrão não estavam à altura do que deles era esperado. Provavelmente também porque às saídas de Bruma e Ilori correspondeu uma maior disponibilidade financeira e porque entretanto se foram registando saídas que aliviaram a folha salarial.

Ainda no âmbito desta retrospectiva assinale-se o sucesso na decisões de reintegração de William de Carvalho, indiscutivelmente a revelação da época a nível nacional, bem como de Wilson Eduardo.

Mais importante do que a contabilização de más decisões serve esta constatação para atestar como é falível e contingente a actividade de contratar jogadores. O sucesso depende de imensas variáveis e nem todas passíveis de serem controladas por quem decide. Serve também para que se perceba que a promessa de contratações cirúrgicas per si não assegura o seu acerto.


Do lado das dispensas saliência para o elevado número de situações resolvidas. Neste capitulo porém, não deixo passar uma certa retórica, que me pareceu estratégica, de desvalorizar e até diabolizar os jogadores cuja situação acabou por se tornar problemática, como Jeffren, Elias e Labyad. Essa estratégia rendeu pelo menos dividendos internos. Mas, a menos que me demonstrem o contrário, não me pareceu uma decisão feliz. Mal comparado é o mesmo que um comerciante desvalorizar os seus próprios produtos e, pior, retirá-los de exposição e ainda assim querer receber pelo menos o valor gasto. Não discuto as respectivas decisões de prescindir dos serviços de Jeffren, Elias e Labyad, mas sim o método.

Não deixo também de dizer também que o marroquino contratado ao PSV, pese a necessidade de complementar a sua formação e colmatar as lacunas evidentes, podia muito bem ter sido o 10 que Martins nunca será. Capacidade física, técnica, potencial, disponibilidade competitiva e intensidade tinha-os, faltou-lhe o que acima foi dito sobre a sua formação, mais a possibilidade de crescer num ambiente favorável, o que não sucedeu no tempo que esteve por cá.

Falta, para terminar este capitulo, a aposta na formação, isto apenas no que diz respeito à equipa principal. Este é um capítulo que me sugere reacções ambivalentes. É indiscutível para quem olha no plantel que são os jogadores da casa que constituem a coluna vertebral do plantel e que a extraordinária época de William e o aparecimento de Carlos Mané perspectivam continuidade. A minha dúvida é se, num ano como o que agora está prestes a terminar, apostas em Maurício e sobretudo em Magrão, não podiam ter sido feitas em Dier e João Mário, respectivamente. Ou saber o que veio fazer Héldon que Mané ou Eduardo não fizessem. Dier é o mais difícil de todos de sustentar pela época realizada por Mauricio. Magrão é mais fácil e torna-se ainda mais evidente em cada aparição. O mesmo se pode dizer relativamente a Cissé versus Betinho. As oportunidades concedidas ao guineense no inicio de época e depois na B são no mínimo questionáveis.

10 comentários:

  1. um reparo LdA: o Labyad foi contratado ao PSV e não ao Feyenord

    SL

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  2. LdA, haverá também que ter em conta, que estas contratações todas juntas não devem ter custado metade do que custou um Reyes por exemplo.
    Ter alguma liquidez, o que não era o caso na altura, terá complicado e muito a tarefa. E acho que isso terias que ter em conta nesta análise.

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  3. J.
    Concordo. Isso foi tido em conta porém acabou por ficar na 2ª parte, quando dividi o post. Mas estará lá porque obviamente é um factor determinante.

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  4. LdA, apenas não concordo com a inclusão de Shikabala no lado dos falhanços (o egípcio ainda nunca foi utilizado na equipa principal, portanto considero prematuro fazer avaliações). Penso mesmo que a sua não utilização se deve precisamente ao facto de Jardim e a direção não quererem que ele o seja, gerindo a sua integração apenas com vista à próxima época. Temos de ver que foi um jogador que esteve numa situação diferente nas últimas 2 épocas.
    Com o resto, estou globalmente de acordo.

    http://grandeartistaegoleador.blogs.sapo.pt/

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  5. Eu acho que uma análise retrospectiva terá sempre que passar pelo que era o Sporting naquela altura. Concordo com o post ainda assim, mas fica a faltar uma introdução do momento em que se planeava a época desportiva.
    A rábula com Jesualdo, as negociações com a banca, o peso salarial do excedente desportivo (Onweyu, Bouhlarouz, Pranjic, Bojinov, Jeffren, Labyad,Viola...), os casos Bruma/Ilori, a pré-época cheia de incógnitas com jogos em parques publicos no Canadá e Torneios do Guadiana, etc.....
    Tudo isto junto obviamente que fez com que fosse praticamente impossivel, planear, programar e......acertar.

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  6. João Torres,

    Estou muito à vontade com as discordâncias. No entanto julgo que o texto é claro, mas explico o que quero dizer com a minha avaliação:

    Não posso considerar um acerto uma contratação de um jogador que chega e está 6 meses sem jogar. No que a esta época diz respeito isso parece-me indiscutível. Isso não quer dizer que não possa refazer a impressão deixada, daí ter dito que

    "Shikabala, Magrão (diz-se que vai ficar) e Héldon têm ainda a possibilidade de, no próximo ano, desfazer a impressão negativa".

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  7. J.

    O tema do post eram as contratações cirúrgicas. Sobre o contexto em que elas ocorreram já expliquei o que dizia respeito às condicionantes financeiras. As questões relativas ás negociações dom Jesualdo, as dispensas de jogadores (foi abordado o tema), os casos Bruma/Ilori, as incógnitas da pré-época decorrem de opções tomadas direcção que não tinham necessariamente de ter sido exactamente essas.

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  8. Eu acho que estamos a discutir num tema em que basicamente concordamos. Algo muito tipico na blogesfera.:-)
    Simplificando a coisa, quem programou esta época no periodo Julho-fim de Agosto, teria que reforçar a equipa sabendo que tinha um orçamento máximo de 25 milhoes, 0 flexibilidade orçamental e uma equipa que na época anterior tinha custado 40 sem qualquer tipo de valorizacao. Lá está, ter que eliminar primeiro com o refugo para ter alguma folga nas contratacoes. Não tendo qualquer garantia que isso possa acontecer numa determinada data.

    Estou em querer que jogadores como Vitor, Welder, Magrão, Piris, etc só vieram para o Sporting pq obviamente alg lhes reconhecia alg valor, mas especialmente pq seriam muito baratos para o clube.

    E tudo isto será um pouco diferente este ano.
    E por isso mesmo, estou com alguma curiosidade em saber como será o nosso mercado de verão para a prox epoca.
    Com alguma folga, e nao estando tao apertado como no ano passado, será q a capacidade de trazer Montero, Mauricio, Slimani ou Jefferson poderá ser exponenciada?

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  9. Cerca de 50% de acerto em 8 ou 9 contratações a baixo custo - é na minha opinião um bom resultado

    No fim das contas gastamos cerca de 4M ou 5M e mesmo descartando alguns jogadores, temos por exemplo Montero, Slimani Mauricio e Jefferson que valem muito mais que esse valor

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