quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"Quando o vi, percebi que íamos ser campeões"

Fui um dos muitos privilegiados que teve oportunidade de ver Peter Schmeichel jogar de leão ao peito. Lembro-me perfeitamente de, numa qualquer manhã de Junho de 1999 ler "a primeira" de "A Bola", e pensar tratar-se de uma brincadeira. Lembro-me ainda da fotografia de Dias Ferreira e Paulo Abreu a ladeá-lo, durante as negociações. Depois, há medida que o dia avançou, com a confirmação, a incredulidade da noticia deu lugar à ansiedade do dia de o ver jogar ao vivo. 

Ainda hoje estou para perceber o que o levou a vir até à periférica Lisboa, isto para quem estava habituado a pisar o centro dos palcos do futebol europeu. Mas tenho a certeza absoluta que não foi apenas o sol e o bom peixe, em jeito de reforma antecipada. Schmeichel era não apenas enorme fisicamente, o alto do seu 1,93 era até pequeno para acoitar o animal competitivo que tinha dentro de si. Tudo nele era vontade de ganhar, de fazer sempre melhor. Era isso que se adivinhava quando se olhava para ele em todos os gestos, era um líder e um dos melhores de sempre na sua posição.

Não terá sido por acaso que logo após a sua contratação, o então presidente José Roquette ter disparado: "Vamos ser campeões, assinamos com o Peter Scheichel!" O mesmo pensou o então embaixador inglês em Lisboa (onde se tornou um Sportinguista ferrenho, como qualquer um de nós) quando o avistou num supermercado em Cascais e ficou convencido que o campeonato era nosso:

«Vi um tipo enorme [abre os braços], a comprar o leite e o pão. Não era só alto, era mesmo enorme. Era o Schmeichel e percebi, nessa altura, que tínhamos hipóteses de sermos campeões»
Schmeichel completa hoje cinquenta e dois anos de vida e um par deles foi passado a cumprir os sonhos de muitos Sportinguistas. Foi com ele que terminámos o maior ciclo sem campeonatos da história do clube, que culminou numa verdadeira festa nacional vivida em todos os cantos do mundo. Aquela viagem pela Autoestrada do Norte foi uma demonstração da grandeza, que não sairá jamais da memória de um dos momentos míticos da história do nosso clube.


8 comentários:

  1. Juntamente com o Preud'Homme foi o melhor GR que vi a jogar em Portugal.
    Lembro-me bem dessa época e de pensar o mesmo: "Com este vamos ser campeões"

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  2. E falando em lendas do SCP, que tal isto que vem no livro do Peyroteo:

    "(...) Ficou assente que o resultado financeiro líquido (das deslocações do Sporting a Espanha (para defrontar Barcelona e Real Madrid) reverteria a meu favor, no caso de chegarem a bom porto as negociações com os dois clubes espanhóis.
    Como é fácil de calcular, não cabia em mim de contente. Primeiro, porque me era dada a possibilidade de envergar a camisola do Sporting por mais uma época e, em segundo lugar, porque via resolvidas as minhas dificuldades."
    "Infelizmente, as coisas correram de maneira contrária ao nosso desejo e, por isso, vamos, então tratar de fazer a sua festa aqui..."
    Fui informado pela direcção do Sporting que na verdade, o Sporting iria a Espanha fazer os dois jogos mas com poucas ou nenhumas possibilidades de êxito financeiro.
    (...) Eu já sabia que as deslocações do Sporting lhe trariam um lucro aproximado de 60 a 70 contos...Adivinhem pois como ouvi a comunicação, não é verdade?"
    "- Você terá a melhor festa de todos os tempos, homem! Não se preocupe com isso (...)"
    "Enfim, abandonei o futebol para nunca mais tomar parte em jogos oficiais. Mas a organização da mnha festa de despedida tem tanto de contar como a Nau Catrineta".
    "(Presidente do Sporting) - Então o que o traz por cá?
    Respondi: - Venho tratar do que ficou assente e combinado: a minha festa de despedida!
    - Lamento muito mas não posso agora tratar disso. Tenho muito que fazer.
    Logo no primeiro embate com a direcção do meu clube fiquei com a impressão que dali por diante, as coisas tomariam feição desagradável."
    "Agradeci muito a oferta e saí a caminho da Associação de Futebol de Lisboa. Sentia-me tão desorientado com o que se estava a passar que desci a Travessa Larga completamente inconsciente. Tive a sorte de encontrar no corredor o Vice-Presidente do Benfica, Sr.Francisco Retorta. Pedi-lhe alguns minutos em particular, que acedeu gentilmente como sempre.
    (Francisco Retorta) - Essa data está, contudo tomada pelo Benfica. Se não for para jogar com o Barcelona será para qualquer outra organização desportiva do clube. Mas se você estiver interessado em fazer a sua festa no dia 5 de outubro e se o Barcelona não vier a Lisboa, estou crente que o Benfica lhe cederá a data que lhe está reservada. Prometo-lhe que o Benfica, além de lhe ceder a data, não realizará em 5 de outubro qualquer festival desportivo.
    - Mas senhor Francisco Retorta, lembro-lhe que essa data só me será concedida se o Benfica desistir dela a tempo de eu tratar dos pormenores da minha festa...
    - Vá descansado, Peyroteo. Trate de tudo porque o Benfica o ajudará no que necessitar. Você bem merece."
    "O contraste que surge no choque da minha amargura pelo caminho que a direcção do meu clube estava a fazer seguir a efetivação da minha festa, e a radiante alegria que de mim se apoderou ao ouvir a promessa do Vice-Presidente do Benfica - DO BENFICA...promessa que era a garantia de poder realizar a minha festa - o choque, o contraste, não me permitem por delicadeza e pelo respeito que me merecem os dois grandes clubes e as suas massas associativas, agradecer ao Benfica, como seria meu desejo. Que o leitor pense o que me apetece dizer..."
    "Agradeci ao Sr.Francisco Retorta. Mas que palavras encontrarei para gravar, nestas páginas humildes do meu livro de memórias, o agradecimento que devo ao Benfica representado pelo seu Vice-Presidente (...)""

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    1. Infelizmente, isto apenas confirma a minha tese de que o principal inimigo do Sporting tem residido bem no coração de Alvalade: os dirigentes.
      No que respeita a solidariedade, tem sido vergonhoso o que se passou com as festas de homenagem e a capacidade para apoiar os nossos na necessidade. Basta lembrar o que se passou com o Cherba ou com o Iordanov. Se não conseguimos ser unidos para apoiar os nossos que necessitam, como sê-lo face ao adversário? Como não compreendem as nossas elites que é nestes momentos que se forja a mística que permite ir mais longe do que o que parece possível?

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  3. Lembro-me de ir ver o 1º treino dele em Alvalade. A forma como enchia a baliza e os berros que dava para a bola rematada pelos colegas, como que a tentar desviá-la da sua baliza.

    Um gigante.

    Jogou muitos jogos com um dedo partido, algo somente revelado por Inácio no fim da época. Um exemplo de profissionalismo e qualidade que, desde que chegou, foi logo questionada pelos "velhos" vermelhos da nossa CS.
    Na final da Taça com o FCP, lembro-me de o ver a empurrar um exausto André Cruz para, no prolongamento, ir marcar os cantos, na tentativa de chegar à vitória. Nesse mesmo jogo, ficou estupefacto pelo mesmo só se decidir numa finalíssima. Há imagens de colegas a dizerem-lhe que não havia penaltis. O amadorismo e sede de receitas do futebol português (em ano de Euro 2000).

    2 épocas: 1 Campeonato; 1 Supertaça (onde defendeu um penalty)

    Lembro-me (mais ou menos) de uma frase lapidar sua e que retrata muito bem o Sporting:
    "Após a conquista o título (que fugia há 18 anos), parece que a direcção do Sporting se sentou à mesa e carregou no botão de auto-destruição."

    Só para refrescar: saíram Ducher, Vidigal, De Franceschi, Ayew, Delfim - mais os conflitos com Dias de Cunha, Roquete e Duque.
    Entraram: Dimas, Hugo, Kirovski, Mahon, Fabri, Horvath, Spehar, Tello, Cáceres, Sá Pinto, Bento, J. Pinto e Babb.

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    1. Babb, j. pinto, Paulo Bento e Rui Bento, o próprio tello nalguns momentos (apesar do preço!) tiveram rendimento, e foram campeões. Por outro lado, as vendas de Vidigal e Delfim foram boas. Se bem me recordo, o PS ficou chateado, sobretudo, com a tal instabilidade directiva que mencionou.

      SL

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    2. Grande Peter!! O nosso herói...Se bem me recordo, na altura podia vir ele ou o Laudrup. Queria o Peter, porque o meu irmão me explicou que a idade no futebol às vezes conta.

      Creio que todos os sportinguistas sabem bem que sem ele não teríamos sido campeões; sem ele a dinamarca nao teria sido campea europeia.

      Resta-nos agradecer, guardar as boas memórias e esperar que o SCP aprenda de uma vez por todas a valorizar estas amizades!

      SL

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    3. JVB,

      é uma lista curta, face às contratações feitas nesse Verão (e ao dinheiro gasto em ordenados!!). E Rui Bento só veio em 2001 (com Luís Filipe e Niculae).
      A venda de Vidigal nunca foi boa. Foi dos melhores do Sporting e foi titular no Euro-2000, onde Portugal chegou às meias-finais.

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  4. Meus caros,

    Essa destruição teve um responsável: Luís Duque. Foi nessa altura que se deram os conflitos com o Roquete e que levaram à presidência do Dias da Cunha. Nessa altura, o povo sportinguista estva todo do lado do Luís Duque.

    SL

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