quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Taça da Liga: ligados à máquina, à espera do milagre

Antes de me debruçar sobre exibição do Sporting e dela extrair os respectivos sinais e consequências julgo ser de inteira justiça reconhecer o mérito do Portimonense na vitória ontem alcançada. Com ela tem quase selada a passagem à fase seguinte, sendo muito difícil ao Sporting impedir que se aponha o carimbo que falta.

Não foi por falta de aviso prévio que o jogo não foi encarado como sendo de alguma dificuldade. O Portimonense está a realizar uma boa campanha na divisão inferior, sendo até um dos candidatos à subida e até já havia goleado o Arouca. E, tal como Jesus reconheceu na conferência de imprensa que antecedeu o jogo, a diferença de competitividade entre as equipas deste escalão (especialmente as que podem subir) e grande parte das que disputam a primeira Liga é muito ténue, se é que existe. 

Sobre o jogo propriamente dito, devo dizer que discordo da análise, recorrente sempre que se perde, que a derrota resulta de menor empenho dos jogadores. Por um lado é natural, porque eles são homens como nós, que os jogadores olhem para estes jogos de modo diferente que o que sucederia se fosse um dérby ou um clássico. Depois, se todos acham que esta é terceira competição em importância, como é que se pode pensar ou até pedir que este sentimento não se propague aos jogadores? Isto não é uma questão de maior ou menor profissionalismo, ou ganhar muito ou pouco, tem a ver com a condição e natureza humana.

Considerações de ordem filosófica à parte, não me parece que seja muito importante procurar exaustivamente as razões desta derrota, porque elas são fáceis de encontrar. Para tal consideraria:

- A ausência de quatro jogadores-chave na equipa de Jesus, e que têm sido determinantes para o percurso positivo da equipa este ano: Adrien, Ruiz, João Mário e Slimani. Por esta ordem.

- A inclusão de jogadores sem grande ritmo de jogo e sem grandes rotinas colectivas entre si que não sejam as que decorrem do treino. Falta-lhes muitos minutos de jogo, o treino, por muito rigoroso e bem ministrado que seja, não deixa de ser uma simulação da realidade.

- O decorrer do jogo com um resultado adverso levou a equipa a perder a identidade, o que foi acentuado, pelo dois pontos acima descritos. Nos jogos recentes não me recordo de tanto recurso ao cruzamento, especialmente na segunda metade da partida. Quase não se viram as triangulações, as progressões em apoio, o jogo interior que torna esta equipa muito difícil de suster. Ainda assim, embora de forma sôfrega, criámos oportunidades suficientes para construir um resultado mais de acordo com os nossos interesses.

- As incidências do próprio jogo, que ocorrem de forma aleatória, umas vezes em nosso favor, outras vezes contra. Ontem não fomos eficazes na finalização mas também não tivemos uma ponta de felicidade em todos os momentos em que poderíamos ter alterado o curso do resultado.

Mas se não vale a pena perder muito tempo a tentar compreender as razões da derrota, já me parece justificar-se olhar para as consequências e sobretudo para as reacções que se vão notando aqui e acolá.

Quanto às consequências é fácil perceber que, com já foi reconhecido acima, estamos com pé e meio fora da competição. De forma muito clara e objectiva estamos a ponto de poder ganhar "apenas" este ano o campeonato nacional, uma vez que a Taça de Portugal já era e a da Liga vai a caminho.

Quanto às reacções de alguma desorientação patente em alguns comentários, (de adeptos e até de comentadores) essas já me merecem algumas considerações. Como por exemplo:

- Não há boas derrotas, pelo a que de ontem não o foi. Mas não é honesto do ponto de vista intelectual extrapolar o resultado de ontem para precipitar conclusões de índole especialmente negativa. Considerar, a partir dai, que o Sporting está num mau momento parece-me manifestamente exagerado, mas dá jeito a quem olha para o topo da classificação e não gosta do nome que lá vê inscrito.

- É certo que é a segunda derrota consecutiva (o empate com o Tondela é assim por mim considerado) e que num curto espaço de tempo sofremos três derrotas, um número importante face ao percurso nacional imaculado. 

- A derrota de ontem não tem nada a ver com o que aconteceu com o União da Madeira e com o Tondela. A explicação para essas é que me são mais difíceis de perceber e até aceitar, porque ocorreram na mais importante competição, com a nossa melhor equipa em campo. 

- Seria lamentável que um resultado negativo numa competição "terciária" fizesse abalar a confiança e a empatia entre a equipa e adeptos e que em muitos casos foi responsável pela obtenção de bons resultados, quando estes pareciam difíceis de obter. Esse tipo de sentimentos propagam-se das bancadas ao relvado e influenciam comportamento dos jogadores. É por isso importante desde já "invadir" Paços de Ferreira!

- Tendo em conta o que é dito acima, não faz sentido, a partir do jogo de ontem, individualizar as culpas num jogador em particular, porque não foi uma falha individual ou uma pior prestação que determinou o resultado.

Uma vez que o post já vai longo fica para posterior oportunidade a individualização de alguns comentários sobre alguns elementos actualmente sobre o foco muito particular dos adeptos.

4 comentários:

  1. Com as devidas aspas, a equipa que perdeu ontem foi a mesma que perdeu na Albânia, como afirma Jesus, nas suas equipas é muito difícil um defesa entrar de caras sem primeiro ter um tirocínio de como defender "à la Jesus". O primeiro golo nasceu de uma baralhação de posicionamento do lado esquerdo da defesa onde morava o caloiro...

    Relativamente ao jogo da Albânia criámos mais oportunidades, mas falhámos redondamente na finalização, até de penalty.

    Pareceu-me que os jogadores ontem escalonados tentaram fazer as movimentações de envolvimento de que falas e que eles treinam, mas a falta de rotina competitiva da maioria fazia falhar sempre um passe, um toque, um posicionamento. Como alternativa nasceu o nervoso miudinho, que tão bem tem estado afastado o grupo titular e o futebol mais "instintivo" de centro para o barulho.

    Na próxima semana fica decidido o futuro nesta competição e será difícil passar, mas esta equipa já nos habituou a vencer as batalhas difíceis, o problema são as fáceis :)

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  2. Lda subscrevo a tua análise.

    Destaco: "mas dá jeito a quem olha para o topo da classificação e não gosta do nome que lá vê inscrito." a azia latente é muito grande e mistura-se a vontade de ver o SCP claudicar com a existência ou não de razões válidas que sustentem a "vontade" dessa gente.

    Apenas um reparo subida e não descida no teu 2º paragrafo.
    "sendo até um dos candidatos à descida"

    SL,

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  3. Não serve de desculpa, mas o primeiro golo do Portimonense está em nítido fora-de-jogo. Isso tb ajudou a que o nervoso miudinho se instalasse. Abç e SL!

    Virgílio.

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