segunda-feira, 2 de maio de 2016

FC Porto-Sporting: há cereja, há bolo. Só falta o topo.

Se há jogos que nunca deviam acabar o clássico no Dragão era um deles. Foi grande a festa e a exibição do Sporting. Não, não estou a falar da equipa do Sporting, mas do Sporting Clube de Portugal. Adeptos fervorosos e em grande número, a fazerem-se ouvir sobre as vozes dos locais na maioria do tempo e independentemente do curso do jogo. E claro, a equipa, a fazer a exibição mais personalizada e categórica que vi até hoje naquele estádio.

De facto não foi uma exibição qualquer, isto apesar de o Sporting ter, no ano passado, conseguido resultado idêntico, na eliminatória da Taça de Portugal. O Sporting esteve sempre confortável no jogo e por cima do adversário. Ao contrário do que era hábito naquele estádio, nem quando o adversário empata o Sporting abanou, demonstrando confiança e personalidade.

Apenas na segunda parte, quando Peseiro tentou abanar o jogo a seu favor e sobretudo com a entrada de Varela, esta superioridade chegou vacilar. Jesus demorou algum tempo a reagir e a tomar decisões, mas quando fez sair o quase inexistente Teo e colocou no seu lugar Bruno César reequilibra a equipa e acaba por ganhar o jogo com autoridade.

Não foi um jogo espectacular do ponto de vista técnico. A forma como o Sporting encurta o campo potencia o erro nas decisões de passe de ambas as equipas, provocando muitas perdas de bola. Porém, nesse aparente caos, a equipa do Sporting respira tranquilamente, parece saber sempre o que fazer, enquanto o adversário quase sempre se vê obrigado a reagir, ficando naturalmente, por isso, em desvantagem.

É por isso que hoje é quase consensual afirmar que o Sporting tem a melhor equipa do campeonato. Mas não tem os melhores jogadores. É a equipa melhor trabalhada, como o melhor modelo de jogo, o que lhe permite ser quase sempre a mais equilibrada. O somatório das suas acções em campo, o seu comportamento colectivo é que é muito superior. 

Talvez onde isso se nota mais é no comportamento defensivo. Olhando para o quarteto da retaguarda apenas Coates jogaria de caras em qualquer dos outros candidatos ao titulo. No entanto aqueles quatro, como outros quatro noutros jogos do campeonato, sabem permanentemente o que fazer em campo e de forma sempre articulada entre si. 

Bem que Peseiro ainda tentou explorar a profundidade, algo que no início de época ainda carburava mal. Mas Jesus não deixa nada ao acaso e foi visível que a movimentação que Patrício exibe agora é mais adequada à guarda das costas de uma defesa subida. E até Schellotto sabe agora quando tem que vir defender dentro, o que há poucos meses não acontecia. A par disso a equipa parece saber sempre quando recuar ou sair em contenção.

Do ponto de vista individual, se é verdade que João Mário foi a figura de proa, é de uma enorme injustiça esquecer o Capitão Adrien, que fez um jogo absolutamente notável. Além de ser responsável pelos reequilíbrios defensivos da equipa, uma verdadeira formiga atrás da bola, os 93% de passes acertados deram segurança e conforto à equipa. É que este Sporting mandão precisa de ter a bola, não sabe jogar com linhas permanente recuadas, explorando apenas as transições. Igualmente notável a prestação de Slimani, que hoje não tem nada a ver com o jogador que chegou a Alvalade. É talvez o jogador cuja evolução mais me surpreendeu. Por vezes dá a sensação de ter trocado de pés numa operação qualquer.

Quando o jogo terminou cheirava a campeonato. É impossível deixar de acreditar quando tens uma equipa como esta. Jesus dizia que o campeonato seria a cereja no topo do bolo mas a analogia não me parece correcta. É que sem campeonato não há bolo, o que equivaleria a ficar com a cereja na mão. Eu continuo a acreditar que é possível e acho que temos mesmo tudo para sermos campeões. O nosso bolo é o melhor, mas por aqueles acasos do destino pode até nem ser premiado. Só isso.

8 comentários:

  1. Esta Liga, por muito que me custe, faz lembrar a que vencemos em 1999/2000:

    - uma equipa muito forte (Porto) e sempre na liderança;
    - uma equipa desacreditada e com forte investimento a vir de trás (Sporting);
    - um clássico a meio da 2ª volta entre o 1º e o 2º. O 2º vence e passa para frente com 2 pontos;
    - depois, na liderança (pela 1ª vez), não sendo espectacular no seu jogo, alicerça-se na eficácia do seu goleador (Acosta) e restantes avançados que equilibram essa eficácia (Ayew, Edmilson e Di Franceschi), na magia do seu 10 (Barbosa), na solidez do seu meio-campo (Vidigal - o motor; Duscher - o mestre), na grande defesa que também marca golos importantes (André Cruz) e num guarda-redes que é o último bastião de um reduto quase inviolável (Schmeichel);

    O que são Jonas, Mitroglou, Raul, Gaitan, Fejsa, Renato, Jardel e Ederson, que não os nossos Acosta, Ayew, Di Franceschi, Barbosa, Vidigal, Duscher, André Cruz e Schmeichel?

    Não se pretende comparar a qualidade de um e de outros, mas sim a mesma importância que detêm e detiveram no sucesso das equipas.

    E outra coisa. Sempre se disse que o Sporting é que estava pressionado em 2000 e não o Porto. Agora diz-se que é o SLB e não o Sporting. Será? Quando todos esperavam pela queda do leão em Vidal Pinheiro, ninguém pensou que o Porto podia cair em Barcelos.
    Temos o Vitória e o Braga para vencer. É neles que temos de nos focar, não no Marítimo e Nacional.

    grande abraço

    ps: deve ter sido excelente o ambiente no Dragão. Obrigado pelo vosso forte apoio!
    ps2: em 35 anos, nunca vi um Sporting tão forte como este; não deve chegar para comer o bolo, mas é por aqui que teremos de continuar.

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    Respostas
    1. ps2: em 35 anos, nunca vi um Sporting tão forte como este; não deve chegar para comer o bolo, mas é por aqui que teremos de continuar.

      Caro Cantinho,

      É mesmo por aqui que temos de continuar!

      LdA,

      É um SCP forte em todos os aspectos de jogo e com mais tempo de permanência quer de jogadores, quer de equipa técnica, mais forte seremos. Que belo ambiente se deve ter vivido no Dragão!

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    2. Cantinho,

      Excelente comentário que subscrevo por inteiro. O que dizes deverá ser suficiente para se perceber que em futebol nem sempre ganham os melhores. Além do campeonato que referes nos últimos 10 anos vencemos como exemplo 2 troféus em jogos onde pouco fizemos para brilhar. Taça de Portugal frente ao Belenenses e a final do ano passado que vencemos com muita felicidade. Foi há uns meses.

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    3. RG,

      a continuidade de JJ é mais que obrigatória. Fomos sempre a crescer na qualidade técnica desde da 1ª época desta direcção. Saindo JJ, entraremos num caminho inverso. É preciso estabilidade na qualidade.


      MM,

      Concordo na conquista de 2 troféus onde fizemos pouco. No entanto, trocaria Belenenses por Leixões (onde fomos péssimos e acabámos a com o credo na boca).
      Mas o futebol é isto mesmo. Ainda agora acabo de ver uma equipa chegar à final da Champions, sem merecer vencer um único jogo da eliminatória.
      É futebol! O pior é que em Portugal nem tudo se pode resumir a essa frase. A liderança do SLB face à nossa não é resultado da beleza e carácter imprevisível do futebol. Infelizmente, por cá, o Leicester jamais seria Campeão.

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  2. 100% de acordo contigo e acredito que vamos ser campeões.

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  3. Grande post.

    Acredito que, mesmo nao ganhando este ano, se mantiver-mos este rumo somos os principais favoritos a vencer.

    Coisa que este ano, nao eramos.

    Esperemos è que o runo se mantenha...e quando em rumo, falo na equipa tecnica e nos principais jogadores.

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  4. Muito bem esgalhada a análise. Apenas dizer que não me lembro de uma manifestação de superioridade colectiva tão impressionante em casa do Porto. Grande treinador alguns bons jogadores uma grande equipa. João Mário notável. Slimani parece outro. Difícil manter estes dois no próximo ano. Muito difícil. Ser campeão? Faltam dois jogos. Ainda pode acontecer.

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  5. O Jesus defensivamente é claramente dos melhores, senão o melhor do mundo.

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