domingo, 26 de junho de 2016

Depois de muita penitência apareceu... Quaresma

A primeira consideração a fazer é que Portugal eliminou uma selecção que, globalmente, não só foi melhor neste jogo como estava a ser melhor que nós no torneio.  E diga-se em justiça que aparentava poder contribuir muito mais para a qualidade geral do evento do que nós parecemos habilitados e até interessados em ser. Serve isto para dizer que, se há mérito nesta eliminação, ela correspondeu a uma abordagem ao jogo que está longe de me agradar. Mais, esta postura excessivamente conservadora de Fernando Santos só tem justificação possível perante a obtenção de resultados. Ela é afinal isso mesmo, resultadista. 

Não vou entrar no jogo dos "ses" agora que ganhamos porque também não gosto de o fazer quando perdemos. Mas quero apenas dar conta com estas observações que estivemos várias vezes e demasiado tempo à mercê do adversário e do jogo para merecer a sorte que acabou por nos sorrir momentos finais. Não acontecerá muitas vezes neste registo, estou certo.

Uma das notas principais do jogo foram as alterações realizadas na equipa inicial. Devagarinho e talvez impostas pelo aperto de ser um jogo de resultado único para a continuidade da equipa, o seleccionador lá foi pondo os melhores nos seus lugares, excepção feita à ausência de Ricardo Carvalho por não estar em boas condições físicas. 

Cédric esteve quase sempre impecável, muitos furos acima de Vieirinha nos jogos anteriores, particularmente no jogo com a Hungria, onde esteve várias vezes à beira do desastre, no que foi então "bem" secundado por Eliseu. Adrien foi de uma generosidade e entrega total e se o seu jogo não foi mais ousado no que diz respeito às iniciativas atacantes é porque o modelo não o prevê e os croatas não estavam para brincadeiras. Creio mesmo que a sua titularidade se justificaria mesmo que Moutinho estivesse em forma porque ainda assim teria primazia sobre André Gomes que, sendo um potencial titular, parece estar muito longe da boa forma física.

Um parágrafo especial para Renato Sanches. Se é um fiel seguidor da nova seita religiosa renatosanchista que se debate ferozmente contra qualquer infiel, não o leia porque não encontrará adjectivos ou encómios suficientes. 

Mas estamos a falar de um jogador especial, não apenas pelo elevado potencial que tem mas também pelo que já consegue fazer aos dezoito anos. E depois tem a sorte e o mérito de ter estado no momento decisivo do jogo. Sorte porque o lance já tinha praticamente morrido quando a bola chegou a Nani. Não fosse o estranho bico deste fazer chegar a bola a Ronaldo (que, também mal, decide rematar e quando quer ele quer Nani deviam ter servido Quaresma) e esta ter cai milagrosamente cai em Quaresma e ninguém se lembraria dele pelo que fez no resto do jogo. Mérito pela forma como arrisca e sai da camisa de forças que é concepção securitária do seleccionador, resumindo o nosso futebol e os nossos jogadores meros funcionários diligentes, sem qualquer capacidade criativa.

Não se pense que esta vitória me deixa triste. Mas a forma como é obtida é demasiado sofrida e penitente que se afasta da forma como olho para o futebol. Obviamente que os grandes resultados se obtêm pela aplicação total e pelo rigor do desempenho de todos. Para mim esse rigor não pode ficar apenas pelas tarefas defensivas e só por acaso ir à baliza adversária uma vez no final de 120 minutos.

3 comentários:

  1. Apenas não concordo com o início do post. A Croácia nada fez (até 5 minutos do fim do prolongamento) para concretizar a sua superioridade colectiva. É tão responsável como Portugal (ou mais) pelo deprimente espectáculo de futebol - para todos menos os directamente envolvidos, claro! De resto, defendemos com vigor e concentração, o que é natural, pois jogaram os melhores para isso. Pepe foi um monumento. Fonte brilhou por arrasto. Os laterais foram uns leões. William destacou-se, até porque, ao contrário de Adrien e Sanches, que deram velocidade e energia à equipa, não tentou bater recordes de passes falhados. Os demais, salvo João Mário na primeira parte, pouco tocaram na bola (Patrício incluído). Não é justo criticar Queiroz por ter fracassado com este triste plano contra a Espanha (e o Brasil) em 2010 e elogiar Santos por ter sido bem-sucedido. Um contra-ataque iniciado com uma bola ao nosso poste e que consistiu de três gestos técnicos mal executados (todos menos a cabeçada de Quaresma), pode-nos dar (e deu mesmo) uma enorme alegria momentânea, mas não cria qualquer expectativa para o futuro, nem pode ser a base para avaliar uma exibição e um comando técnico. Salvo, claro, em Portugal, onde é. SL! JPT

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  2. LdA, plenamente de acordo com o destaque oferecido a Renato Sanches. Desinibido, entra no jogo para jogar à bola. No contexto duma equipa perfeitamente incapaz de produzir qualquer coisa a que se possa chamar de futebol, esta qualidade merece todo o destaque. Jogar à bola = criar qualquer coisa minimamente coerente.

    Fernando Santos teve no Sporting um jogador muito capacitado em tudo parecido com Renato Sanches: Fábio Rochemback. Médio de transporte, desequilibrador. Muita pena que o próprio Rochemback parecia desinteressado do seu próprio (enorme) talento.

    "... porque o lance já tinha praticamente morrido quando a bola chegou a Nani".

    Excelente apontamento. Num momento imediatamente anterior temos um lance de potencial perigo com mérito iniciado por Renato Sanches mas que em nada se desenvolve para lá disso (lance de potencial perigo). Assim é porque quando a bola chega a Nani o posicionamento dos croatas em NADA está comprometido. Mas como dizes, o potencial do lance já desaparecera.

    Nani sim inventa um lance de golo, lance de golo desfeito por C. Ronaldo. A Ronaldo acontece muitas vezes - desfazer coisas, desfazer jogo. Nada que sirva para questionar a sua aptidão (natural ou adquirida) para jogar futebol. Jamais questioná-la.

    Tanto o lance de potencial perigo iniciado pelo Sanches como o lance de golo inventado pelo Nani não resultam no golo português. O golo português só aparece a partir dum ressalto perfeitamente casual ou fortuito.

    Um abraço.

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  3. E pena Portugal continuar a apostas em treinadores muito fracos para a seleccao quando temos tantos bons treinadores.Fernando Santos e um mito e se nao e por a qualidade individual dos jogadores portugueses ja estavamos fora do euro.Quero realcar o Adrien neste jogo e penso que ganhou o lugar para o resto do euro.Renato tem de crescer mas tambem prefiro ele ao Andre Gomes neste momento.Contra a Polonia vamos ganhar mas depois e que vai ser muito mais dificil.

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