quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Mas depois como era de costume, obedeci ... algumas ideias soltas estruturadas numa construção que faz sentido.

Algumas ideias sobre o futebol português ao longo da ditadura, na sequência duma coisa que já não me lembro o que é: o regime ditatorial não ajudou clubes de futebol a ganhar ou perder, e se ajudou não é uma influência demonstrada por resultados. No pós 25 de Abril, em Portugal, o Benfica continuou a ganhar e durante o «Estado Novo» o futebol português viu diferentes clubes ocupar em diferentes décadas o 1º lugar no pódio de futebol: ao nível de Sporting anos 40 e 50, Fernando Peyroteo, Cândido de Oliveira, Szabo, Violinos, onde na planta dos campeonatos o clube exerceu um domínio avassalador. Ainda no «Estado Novo», anos 30, uma década de equilíbrio com Sporting, Belenenses, SLB e FCP em bom plano e sobre a época hegemónica do SLB, 1960's, diz-me o bom-senso que foi alicerçada numa equipa onde pontificaram Eusébio, Coluna, Simões e demais.

Não estou familiarizado com o tema futebol/ditadura, mas se tivesse de avançar algumas ideias sem grande desenvolvimento, fá-lo-ia do seguinte modo:

Plano 1
. são prováveis intervenções pontuais do «regime» na actividade
.. Eusébio foi uma mas deverão ter existido outras.
. o «regime» ter-se-á aproveitado do futebol para (própria) promoção, ou dele terá retirado proveitos ao nível de como se relacionou intelectual e emocionalmente com o seu povo, sendo por isso que parte importante da massa adepta do Benfica é hoje constituída por pessoas muito idosas educadas por capas de jornais, revistas, clichés escutados na TV, conversas de esquina, cartazes e falsas ideias de que a pujança do seu país e império, Portugal, estava de alguma forma dependente do Eusébio e do Benfica. Estou a brincar.

Plano 2
. fora da esfera «regime», enquanto sistema planeado de prossecução de uma política, concebo de forma natural que agentes munidos de poder tê-lo-ão utilizado para interferir com a actividade (futebol), não significando tal que tivesse existido uma política do «regime» para o futebol, em modos de um declarado ou oculto beneficio aos clubes A, B ou C.

Exemplos:
1) a decisão de não deixar Eusébio sair para Itália resultou (imagino) de um processo de «regime» - deliberação 300% política, planeada, pensada.
2) o actor / intérprete / director / agente que pelo poder advindo da sua posição influenciasse os assuntos A ou B, não seria (imagino) instruído pelo «regime» para fazê-lo. Fá-lo-ia, provavelmente, por própria iniciativa.

Estes 2 planos são totalmente diferentes e têm de ser separados.

Plano 3, e mais importante
. fora da esfera «regime» e fora da esfera «agentes do regime», clubes, o que eram, foram, são, natureza, pessoas que no passado e hoje fizeram / são deles parte, vocação, filosofia e conduta: os clubes distinguem-se a este nível quando a vocação e actividade principal dum clube como o Sporting foi sempre desportiva. Nos anos 10, 20, 30, 40, 50, 60 e 70 e 80 o Sporting foi sempre o clube português que mais desporto deu a Portugal. A sua orientação e preocupação dessa órbita nunca se desviaram.

Para o SLB, como exemplo, já não é assim: é um clube mais superficial, sem relevante vocação desportiva olhada a forma como se deveria integrar no tecido social a que pertence e a tender de igual modo para a dependência de imagem e status, e uma organização com natural propensão para o exercício do mal, algo que o Sporting nos dias de hoje tenta estranhamente (com sucesso) imitar.

Não andará muito longe deste o retrato (na minha opinião) preciso da realidade.

Por último, importaria perceber que embora Héctor Yazalde tivesse a 19 de Maio de 1974 pontapeado a ditadura primeiro para canto e mais tarde para as bancadas, os ditadores proliferam. Da mais pequena à maior área das nossas vidas a ditadura prolifera. Daí, não se deixem enganar porque o fiel e único «povo» que interessa tanto aos Sporting como Portugal é aquele em sintonia com o clube de José Alvalade, que não é necessariamente o clube que vamos tendo há 30 ou mais anos, um «povo» que não se hierarquiza por classes, não se diferencia pelo poder económico, não se divide por rural ou litoral, não tem cor nem nacionalidade, mas um «povo» que se senta em todas as mesas, percorre todos os lugares, desempenha todas as profissões, fala todas as línguas, diferenciando-se pela honestidade do seu espírito, pela espécie dos seus ossos, pelos atributos do seu coração e pela delicadeza dos seus sentimentos.

É este o meu Sporting, um que levo comigo para qualquer lugar.
O resto são assuntos pequenos que requerem atenção.

5 comentários:

  1. ... assuntos pequenos como o Carvalho, refira-se.

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    1. Suponho que devas andar contente pelo crescimento das modalidades (umas melhor que outras, é certo), novo pavilhão e, em princípio, pista de atletismo Moniz Pereira?

      Devias falar mais vezes sobre isso.

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  2. "Novo pavilhão e, em princípio, pista de atletismo Moniz Pereira?"

    Tudo jóia, é o mínimo que se exige. Mínimo.
    (Já o era há muito. Essas e tantas outras, faltando ver no que se concretiza.)

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  3. "Para o SLB, como exemplo, já não é assim: é um clube mais superficial, sem relevante vocação desportiva olhada a forma como se deveria integrar no tecido social a que pertence e a tender de igual modo para a dependência de imagem e status, e uma organização com natural propensão para o exercício do mal, algo que o Sporting nos dias de hoje tenta estranhamente (com sucesso) imitar."

    "Natural propensão para o mal"?
    Porque? Quer explicar? Há factos? Ou é só opinião?

    E hoje? Ainda acha isso? Quer comparar resultados desportivos nos últimos anos? Comparar sucesso de projetos olímpicos ou modalidades (ditas) amadoras? A nível nacional ou internacional?

    Factos? Nicles.

    Ah... Tentei ser correto no comentário... Mas Desculpe se por acaso soar ofensivo. É a "propensão para o mal"...

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  4. Nuno Figo,

    É normal que não goste do que leu mas a sua resposta não contém menos correcção. Não foi incorrecto. Quer que lhe reponda a sério ou assim-assim? Se responder a sério o Nuno Figo zangar-se-á comigo porque o seu benfiquismo virá naturalmente ao cimo, com legitimidade.

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