quarta-feira, 7 de setembro de 2016

13 anos foi muito pouco

João Rocha tornou-se presidente do Sporting num dia sete de Setembro, completam-se hoje 43 anos. Foi o Sporting por causa do Sporting dele que me tornei Sportinguista pelo que aqui fica a minha homenagem, reeditando um post publicado em 10 de Junho de 2012:

João Rocha chegou ao Sporting num momento de profunda crise directiva, sem que ninguém quisesse assumir a presidência. O presidente Valadão Chagas havia sido eleito no dia  29 de Março de 1973 mas abandonaria o cargo no dia seguinte (!) à tomada de posse, 4 de Abril, em direcção ao governo de Marcelo Caetano, deixando na gestão interina o seu Vice-Presidente Manuel Nazareth. Este havia deixado bem claro que não tinha vontade nem ambição para o cargo. A crise estender-se-ia até Setembro desse ano, mais propriamente até  dia 7, quando João Rocha chega à presidência do clube.

Quando tomou posse João Rocha, que era até um sócio relativamente recente, de imediato revelou a ambição que o trazia: "Julgo que se deu uma nova tomada de consciência, um certo empolgar da alma colectiva. Fascina-me a ideia de erguer uma grande obra, apoiada por milhares ou milhões de pessoas e que possa representar uma viragem nos nossos clubes desportivos".  Palavras essas que seriam materializadas por inteiro nos 13 anos em que presidiu ao clube.

Foram nesses anos que o Sporting saiu da letargia em que se encontrava para dos pouco mais de 40 mil sócios chegar aos 130 mil. O período de João Rocha ficou assinalado por mais de 1200 títulos nacionais, 52 Taças de Portugal, 8 Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, uma Taça dos Campeões Europeus, duas Taças das Taças, uma Taça CERS em Hóquei em Patins. O Sporting chegou a movimentar cerca de 15000 atletas em 22 modalidades! O nome do Sporting chegou a todo mundo quando Carlos Lopes ganhou a primeira medalha de ouro nuns Jogos Olímpicos. Entre 1981 e 1985 realizaram-se quatro(!) Congressos Leoninos, em Lisboa, no Rio de Janeiro, em Toronto e na Madeira e nos Açores! Pode-se dizer com propriedade que o Sporting viveu uma verdadeira refundação.

Uma marca da passagem de João Rocha pelo Sporting foi sempre a sua quase omnipresença junto das diversas equipas e atletas, fossem quais fossem as circunstâncias. Manuel Fernandes, o grande capitão, testemunhou-o, depois de lhe oferecer a sua camisola, quando em 1982 acabava de conquistar a dobradinha, vencendo a Taça de Portugal no Jamor: "O presidente merece. Tem-nos acompanhado nos bons e nos maus momentos, Quando perdemos vai às cabines e moraliza-nos: Chega inclusive a fazer-nos vento com a toalha...".

Foi no futebol que João Rocha conheceu mais dificuldades. Nos 13 anos de mandato ganhou apenas três Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal e uma Supertaça. A isso não será alheio o aparecimento de Pinto da Costa. Sustentado numa estratégia de quem percebeu que o futebol português suporta a muito custo a existência de mais de 2 grandes clubes, o ainda presidente do FCP elegeu como primeiro alvo o Sporting, contra quem foi travando as suas primeiras grandes batalhas. Ficou célebre a sua frase após mais uma acesa disputa com João Rocha: "enquanto eu for presidente o Sporting não voltará a ser campeão!". Hoje sabemos (como e porquê) que apenas por 2 vezes a sua vontade não foi cumprida.

Não se pense que apesar do indiscutível sucesso que João Rocha não conheceu oposição à sua passagem. Nesse âmbito foi estrepitosa e nem sempre de bom tom a disputa das eleições de 1982 com Marcelino de Brito. Como ficou célebre a crise provocada em 1980, em que desafiou uma oposição que moía mas não dava a cara, como se provou ao ter que concorrer sem adversários. Eram também muitas as suas queixas relativamente às dificuldades causadas pela falta de compreensão da tutela na resolução da sustentabilidade financeira dos clubes. Por isso dizia já há muito "É preciso redefinir o clube e encontrar uma filosofia que permita ao Sporting seguir em frente sem o perigo de fechar a porta."

O problema da sustentabilidade financeira era algo que já preocupava João Rocha desde a sua tomada de posse. Antecipando em muitas décadas as SAD´s, criou a Sociedade de Construções e Planeamento que em 9 de Março de 1974 emitiu 2.500.000 acções de valor nominal de 100 escudos. Esta, tal como todas as outras cotadas em bolsa, haviam de se esfumar passado pouco mais de um mês com o advento da revolução dos Cravos, em Abril de 1974.

Foi já cansado e doente que em 1986 João Rocha abandonaria a presidência do Sporting, abrindo um período em que, de forma paulatina e por vezes acelerada se foi desbaratando muito do que foi construído. Hoje, passados estes anos, ocorre-me que a saída de João Rocha nunca foi querida e muito menos preparada.

Não sei se João Rocha foi o melhor presidente de sempre do Sporting porque, nos seus recentemente celebrados 106 anos de vida, há muito da sua história que não foi vivida e testemunhada. Por isso não gostaria de cometer o habitual erro de paralaxe de quem observa a história separada por diferentes ângulos de observação. Mas João Rocha é hoje considerado, e com toda a justiça, um dos maiores presidentes da história do Sporting e ao seu tempo de presidência corresponde um dos períodos mais pujantes da nossa história.

2 comentários:

  1. Maravilhoso ler tudo isto. Não vivi o Sporting de João Rocha mas confio plenamente no teu testemunho LdA, em associação à lista de feitos que normalmente lhe vemos (JR) atribuídos.

    É pena que o futebol não faça (muito) parte dessa lista, sem qualquer desprezo pelas conquistas do Sporting em futebol nesse período, imaginando ao mesmo tempo que seria difícil superar um Benfica que nos anos 70 era muito forte.

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  2. "Como ficou célebre a crise provocada em 1980, em que desafiou uma oposição que moía mas não dava a cara, como se provou ao ter que concorrer sem adversários."

    É o que fazem os verdadeiros líderes. Depois, há os outros, como o GL ou certos políticos conhecidos que tentam impedir o desafio...

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