quinta-feira, 20 de julho de 2017

Balanço de estágio na Suiça: mudaram-se caras mas não os problemas

Com a realização do jogo com o Marselha chegou ao fim o estágio na Suíça. Ninguém imaginaria que o encerramento desta importante etapa encerrasse todas as dúvidas mas no balanço final as preocupações sobre o que será esta equipa capaz de produzir no imediato vão ainda continuar. Ficam algumas notas sobre o que me parecem serem merecedoras de destaque:

Organização
Nenhuma equipa ganha um campeonato na pré-temporada mas muitas já o perderam por planeamento deficiente. Não era preciso vir Jorge Jesus mesmo alguns os jogadores apontarem problemas causados pela organização pouco cuidada do estágio para deles se dar conta. Das questões logísticas (deslocações cansativas) às questões técnicas (qualidade dos adversários e jogos consecutivos) tudo pareceu ter sido o resultado de falta de rigor no planeamento. Mas a declaração pública torna as coisas ainda piores. Afinal de quem é a responsabilidade? E estas matérias não deveriam ser discutidas internamente, ou pretende-se enviar o recado a alguém?

Defesa nova, problemas velhos
À entrada de novos jogadores (novos no clube, não em idade...) que alegadamente deveriam contribuir com a experiência para dar maior estabilidade e segurança correspondeu afinal uma média de golos encaixados por jogo muito superior ao que estamos "autorizados" a consentir. Mas talvez mais importante que o número talvez tenha sido a forma que eles foram concedidos que mais chamaram à atenção.

Parecem parecem para já claros os problemas causados pela de falta de qualidade de alguns elementos (Piccini) e de no imediato pelo menos ritmo e identificação (Mathieu, Coentrão). O resultado são descoordenações comprometedoras decisões erradas em função do que o jogo pedia em determinados momentos. E, claro, quem joga com Jug na baliza perde o direito a reclamar do número de golos que encaixa.

Dúvidas: Estamos na presença de problemas inerentes à recomposição efectuada no sector, resolúveis com o treino? Os jogadores escolhidos têm o perfil adequado às necessidades dos desafios e mesmo ao(s) sistema(s) a implementar pelo treinador?

Mas a questão parece ser mais estrutural do que apenas do sector mais recuado ou deste ou aquele jogador que o compõe: JJ quer uma equipa a pressionar alto mas a pressão é ainda muito descoordenada e pouco intensa. E jogadores apontados à titularidade (Dost, Doumbia, Alan Ruiz) não parecem talhados para o fazer. Um problema que o ano passado foi fatal.

O que se viu nos jogos iniciais é que o problema subsiste, independemente do 4x3x3 ou 3x5x2 e respectivas variantes. Os adversários dispuseram de grande liberdade para sair a jogar e, quando a equipa perde a bola - o que aconteceu várias vezes em momentos proibidos - a resposta está frequentemente condenada ao fracasso. O espaçamento entre os sectores, que reduz o número de elementos disponíveis para a contenção ou oposição às movimentações do adversário. 

Médios que para já só parecem... médios 
Para acentuar a suspeita de podermos estar na presença de problemas por resolver que se arrastam da época transacta está aí o sentimento de orfandade que as ausências de Adrien e William provocam. A incapacidade de reorganização e reacção após a perda sem o capitão é notória. O mesmo se pode dizer da qualidade com que saímos a jogar. E aqui é a falta de William que se nota. Se ele não é propriamente exemplar nos momentos defensivos, a sua ausência paga-se na qualidade das decisões com bola. Falta quem faça a gestão adequada do tempo certo para iniciar a saída ou de temporização com ela nos pés, diminuindo drasticamente a qualidade com que a bola chega à frente e com ela as nossas possibilidades de criar oportunidades de golo.

Depois de uma boa prestação inicial Petrovic está deixar transparecer que as listas horizontais do Sporting pesam mais que as verticais do Rio Ave. Bataglia obriga-nos a questionar constantemente se é um "6" ou um "8", não se percebendo se JJ quer ou não dar a Palhinha o "6" que  parece ser seu com naturalidade.  Nota de conforto para a chegada de Bruno Fernandes, a permitir a esperança de finalmente estar resolvida a ausência de João Mário. Mas que, pelo que se percebeu pelo último jogo, precisa de melhor companhia. Está ainda também por saber quantas obras literárias vai ter tempo Francisco Geraldes para ler até Jorge Jesus conseguir ver o quanto lhe daria jeito tê-lo na equipa.

Para já fica uma certeza: o Sporting dificilmente subirá a qualidade do seu jogo por aqui, se vier a confirmar as saídas de Adrien e William. Que, não acontecendo, vai contribuir para um indesejável excesso de opções há luz da composição actual.

Para já muitos golos prometidos mas poucos concretizados
Não será propriamente surpreendente o reduzido número de golos marcados. Que se explicam de forma rápida por três ordens de razões: Desde logo pela qualidade dos adversários escolhidos, cujos nomes estão longe de significar promessas de goleadas. Depois porque o momento ofensivo é o que pode demorar mais tempo a preparar. A presença de um novo elemento (Doumbia) e a necessidade da respectiva articulação, especialmente com Bas Dost seria um terceiro. Mas há mais. A falta de desequilibradores a partir das alas, pela ausência do rei das assistências (Gélson) e utilização tímida de Iuri Medeiros e Matheus, acrescida do facto da chegada tardia de Acuña.

Mas quem tem Bas Dost pode estagiar mais ou menos descansado. Assim Doumbia o possa complementar com acerto. Para já ficou-se pela mostra de um sentido de baliza notável no jogo com o Fenerbaçe e predisposição para explorar a profundidade, posicionando-se quase sempre no limite das linhas defensivas. Algo que vimos desaparecer com a partida de Slimani e que tanto limitou o nosso jogo ofensivo em 16/17. Mas o costa-marfinense terá inevitavelmente que dar mais não apenas no entendimento com Dost mas também logo quando a equipa perder a bola, momento em que parece alhear-se do jogo.

Tarefa em que Alan Ruiz também se tem notabilizado pela forma como se esquece dela. E quanto à participação do argentino na ligação do nosso jogo, até agora a sua actuação resume-se a uma palavra: nulidade. Perdas de bola constantes e incapacidade de ligar com os colegas. O número habitual de dar dois passos e rematar está estafado. Teria perdido espaço para Podence, não tivesse o argentino carta branca de Jorge Jesus. Já o miúdo tem um futebol quase subversivo e agitador, não parecendo conformar-se com o facto de ter o banco quase certo como destino preferencial.

Pergunta por responder
Com tanto que ainda pode acontecer enquanto o mercado parecer aberto é ainda cedo para prognósticos definitivos. Mas a grande dúvida centra-se para já na qualidade dos reforços e no contributo que estes poderão dar à equipa. A sensação de emulação do registo do ano anterior - muitas aquisições, poucos jogadores capazes de merecer o titulo de verdadeiros reforços - pareceu formar-se sobre esta passagem pelos Alpes. Os próximos jogos ajudarão a perceber melhor se se confirma ou era produto do cansaço de que falou Jesus.

2 comentários:

  1. Parabéns pela análise. De facto, bem vistas as coisas, se tivéssemos mantido os titulares da época passada, mais o Doumbia e o Bruno não só estaríamos melhor como tínhamos poupado dinheiro. Mas talvez as comissões fossem menores...

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  2. Actualmente tenho sempre grande dificuldade em fazer estes resumos, as pré-épocas tal como eu as conheci acabaram, são memórias de outros tempos. Hoje resta a um adepto esperar pacientemente o fecho dos mercados para conseguir avaliar o que sobrou do plantel, quer o que acabou a época anterior, quer o que iniciou a pré-temporada.

    Neste momento vivo na ansiedade de saber se, por exemplo, Bas Dost, resiste ao chorrilho de milhões que anda a correr por essa Europa fora (e a Ásia ainda está muito sossegada...).

    No ano passado, lá para 31 de Agosto, enquanto me sentava na bancada para ver o clássico com a vitima favorita do Slimani (e despedir-me dele...), chegavam as mensagens de jogadores a ser contratados à razão de um por hora, mais a possibilidade de Adrien se ir de braço dado com Slimani.

    Não há nada que o Sporting possa fazer contra isto, até ao fecho do mercado qualquer jogador pode sair (e à pressa algum entrar) conforme o peso da prata no bolso dos clubes abastados. Infelizmente alguns podem fazer uma enorme mossa naquilo que está agora idealizado pela equipa técnica obrigando a reformular opções e eventualmente a deitar fora uma boa parte do trabalho que agora está a ser feito.

    Talvez por esta razão, o trabalho inicial do treinador seja lapidar o plantel, há neste momento jogadores a mais e posições ainda carentes, o que perspectiva que ainda irão existir muitas mudanças até formar o grupo final que atacará o campeonato após 1 de Setembro. Pelo meio, com outro plantel, diferente do que esteve na Suiça e diferente do que irá jogar o campeonato, haverá que vencer uma pré-eliminatória...

    Não gabo a sorte a quem tem como responsabilidade gerir isto tudo, mas é também por ter essa capacidade que o líder ganha um ordenado muito superior ao meu, e se arroga de ser capaz de fazer a diferença para todos os demais.

    Eu cá fico a puxar o lustro à minha gamebox, mortinho para o momento de a estrear.

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