quarta-feira, 26 de setembro de 2018

José Peseiro na boca do leão


Texto escrito no ãmbito da cooperação com o site Fairplay

Peseiro será sempre lembrado no Sporting pelo quase sucesso de 2005 que havia de redundar em fracasso no curto espaço de dias. Na altura viu esfumar-se a glória de um titulo nacional e um titulo europeu que acabaria por lhe ditar o destino logo no inicio da época seguinte. A desconfiança de ser incapaz de ganhar acabou por impor a sua lei nos primeiros desaires da época seguinte.

É essa desconfiança que inevitavelmente ganhou forma após a derrota de Braga, anulando rapidamente a surpresa pela forma como vinha conseguindo juntar as peças de um Sporting estilhaçado. Mesmo que o futebol jogado não fosse propriamente sedutor, Peseiro parecia ter conseguido montar uma equipa eficaz. Mas era consabido que o beneficio de algum estado de graça se extinguiria no primeiro desaire. Foi isso que inevitavelmente aconteceu.

Assim foi em Braga. Mais importante que a qualidade do jogo jogado, onde as estatísticas confirmam a igualdade no desempenho das equipas, acabou por ser o resultado a premiar a eficácia dos da casa a ser determinante nas análises que se fizeram ao jogo. Como sempre quem perde sai por baixo e quem ganha recolhe os louros.

Fosse agora ou depois, o problema da desconfiança levantar-se-ia na mesma como um denso e escuro nevoeiro sobre Peseiro ao primeiro mau resultado. No caso em apreço, de pouco parece valer agora invocar o historial recente entre ambas as equipas, ignorando que as dificuldades sentidas ante os arsenalistas não são novas e remontam a períodos de maior fulgor e estabilidade do que os vividos desde o dealbar da época em curso. 

Contudo, nem o Sporting seria o principal favorito ao titulo mesmo que tivesse saído vencedor, nem o Braga passou a ser mais candidato do que era antes do jogo começar. Por razões diversas mas óbvias, cada um deles permanece na luta, mas conservando o seu estatuto de outsider face aos favoritos FC Porto e SL Benfica. No fundo este resultado não trás nada de muito novo ao que se poderia adivinhar. Se com o passar do tempo  as vitórias regressarem, esta derrota será um mero um percalço. Mas nunca poderá ser assumido como o fim as aspirações para o campeonato.

Quando se soube que Peseiro ia regressar ao Sporting o próprio se encarregou de afirmar o quanto era diferente do que havia chegado há 14 anos: 

Chego com a mesma motivação e responsabilidade de ser treinador de um enorme clube, mas agora com mais experiência". 

Será agora essa qualidade que terá de convocar para lidar pessoalmente com o actual momento, bem como perante o grupo de trabalho que lidera. Se normalmente um jogo em casa com é de vitória obrigatória, o resultado de Braga “obriga” ainda mais a vencer o Marítimo, o jogo que se segue. Saber lidar com a pressão e retirá-la do seio do plantel durante a semana que antecede o jogo é a primeira tarefa.

Mas não poderá ficar por aí. Apesar dos bons resultados conseguidos até Braga, não passaram despercebidas as dificuldades que o Sporting enfrentava na organização do seu processo ofensivo. À primeira vista tal pode soar de forma contraditória à impressão de técnico de perfil ofensivo, mas descuidado a defender, que deixou na sua passagem. 

Talvez não seja tanto assim, se se atender que a organização do ataque funciona para uma equipa como o telhado e os acabamentos numa edificação nova: são os últimos a finalizar e sobretudo os segundos quanto mais elaborados mais difíceis são de alcançar. 

Recuando a 2005, apenas à sexta jornada o Sporting estabilizou o seu jogo. Após um inicio prometedor na primeira jornada, o Sporting baquearia consecutivamente e de forma comprometedora para o resto do campeonato, entre empates e derrotas que só seriam interrompidos num jogo com o Estoril (1-4). Mais à frente alternaria uma pesada derrota fora com o FC Porto (3-0) e uma exibição de gala com o Boavista (6-1). 

Não sabemos se Peseiro conseguirá impor agora o futebol que então o caracterizou e que, apesar da ausência de títulos no final, representa do melhor que o Sporting apresentou no século em que estamos. Mas tivesse o Sporting conseguido estar mais vezes nas decisões da Liga nacional e da Liga Europa como então esteve, e seria muito provável que houvesse hoje o respectivo registo na sua sala de troféus. 

Creio ser bem patente nas exibições da presente época, e independentemente dos resultados, que é preciso tempo e sobretudo um plano emocional colectivo bem mais estável do que aquele que o Sporting iniciou a época. De todos, Peseiro tem apenas a culpa pela coragem – ou loucura? – de não virar as costas a um desafio que tinha e continua a ter demasiados ingredientes errados para acabar bem.

Julgo ser importante reter como sinal de esperança que, apesar dos equívocos evidentes no jogo do Sporting, não é difícil de perceber que há matéria humana para melhorar. Gudelj fez apenas o seu segundo jogo e pode vir a beneficiar ele e a equipa de uma visão mais ousada e menos conservadora que o atar à ilharga de Battagllia. Bruno Fernandes não pode ser um controlador aéreo, antes sim um agulheiro que traça o destino da bola de pé para pé. Raphinha não pode ser apenas aquilo que as suas iniciativas individuais dão, é preciso que a equipa esteja mais próxima dele. Todos os sectores aliás precisam de comunicar melhor e para isso é preciso maior proximidade para que exista mais dinâmica e daí melhor fluência e segurança na posse da bola. Sem isso a equipa continuará a viver de fogachos individuais e daquilo que as falhas do adversário permitirem.

5 comentários:

  1. Num texto que vive Sporting, respira Sporting, permita-me alinhavar dois ou três comentários que julgo pertinentes.
    A DESCONFIANÇA. Não é necessário tecer grandes considerações sobre a importância da confiança, pois todos temos a noção que, na sua falta, não se vai a lado nenhum.
    Mas a desconfiança que refere no texto é a que se instala nos sócios e adeptos, e aqui, não há novidade nenhuma, porque todo o Sportinguista (a começar por mim ) é, por natureza , desconfiado, digamos que um céptico esperançoso. Optimista só conheço o S. Cintra. O grau dessa desconfiança ( mais activa , mais passiva) é que varia em função dos resultados.
    Essa desconfiança preocupa, mas não é nada que meia dúzia de bons resultados consecutivos não remedeiem. Porém, essa malvada não desaparece. Lá ficará à espera do próximo mau resultado.
    Quem melhor percebeu esta desconfiança foi Malcom Allison, quando à saída do túnel saudava sempre os sócios e só baixava os braços quando a "corrente" entre a bancada e o relvado estava estabelecida.

    Agora, a CONFIANÇA que é PROIBIDO perder é a do Treinador no seu modelo e a dos Jogadores no seu Treinador (até apetece dar o exemplo do Mourinho). Aqui é que o "caldo fica entornado". Neste plano, mais do que falar, os sinais que vão sendo dados devem ser elucidativos, seja no reconhecimento de jogadores na sua "forma", na reacção de jogadores às substituições,...

    A EXPERIÊNCIA de Peseiro, tem aqui um papel importante ( que não teve na sua 1ª passagem) na sintonização dos jogadores com o seu modelo e na consolidação da confiança que não pode, nunca, falhar. A sua experiência, resultante da passagem por contextos diferenciados, enfrentando novas situações e ultrapassando novos problemas, parece ter sido enriquecedora. Eu, sem desconfianças, quero acreditar que seja suficiente para manter a equipa num PLANO EMOCIONAL ESTABILIZADO, o que é decisivo . A neutralização das "fake news" sobre o Nani, será um sinal dessa experiência.

    HÁ MATÉRIA HUMANA PARA MELHORAR. Os resultados serão com certeza melhores, sempre que utilizar criterisamente os jogadores que são alternativa efectiva ( variando se necessário de sistema tático), e menos os "meros substitutos", que raramente resolvem o que quer que seja. Não é preciso referir nomes .

    SL

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  2. Tanta palavra para não ter coragem de olhar para o que está à vista?
    Praticamos um futebol que eu não via desde o início do século, completamente ultrapassado.

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    1. Concordo inteiramente se o inicio do século tiver sido por exemplo o ano passado. Lembro-me bem o que jogávamos...

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    2. Quando fomos campeões nacionais?

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  3. Uma coisa foi a estupidez natural de alguns sectores de adeptos do SCP em 2005. Como acontece aliás em todos os clubes e amiúde. Outra coisa bem diferente é o Peseiro que ainda agora decidiu levar o Nani - algo absolutamente do forro interno - para uma conferência de imprensa. No caso de antevisão do próximo jogo. Muito sinceramente não sei qual será mais incompreensível. Em 2055 produziu os resultados que produziu. Em 2018 vamos ter que aguardar.

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