Surpreendeu muita gente e indignou outros o titulo da entrevista a Frederico Varandas. Obviamente que o Expresso tem de vender nas suas várias plataformas e iria escolher para o título uma "punch line". Talvez fique para outra vez a reflexão sobre a efectividade do titulo, mas ninguém ignora que a miríade de facções, sensibilidades e personagens de sensíveis a inchadas, é um factor que frequentemente enfraquece o clube.
Mas tal não acontece tanto por causa da existência de várias formas de olhar a realidade, que faz da pluralidade Sportinguista uma riqueza, mas pela importância que os adeptos frequentemente conferem a quem as profere. São poucos os que hoje actuam e se pronunciam no universo Sportinguista de forma independente. O mais comum é reconhecermos nas opiniões o serviço prestado a um determinado interesse ou personagem, ou o receio de hostilizar a opinião do grupo a que pertencemos. É até comum sentirmos mais fidelidade nessas relações que no que aos interesses reais do Sporting diz respeito. E aí sim, o Sporting torna-se ingovernável, pelo excesso de ruído e irracionalidade à sua volta.
"Não contem comigo para alimentar este circo."
A entrevista é oportuna e esclarecedora relativamente ao tipo de liderança que Frederico Varandas quer impor. Um estilo que contrastará de forma significativa com o que o precedeu. A frequência das intervenções até agora já assim o confirmam. Não haverá pois entrevistas frequentes, confissões de estados de alma via redes sociais, promoção pessoal à custa da exposição mediática que o cargo confere, críticas por essa via aos jogadores. Parece-me uma boa noticia, excepto para aqueles que viam no presidente do clube um guia espiritual, um pai ou uma mãe ausentes, líder de banda ou seita religiosa. Ou pelos que precisavam de frases fortes para se relacionarem com o clube ou até mesmo para bramir nas redes sociais.
Se com esta nova atitude os protagonistas no Sporting voltarem a ser os atletas tanto melhor. E aqui e nomeadamente no relacionamento com os adeptos, há um grande trabalho a fazer, mesmo considerando as melhorias recentes. Mas ninguém admitirá que o silêncio seja a resposta sempre que o Sporting seja posto em causa. Obviamente que aqui não me refiro a qualquer obeso, jornalista de vão de escada que se use o nome do clube para se promover. O presidente do Sporting não deveria nunca descer à mesma pocilga onde estes seres se espojam.
"Sou muito pragmático e não me interessa nada do que ficou para trás,
negócios Gestifute. Sim, o Jorge Mendes ajudou neste caso e os
interesses do Sporting ficaram defendidos."
Pragmatismo talvez seja a palavra certa. É-me indiferente a quem o Sporting paga comissões nas transferências desde que os seus interesses sejam defendidos. A Jorge Mendes cabe defender os seus e ao presidente do Sporting elegemos para defender os nossos. Os termos do negócio com o Wolverhampton foram explicados.
Wolverhampton paga €18 milhões pelo Rui Patrício e o Sporting encaixa €14 milhões; os outros €4 milhões serão para os intermediários, sendo que a Gestifute, que era credora de €7 milhões do clube, abdicou de três. E o Rui abdicou de €1 milhão, do ano de contrato que restava do Sporting, e de €5 milhões, pelo prémio de assinatura.
Longe de me deixar satisfeito pelos números envolvidos, atendendo ao valor de Rui Patrício, não deixam de ser valores muito semelhantes ao que havia sido negociado anteriormente em condições muito mais favoráveis que as actuais. Mais do que um negócio é uma contenção ou prevenção de danos maiores. Avaliarei oportunamente a habilidade negocial de FV, assim o clube possa voltar a ter uma posição negocial forte na mesa de negociações, que manifestamente não é o caso das rescisões.
"Estes casos do Benfica são uma vergonha para o futebol português, uma vergonha"
Com esta frase lapidar ficou-se a saber que o Sporting não irá mudar as suas reivindicações relativamente aos vários processos a correr na justiça, fá-las-á provavelmente de forma diferente. Fica-se para já por saber como serão as relações institucionais entre os dois clubes e qual será o relacionamento com os demais clubes e instituições que o tutelam. Era bom que a menção "en passant" ao processo cashball deva ser tida por nós como um sinal de despreocupação...
"Sinto-me satisfeito com a qualidade do jogo? Não. Nem eu, nem o grupo, nem o treinador"
Falar sobre um treinador que muitos adeptos colocaram a a cabeça a prémio desde o primeiro dia seria sempre matéria sensível. Se vai falar de um treinador que não se escolheu, como foi o caso, mais ainda. Mas a matéria era incontornável, tão incontornável como passível de milhentas interpretações. Além do óbvio que se lia - que o futebol não estava à altura do mínimo desejável e possível - ficou a desvalorização do momento actual por força do contexto com dois objectivos claros: apontar o foco no futuro e aliviar a pressão sobre a actual direcção pelo facto de não ter tido outra possibilidade que não "herdar a criança".
"O empréstimo obrigacionista está montado e intermediado pelo banco Montepio, com cerca de €30 milhões para emitir em dezembro"
Este anúncio, já conhecido do dia anterior à entrevista, veio desmentir rumores postos a circular, sabe-se lá com que realismo ou que intenções ocultaria, de que ambos os dossiers seriam adiados. Num momento em que os resultados no futebol são o que são, uma escorregadela aqui seria a primeira grande derrota de FV. Viria dar razão ao seu "amigo" Ricciardi que "que até foi o único a não me dar os parabéns", segundo FV. Mais do que isso seria um foco de profunda preocupação. Porque quem não tem dinheiro não tem vícios e eu quero que este meu vicio passe de geração em geração e dure até à eternidade.
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