terça-feira, 11 de junho de 2019

Época 18/19: uma história de inconformismo, um capitulo de sobrevivência

Quando a época 2018-2019 começou as perspetivas para o futebol do Sporting não poderiam ser mais negras. Uma Comissão de Gestão no lugar onde deveria estar uma direcção, muitos dos melhores do plantel do ano anterior em debandada, eleições e respectivo ruído à porta e clube fraccionado e em total ebulição por via do processo de destituição da antiga direcção estão longe de ser os ingredientes necessários para cozinhar uma época futebolística.

A primeira grande tarefa para a Comissão de Gestão centrou-se na tentativa de reversão dos processos de rescisão litigiosa, ainda que antes tenha recorrido à figura do período experimental para denunciar o contrato com o treinador sérvio Sinisa Mihailovic. Os esforços de Sousa Cintra viram apenas o êxito com Bruno Fernandes, Dost e Battaglia. Hoje sabemos que a presença dos dois primeiros seria determinante para os resultados alcançados no final da época, especialmente a do craque português, em virtude da época estratosférica realizada, e sobretudo o que a sua valorização poderá representar para as contas da SAD no imediato ou num futuro próximo.

É verdade que a manutenção de Bruno Fernandes encerra em si o potencial de anular os prejuízos decorrentes de algumas opções estranhas seguidas no recrutamento para os lugares deixados vagos com a partida de titulares indiscutíveis e internacionais como Rui Patrício, William Carvalho, Gélson Martins especialmente. Seria preciso obviamente dinheiro que não havia para ir ao mercado encontrar jogadores que permitissem que o valor absoluto do plantel não sofresse profunda depreciação. Viviano, tal como Bruno Gaspar eram heranças da gestão anterior. Mas o italiano não é Patrício e a gestão da sua aquisição e presença acentuou a ideia de instabilidade que se vivia em Alvalade. A estes acrescia ainda Marcelo, ex-Rio Ave, que nunca entrou nas contas de Peseiro, o treinador que entrou para o lugar de Mihailovic.

A depreciação de valor era cada vez mais evidente, acentuada pela decisão estranha de recorrer ao mercado, ignorando a prata da casa que poderia ajudar a não exponenciar o orçamento anual. Estranheza que se acentuou nas aquisições de Gudelj, Diaby e que se confirmou com o convite ao lesionado Suturaru. Por cá Geraldes, Palhinha, Matheus Pereira, Baldé, entre outros, recebiam guia de marcha. O estágio de pré-epoca foi tão caótico como as constantes mudanças e anulações faziam prever e os resultados estiveram longe de ser auspiciosos. A primeira derrota no Troféu Cinco Violinos, ao fim de sete edições, trazia os maus presságios que os antecedentes históricos e a ausência de carisma de José Peseiro serviam para acentuar.

O nível exibicional andava entre o suficiente e o sofrível quando o Estoril vai a Alvalade impor uma humilhante derrota, instalando-se um ambiente ao qual o treinador dificilmente poderia sobreviver. A derrota seguia-se a prestação intrigante na Liga Europa, onde nem os golos nos minutos finais do jogo com o Volska conseguiram iludir um jogo de horrores, ante um adversário de nível claramente inferior. Peseiro seria despedido com lenços brancos no final do jogo pelos adeptos e por Frederico Varandas horas depois. A verdade é que nem o segundo lugar no campeonato impediu o accionar da mola do patíbulo e o treinador ribatejano foi à sua vida.

Era a vez do Keizerball. Numa jogada onde o recém-chegado presidente se vê obrigado a por o pescoço em linha, aterra em Alvalade, vindo dos longínquos Emirados Árabes aterra em Alvalade um treinador holandês cujo nome e curriculum nada diziam à generalidade dos adeptos e até aos entendidos. Discreto e beneficiando de um calendário favorável, conseguiu juntar os cacos para obter os primeiros resultados positivos, sabendo tirar partido do trabalho de estabilização realizado por Tiago Fernandes, que intermediou a sucessão de Peseiro. Os 30 golos obtidos em sete vitórias consecutivas levaram o novo treinador e equipa moralizados ao seu primeiro grande teste: o assalto ao castelo de Guimarães. Mas seria aí que se começaria a perder o ar do Keizerball, sendo o que o momento mais baixo seria vivido em Tondela, com uma derrota "impossível" de acontecer pela forma como sucede e com o adversário em inferioridade numérica.

Foi ainda à procura dos seus melhores momentos e de maior equilíbrio que o Sporting de Keizer chega à Final Four da Taça da Liga mas despido de qualquer favoritismo. Naquela que foi talvez a melhor e mais bem disputada edição da competição, o Sporting lutou com tudo o que tinha e podia para ganhar o direito a disputar a final e não se livraria do dramatismo do desempate por penalidades. Algo que haveria de repetir ao disputar a final com aquele que era, até ao momento, o líder incontestado da Liga 18/19. À semelhança do guião adoptado poucas semanas antes, quando se deslocou ao Dragão, o Sporting aceitou sem angústias o papel de favorito do adversário e sobreviveu como pôde até Oliver lhe oferecer a oportunidade de estender a disputa do título em causa por mais meia hora. Mais uma vez, e continuando a fazer história nesta matéria de desempates, a equipa de Keizer haveria de festejar e fazer o bis na competição.

Entretanto a SAD tentava arrumar a casa, desfazendo-se dos equívocos da direcção anterior e dos excessos na folha salarial para uma época marcada pelo regresso à austeridade. Misic, Marcelo, Lumor, Bruno César, Castaignos, Nani e Montero.  Doumbia, Borja e Luiz Phellype são recrutados e Geraldes recuperado na Alemanha. Mas o regresso aos jogos do campeonato e Liga Europa foram aziagos. Na eliminação ante o Villareal e com a goleada imposta pelo rival em casa Keizer sentiu pela primeira vez o peso do tribunal de Alvalade. A equipa era agora uma sombra do que prometia com a chegada do treinador, sofria golos com facilidade de não marcava tanto como outrora.  A repetição da derrota para a Taça de Portugal na casa do rival Benfica parecia querer dizer que a Taça da Liga teria que servir de prémio de consolação.

Foi talvez esse ar de fragilidade que terá levado o Benfica de Lage a apresentar-se em Alvalade com a atitude de quem sabe que, aconteça o que acontecer, a presença no Jamor estava garantida, sendo uma mera questão de tempo. À atitude expectante do rival o Sporting respondeu com um dos mais consistentes jogos da época, conquistando na força e inconformismo do magnifico pontapé de Bruno Fernandes o direito a disputar o segundo mais importante troféu nacional. Uma miragem produto de um delírio optimista se visto do atribulado momento de onde partiu no início da época.

Chegar à final é uma coisa, ganhá-la é outra bem diferente. Ainda por cima com um oponente a precisar de se justificar internamente perante a sensação de terem oferecido numa bandeja o campeonato ao adversário. Em estratégia que ganha não se mexe, parece ser agora o lema de Keizer. A receita que havia ditado a conquista da Taça da Liga seria novamente assumida sem qualquer pejo, reconhecendo o melhor e maior número de argumentos à equipa de Sérgio Conceição. E foi mesmo até ao fim, como dizia a frase motivadora assumida pelo clube.

Quando Luiz Phellype parte para aquele que foi o último penalty levava nos seus ombros e na ponta das botas a vontade inquebrantável dos seus adeptos que, mais uma vez enchiam o Jamor. A redenção de um dos momentos mais severos e implacáveis para o seu orgulho que lhes havia sido imposto um ano antes estava ali, contido no peito e nas gargantas, à espera de soltar num rugido que ecoará nas histórias das finais daquela arena.

A história desta época futebolística do Sporting é uma história de inconformismo, é um capitulo de sobrevivência de um grande clube, que se recusa a aceitar a desgraça dos vaticínios sinistros a querer adivinhar-lhe o fim que infelizmente ecoa muitas mais estridente de dentro para fora. As duas taças conquistadas, em particular esta última, são uma vitória sobre os adversários melhor habilitados e apetrechados e também, algumas vezes, contra uma parte de si mesmo.

São dois bilhetes que permitem agora à administração em funções de valer os argumentos exibidos por altura das eleições, que dão novas oportunidades ao treinador para a construção de um plantel à imagem das suas ideias e convicções, mas cuja validade expirará em desaires comprometedores como os registados com os Tondelas desta Liga NOS, a quem logrou apenas conquistar um mero ponto para o seu pecúlio. E os treze pontos de distância para o campeão em título denunciam que neste defeso tem ainda uma longa distância a percorrer para poder partir ao seu lado momento em que soar o tiro de partida para a Liga NOS 19/20.

Artigo escrito para o site Fairplay

3 comentários:

  1. O que é facto é que o Keizer em meio ano conquista o que o Mestre da Táctica tão elogiado e bajulado conquistou em 3 anos, e uma dessas provas nem foi ele que conquistou o direito a lá estar, a Super Taça. Esse é que é o facto. O futebol não é o melhor? Pois não muito longe disso mas não é pior que o nojo de futebol que Jesus nos servia em 16/17 e 17/18, tirando 15/16. Nessa época fizemos 86 pontos, muito bem, mas quando treinadores que dizem ser inferiores a Jesus como Vitória, Lage e Conceição também já fizeram média pontual por aí, esse argumento quanto a mim cai por terra.

    Mas sim na próxima época é preciso melhorar bastante. Melhor que o burro do Jesus.

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  2. O jasus era burro, mas no primeiro ano o campeonato era nosso, não fosse a quantidade de toupeiras que apareceram nesse fatídico ano. Se formos honestos, nunca poderemos comentar a passagem de jasus sem mencionar o roubo que foi essa primeira época. Caso não tivesse acontecido, nada teria sido como foi. My opinion!

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    1. A verdade é que ele nunca mostrou verdadeiramente o compromisso com o Clube, ameaçava muito mas nunca pôs a boca no trombone... andou 3 anos a dizer "ah fiz 86 pontos e não sei como fui campeão" mas nunca concretizou o que dizia... falasse sem medo de castigos, o que ele sabia que estava por trás desses roubos... porque é que nunca concretizou o que dizia? Medo de desagradar o patrão e seu Presidente, como ele disse, Luís FIlipe Vieira? Só pode.

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