terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Quando precisas de vencer quatro vezes para ganhar um jogo só

É possível a tua equipa jogar bem, ser claramente superior ao adversário e ganhar justamente e quando o jogo acaba a alegria que deveria ser uma natural consequência estar contaminada por um sentimento de tristeza e revolta? No futebol português é. E infelizmente é uma experiência vivida vezes sem conta, muitas vezes em que, como ontem, não conseguimos ser tão fortes, acabamos vergados sob o peso de mais uma derrota. 

Não nos roubam só os golos e os pontos e, dessa forma, também as vitórias. Roubam-nos a possibilidade de crescer, de lutar ombro a ombro. Ganhar significa para nós ter que vencer várias vezes, vários adversários, incluindo a nós mesmos. E assim foi ontem, também. 

  • Tivemos que vencer o adversário, a quem fomos quase sempre superiores. 
  • Para o conseguirmos tivemos que vencer também um VAR zarolho, picuinhas, para quem o futebol seria parecido com um chá de beneficência, sem contactos. 
  • O mesmo tivemos que fazer a um árbitro que genericamente teria estado bem, sem a intervenção do VAR, mas, chamado por este, esteve sempre cheio de medo das consequências de enfrentar um poder decrépito mas que, no seu estertor, ainda tem um longo braço para fazer mossa numa carreira que pretende os grandes jogos e a internacionalização. O lance da expulsão de Pepe é a ilustração perfeita de um árbitro transido de medo, e encurralado perante a evidência e a dificuldade em enfrentar a pressão do banco e dos jogadores azuis.
  • Tivemos que nos vencer também a nós mesmos. O jogo de Guimarães havia deixado dúvidas sobre o nosso fôlego para a grande corrida que é um titulo de campeão. E a falta de vitórias em clássicos e muito em particular de Amorim sobre Conceição instituíam dúvidas ainda maiores. Para ganhar tivemos que vencer quatro jogos, quatro vezes num jogo só. Tivemos que marcar 4 (quatro!) golos limpos para vencer por dois.

Talvez não haja melhor exemplo de superação para ilustrar os parágrafos anteriores que Eduardo Quaresma, a grande surpresa da noite, por ausência inesperada de Coates. Jogador com talento, mas cuja afirmação esperada no futebol profissional tarda. Depois de duas experiências externas fracassadas, tanto por culpa própria como por infelicidade ou desacerto nas escolhas, Quaresma apareceu em grande, pleno de foco e concentração, anulando o jogador adversário em melhor forma. 

Mas da sua exibição será apagada uma assistência primorosa, plena de garra e oportunidade na forma como ganha por duas vezes consecutivas o lance, por erro crasso de avaliação do VAR e falta de personalidade do árbitro, que não aguentou a pressão de um banco em pé, num já clássico movimento de pressão e atemorização sobre as equipas de arbitragem.

Quaresma não poderá celebrar aquele momento, nem pode quedar-se a lamenta-lo. Tem de seguir em frente e fazer dele o ponto de embraiagem para um re-arranque e reencontro com o destino que quer ser o seu. O mesmo tem que fazer o Sporting sempre e quando lhe saiam ao caminho os VAR zarolhos e árbitros medrosos.

Gostava de falar de futebol. Mas quarenta anos disto ensinaram-me que "isto" não é apenas futebol.

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