Muito se falou durante a campanha eleitoral da necessidade da criação de uma equipa B ou de um clube satélite. Essa ideia tem agora duas boas oportunidades com a subida do Atlético ou com a manutenção do Sporting da Covilhã. Um porque é quase vizinho e outro porque é uma das nossas filiais e que ainda por cima nada lucrou com a sua súbita "andradização". Têm a palavra os dirigentes do Sporting.
O Cantinho do Morais também hoje se referiu ao assunto. Havia também abordado o assunto aqui e aqui.
Tirar o futuro das mãos do destino
São jogadores como Baldé que justificam a criação de um verdadeiro projecto de formação no Sporting que complemente o que se vai fazendo em Alcochete e que, ao nível do futebol, é o que ainda nos vai mantendo em contacto com o desígnio de sermos pelo menos tão bons como os melhores. Atirar o futuro ao destino, que é ao fim e ao cabo o que vimos fazendo, está longe de ser solução. Neste momento e neste contexto fazemos pior que o FCP há muito tempo e provavelmente que o SLB, que entregou a um treinador conhecedor como Rui Vitória a afirmação de 2 dos seus valores mais promissores. Esse projecto complementar, que deveria ser acarinhado por todos como
o verdadeiro investimento, poderia passar pela formação de uma equipa B, que aqui já defendi, mas que tem na Bancada Nova (que entretanto “regressou”)
as melhores justificações.
Mas a solução da equipa B, talvez a ideal, não é única. A criação de um protocolo de longo prazo, devidamente planeado, com um clube da periferia de Lisboa, por razões de proximidade, já dotado de boas infra-estruturas, seria uma solução a considerar no sentido de fornecer o estágio que tanto falta faz aos jogadores saídos da formação. Um estágio que lhes dê continuidade à formação continuando a jogar. Um protocolo não nos moldes em que já foi anteriormente efectuado com o Lourinhanense, ou recentemente com o Real Massamá. Por norma estes acordos começam por falhar ao não ser bem acolhidos nos adeptos locais, por parecer que o clube grande apenas quer do mais pequeno uma barriga de aluguer e, uma vez consumado o parto, pouco ou nada reverte a favor do “parturiente”.
Sabemos bem que grande parte dos pequenos clubes da periferia de Lisboa sobrevive de forma dramática, submergidos em problemas financeiros. Que, apesar de registarmos uma situação semelhante, por comparação com os nossos, são muitas vezes verdadeiros “peanuts”. Para tornar apelativo um protocolo nos termos sugeridos o Sporting deveria e poderia oferecer contrapartidas, como por exemplo o atractivo económico de uma percentagem simbólica do passe dos atletas que passassem pelo clube parceiro. Veja-se que 0,5% do passe de Veloso teria rendido ao Olivais e Moscavide 40.000 euros. Quase uma insignificância para nós e uma verdadeira fortuna para o clube, que, à beira do seu centenário, enfrenta agora a extinção por problemas financeiros.
Um protocolo assim teria obviamente que passar pela escolha criteriosa das equipas técnicas e poderia ser também um braço da formação feita na Academia Sporting, onde, muitas vezes, jogadores de qualidade, vêem a sua afirmação interrompida pelas contingências habituais na vida de um jovem futebolística, que vão das lesões às “dores de crescimento” dos adolescentes. Poderia servir igualmente de instituto de formação de jogadores com qualidades para se tornarem treinadores, prolongando assim uma ligação proveitosa para ambos, clube e jogadores. Abel, jogador a quem é apontada capacidade de liderança no balneário e licenciado em educação física, poderia encontrar aqui uma solução conveniente para ambas as partes e que a prorrogação do seu vínculo como futebolista já não permite divisar.
Fazer primeiro, fazer diferente, fazer melhor
Fazer diferente, fazer melhor e fazer primeiro que a concorrência seria com certeza a melhor forma de anular as vantagens dos rivais. A aposta na formação tanto tem servido de bandeira quando as coisas correm bem e como de desculpa quando correm mal, mas tarda em ser assumida não com a resignação de que nada mais ou melhor pode ser feito, mas como uma medida estratégica, capaz de voltar a por o Sporting nos eixos. Hoje o nosso clube é tão conhecido por produzir bons jogadores, por descobrir e burilar talentos como por os desperdiçar. (...)
No meu entender o que se tem anunciado como uma aposta na formação tem sido o triunfo e afirmação dos jovens de Alcochete sobre jogadores com outro estatuto, contratados para serem titulares. A verdadeira aposta na formação nunca foi feita a sério no Sporting e nunca será feita sem que se dê continuidade à qualidade do trabalho desenvolvido em Alcochete no momento em que os jogadores se tornam seniores. Ao contrário do FCPorto, que nem faz da formação a sua maior aposta, o Sporting não acompanha de perto o crescimento dos seus jogadores, nem do ponto de vista técnico nem sequer do ponto de vista afectivo. Os que não conseguem o acesso à equipa principal, a grande maioria, além de deixados à sua sorte, não lhes vêm abertas grandes possibilidades de "estagiar" em equipas com projectos ambiciosos, estáveis ou pelo menos bem dirigidas do ponto de vista técnico.
Será que os Sportinguistas não se interrogam porque são os nossos jogadores dos melhores até aos júniores e depois são relegados para suplentes, ao contrário dos seus congéneres portistas, p.ex.? Nesta fase crucial do seu crescimento, e perante a inactividade, é aqui que perdemos o contacto com muitos dos jogadores que ouvimos depois falar. Mesmo não se tratando de grandes talentos, são bons jogadores que nos poderiam ser úteis em campo e na tesouraria, por serem tão bons ou melhores do que os que nos custam muito a pagar.