quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dos pregos e martelos ao charuto e limusine

Tal como prometido ao nosso amigo Renato - um sportinguista de Sines (belas caldeiradas, pois claro, e nem todas com peixe…), de fé inabalável - proponho a reflexão sobre a fraca assistência do passado domingo. Como o Renato muito bem assinalou, a hora, o dia, o adversário e o boletim meteorológico aprazados para o jogo eram desde logo um convite para os sportinguistas ficarem em casa. A importância reduzida desta fase e da própria competição também não ajudou muito. A época pré-natalícia, com demasiadas solicitações à já de si estafada carteira (depauperada, quiçá…), e com os cartões de crédito de muitos a atingirem o ponto de ebulição, concorreram também para que não chegassem a 8.000 os presentes a uma das melhores exibições da época. Importa pois saber porque jogou o Sporting àquela hora quando é do senso comum que, nas condições aduzidas, o espectáculo seria pouco apelativo.

Tenho poucas dúvidas que foram os interesses de uma transmissão televisiva que se sobrepuseram a quaisquer outros. Aceito que é uma receita que não pode ser negligenciada, duvido é que a hora do jogo fosse a única que a possibilitaria. O nosso presidente já se declarou interessado em testar a adesão dos adeptos a jogos a horas mais civilizadas, propondo-o de forma bem sustentada, como se pode ler no nosso arquivo “Apoio ao Norte”. Porque não se disputou então o jogo ao fim da manhã / inicio da tarde de domingo?

Duvido que isso alguma vez venha a ocorrer, pelo menos com o acordo da empresa detentora dos direitos televisivos. Porque obviamente que tal não lhe interessa. Detentora em grande parte da SportTV, que pelas mesmas horas tem um produto de grande audiência que é a Premier League, quem gere a Olivedesportos sabe que aqui em Portugal o interesse pelos 3 grandes sobrepõe-se ao de qualquer clube extra-muros e até à selecção nacional. E, como detém em exclusivo as transmissões nacionais, (e por muitos anos), dita as regras que lhe convém e não as que interessariam aos clubes. Aparentemente isto seria um contra-senso, dirão vocês, porque interessaria satisfazer os clubes, a quem compra os direitos. Passo a explicar:

Na mesma altura, na entrevista dada ao Record, chamou-me a atenção o comentário de FSF sobre as benfeitorias prestadas pela Olivedesportos aos clubes. Julgo que, acima de tudo, se referia aos adiantamentos que aquela empresa foi concedendo aos clubes. Não vejo a Olivedesportos com a capa de boa samaritana. Vejo-a no mesmo papel que hoje fazem os bancos quando emprestam desmedidamente a clientes e ainda lhes oferecem cartões de crédito: há quem chame a isto estratégia de fidelização, eu digo que é a asfixia. Não ao ponto de matar a galinha dos ovos de ouro (os clubes), concedamos-lhe a esperteza, mas de a manter ligada a uma máquina onde lhe controla os batimentos cardíacos e a respiração. Sabemos quão gratos são os doentes nestas condições… Na verdade, ao adiantar as receitas vindouras, a Olivedesportos não auxiliou os clubes mas apenas a si própria, contando com a conivência de direcções de vistas curtas e gestões ruinosas.

Hoje os clubes sobrevivem graças à loucura e paixão de muitos adeptos como o Renato, o Leão Transmontano e todos vocês. A Olivedesportos de há muito tempo para cá que é muito mais que 2 ou três gajos de pregos e martelos na mão, (vocês sabem do que eu estou a falar...) e, se o futebol acabar, nem darão por isso. O império cresceu enquanto o nosso futebol foi mingando até à indigência. Estranho não é? Claro que não!

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