O mercado está um lugar estranho

O mundo em que hoje vivemos é um pouco diferente do que existia há um ano atrás e muito por força da omnipresente crise financeira. Essa mudança afecta este microcosmos - não será antes macrocosmos?... -que é o futebol e isso é evidente no comportamento dos clubes perante o mercado de verão. Estes estão mais criteriosos quer quanto aos nomes quer quanto ao preço a pagar pelos jogadores pretendidos, em avisado retraimento. Veja-se, por exemplo, o Inter de Mourinho que não parece disposto a pagar por Deco e Carvalho mais do que o Chelsea pagou apenas há um ano pelo luso-brasileiro. Em Inglaterra e em Espanha há jogadores de primeira a preço de 2ª, muitos deles ainda sem colocação. Diz-se que o Real colocará na praça 10 jogadores. O impacto destas notícias no mercado é óbvio e, com tanta oferta, o preço tenderá a descer. Reservam-se as grandes decisões com tantas indefinições.

As excepções que estão a confirmar a regra são o mediático Real Madrid e o City de Manchester que, mesmo a pagar como protagonista não se consegue livrar do papel secundário que lhe parece estar destinado. Aqui, no nosso pequeno rectângulo, o filme é o mesmo do ano passado: no Porto vende-se a bom preço e, de bolsa cheia, compram-se promessas de, mexendo muito, mudar pouco ao essencial. Para os lados do Colombo advinham-se saldos na hora de vender, tendo em conta que o "artigo" não foi valorizado, mas continuar-se-á a comprar "mercadoria" de luxo avaliando pelo preço a pagar. O Sporting, o nosso Sporting, contratou apenas um jogador, pelos vistos uma decisão sensata, tendo em conta o custo/benefício que promete. Os 2 jogadores que faltam parecem estar pendentes da venda de Veloso e/ou Moutinho, estimando-se que sobre algum para o passivo, o "fulano" que não tem parado de engordar mesmo quando tudo à sua volta definha e emagrece. O Sporting parece, como os demais, refém das regras em vigor e, sem liquidez, restar-lhe-á realizar algum negócio de ocasião com um dos "predadores" instalados no topo da cadeia alimentar. Aos que impacientemente aguardam por novidades dou a receita de PB: tranquilidade. Aos "especialistas" em avançar nomes sem nexo: realismo e, porque não, decência.

Simultaneamente há, nos nossos quadros, jogadores destinados à "terra de ninguém" porque, tendo em conta os registos recentes nas suas folhas de serviço, não se imagina quem os queira mesmo em regime de voluntariado. Ronny, Stojkovic, Purovic, Romagnoli e Tiuí a treinar à parte será uma má decisão técnico-administrativa: desvalorizam-se como atletas quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista do seu valor no dito mercado. O Sporting é obrigado a pagar-lhes sem deles tirar qualquer proveito. Pelo que, ou os empresta sem custos para o clube receptor, mas permitindo-lhes competir, ou os integra no plantel. E, se atendermos ao estertor que foi o nosso final de época, com um plantel de igual número de 24 jogadores, a medida até não será assim tão despropositada. Não gostava de ver no meu clube situações como a de Adriano no fcp, como não gostaria de ver ninguém na minha empresa numa secretária vazia, virado para a parede. Por uma questão de princípio. E os princípios e as pessoas que os aplicam é que fazem os clubes diferentes uns dos outros.