domingo, 17 de outubro de 2010

Estórias do futebol português

Os Sportinguistas mais novos conhecem apenas as famosas escutas como testemunho da existência de elaborada teia de interesses, abrangendo árbitros, dirigentes federativos e até juízes desembargadores, com intuito, grosso modo, de proteger o FCPorto dos imponderáveis do futebol, como as bolas aos postes, a inépcia dos avançados ou dos treinadores. Desconhecem contudo, se não tiveram o cuidado de se informar, muitos dos episódios que atestam como conseguiu Pinto da Costa alavancar 3 décadas de hegemonia no futebol português. 

Os Sportinguistas que viveram os anos 80 certamente se lembram de muitas desses episódios e são talvez esses que, por isso mesmo, mais se indispõem com a indignação e o incómodo publicamente assumidos recentemente por alguns de nós com a publicação das escutas. Uma solidariedade que ofende a memória de 30 anos de chitos e golpadas, dos quais o Sporting tem sido, associada à inépcia dos seus dirigentes, um dos principais maltratados. Por isso socorri-me de alguns recortes da época para recuperar um desses episódios, que pode ser corroborado consultando os jornais da época.

Os passarinhos

Estávamos na época 89/90, que havia de consagrar o FCPorto como campeão nacional. Foi uma época cheia de casos. Na 25ª jornada o FCP deslocou-se ao campo do Portimonense e venceu por 1-0 golo de Rui Águas, numa arbitragem de campo inclinado de um senhor chamado José Guímaro. Os desacatos provocados pelos adeptos algarvios, indignados pela actuação do árbitro e provocados por arremessos de latas vindas do autocarro portista, acabariam por ter consequências mais tarde, com a interdição do campo do clube algarvio. O presidente do Portimonense, Manuel João confessava-se indignado com a arbitragem de Guímaro, afirmando “O que será mais preciso para um árbitro ser irradiado do futebol?” E, de forma já pouco premonitória avisou “O Sporting e o Benfica não passam de uns passarinhos” referindo-se ao contexto criado no futebol nacional.

O que é facto é que o Portimonense acabaria por descer de divisão nesse ano, consequência que muitos atribuíram à ousadia da denúncia de Manuel João. Só voltaria a conviver com os grandes do futebol nacional esta época, com uma equipa dirigente muito próxima do FCPorto, sendo um dos seus muitos satélites sem bandeira.

Guímaro haveria de ser irradiado do futebol por causa dos quinhentos contos que em tribunal se deu como provado ter recebido do presidente do Leça. No processo de investigação ficaram também célebres escutas comprometedoras para Pinto da Costa que, tal nos casos Calheiros e Apito Dourado, não lhe trariam grandes mossas. Não fora então também a sua publicação no já desaparecido jornal Independente e hoje pouco ou nada se saberia. 

Nota: este recorte não é da minha autoria, foi retirado há já algum tempo de um site que não consegui agora voltar a localizar.

8 comentários:

  1. Nunca, jamais me esquecerei dos chitos consecutivos dos 2 pintelhos:

    O da Bosta (que ainda por ai anda) e o Adriano (a voz fininha mais poderosa que conheci no futebol tuga)...

    Duas das personagens que mais matrataram o SCP. Por isso só consigo sentir um NOJO profundo qd vejo o pintelho da bosta de braço dado com a disnastia Roquette! (com a excepção, que confirma a regra, de nome António Dias da Cunha)

    SL

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  2. As viagens dos Calheiros...
    A arbitragem de Rosa Santos em Loulé para a Taça de Portugal
    O golo marcado pelo apanha bolas no Estádio das Antas
    O guarda Abel
    As defesas com as mãos fora da área pelo Baía
    As corridas atrás de José Prates e António Rola
    O "sportinguista" António Garrido na cabine dos árbitros
    A arbitragem de Mário Leal em Alvalade num jogo da Taça
    Os jogadores que custam meio tostão para o Porto mas 1 milhão para o Sporting

    São 30 anos de escória.

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  3. Cantinho,
    Por causa desse Sporting-porto apitado por esse leal estive um ano sem ir ao futebol. Nunca na minha vida tive de andar a fugir da polícia com excepção desse dia em que a PSP teve uma atitude completamente vergonhosa. Refugiei-me na 10A e quando pude saí dali com a convicção que não voltaria a um estádio enquanto não sentisse que o futebol português tinha mudado.
    O jogo foi o mais vergonhoso a que assisti na vida e quase vinte anos depois está tudo na mesma; acabei por voltar porque o amor ao Sporting falou mais alto, mas as ilusões de que o jogo se jogava só dentro de campo acabaram aí.
    Só tenho pena que os "tótós" que se sentam lado-a-lado com aquele mafioso e com o aspirante dos lampiões não percebam que só trilhando o nosso caminho, de uma forma recta e honesta, denunciando o que está mal e mostrando como se deve fazer é que honraremos a nossa história.

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  4. 10A

    Nem mais. Era criança. Devia ter pouco mais de 10 anos quando fui ver esse jogo com o meu pai. Ficámos na Norte, ao pé dos Dragões e foi nessa baliza que o inevitável Kostadinov marcou o único golo.
    Jamais esquecerei a vergonha que foi esse Mario Leal.
    Lembro-me de 2 penalties por marcar e um anti-jogo vergonhoso e um gozo autêntico por parte dos jogadores e responsáveis técnicos do Porto.

    Como tu dizes, nada mudou.

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  5. Cantinho,
    Por causa disso é que não consigo perceber as razões que levam a que o JEB se tenha em grande conta no relacionamento com o sistema, seja o pdc, o lfv ou 'sus muchachos' nos diversos órgãos do futebol. Eu JAMAIS apertaria a mão ao pdc depois de décadas de roubo e de desconsideração pelo Sporting (e por ele), eu coraria de vergonha se achasse que a escolha de um qualquer joão ferreira para um jogo com os lampiões era normal, ou ainda que a nomeação do duarte gomes pelo vítor pereira depois do litígio era normal.
    O futebol do clube é dirigido por quem não tem memória, experiência, competência e tom.... e essa é a grande crítica que eu faço à direcção. O futebol é o motor do clube e só será possível encarar o futebol como uma área em que podemos negociar abertamente com todos quando estas excrescências forem extirpadas do futebol português, até lá não seremos respeitados por todos os outros clubes e não seremos encarados senão como o menino obediente a quem dão um palmadinha nas costas e um rebuçado de vez em quando.

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  6. LdA,
    Eu também não me esqueço de tudo o que ouvi ao longo de anos. Nunca. Por tudo isso o Porto é sempre o meu rival, acima de qualquer outro. Ganhar ao Porto, chegar à frente deles no fim de um campeonato, é, por norma, o triunfo da verdade sobre a mentira. Com maior ou menor escândalo, com maior ou menor exposição, nunca deixo de pensar que com eles há sempre "vida para além" das quatro linhas.
    Como já várias te disse, para este caso, todas as analogias com a máfia são legítimas e, mutatis mutandis, aplicáveis ao modo de funcionamento do sistema. Ao futebol português fazia falta um jornalista de investigação como Roberto Saviano, que escreveu o extraordinário "Gomorra", sobre a máfia napolitana, juntamente com procuradores como Corrado Catani. Mas, como na série italiana Corrado acaba morto, mais vale nem mexer no vespeiro.

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  7. E quem se lembra do caso “mala preta” num beira-mar x porto?!

    Passo a explicar +/- de forma resumida.
    O beira-mar jogava com o Benfica e um anónimo disse á direcção do clube que oferecia uma boa quantia em dinheiro aos jogadores do beira-mar se estes ganhassem o jogo (algo completamente legal aos olhos da justiça).

    O problema é que o beira-mar ganhou mas o dinheiro só lhes foi entregue umas jornadas depois, precisamente no dia de um beira-mar x porto.
    Acácio na altura GR do clube deu uma entrevista á sic a contar o sucedido.
    Que tinha entrado um individuo no balneário do beira-mar a entregar uma mala preta cheia de dinheiro vivo ao capitão da equipa (acácio na altura) para ser repartido pelos restantes jogadores.
    Acácio recebeu a mala perplexo com a situação, entregou-a a um director do clube e minutos depois quando as duas equipas estavam a passar o túnel para entrar em campo, acácio diz que viu o tal anónimo que minutos antes tinha entrado no balneário da equipa equipado com um casaco do porto, soube-se depois que se tratava de um dirigente portista…eheheh

    Futebol Corruptos do Porto.

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  8. E o Miguel Guedes (que aprecio muitíssimo) a explicar-se durante 10 minutos no último Trio de Ataque? Quanta solenidade! Que barrigada de riso.

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