sábado, 23 de outubro de 2010

Um projecto atormentado

José Eduardo Bettencourt deu uma entrevista à “Abola” que será publicada em 2 partes. A primeira está hoje nas bancas. Como é habitual, é minha intenção partilhá-la na íntegra com os nossos leitores, coisa que farei apenas na 2ª feira, por razões que se prendem com a minha vida particular. Se o interesse se mantiver. Mas hoje avanço com aqueles que me parecem os pontos fortes do capítulo hoje publicado.

Da  extensão das declarações produzidas, num tom contraditório e uma humildade que não me soa genuína e a vitalização, há poucos factos novos. Mas há uma passagem que marca uma diferença de perspectiva fundamental entre o discurso do nosso presidente e a minha opinião. A dada altura da entrevista os jornalistas perguntam a JEB se “admite que os adeptos possam não ter visto em si aquilo que desejariam como imagem de poder?” JEB Responde: “Acho que têm razão, porque sempre humildemente disse que podia não ter perfil para isto. Mas também sabia que isso não era decisivo, porque no passado houve uns com mais e outors com menos perfil e isso não fez diferença nenhuma.”

De forma alguma posso concordar com este tipo de informação. Primeiro porque a eleição de JEB significou, nos momentos imediatos, uma lufada de esperança que há muito não se via no Sporting. Toda a contestação que de seguida teve lugar não nasceu por casmurrice ou antagonismo pessoal, mas sim por uma série de erros de palmatória que quem gosta do Sporting não podia deixar passar impunemente. É bom que se respeitem os factos e que a história não seja reescrita.

Depois porque a falta de perfil de líder para um clube como o Sporting, assumida agora pelo próprio, representaria sempre para nós um problema, como seria sempre para qualquer instituição. Talvez JEB devesse levar mais longe essa sua análise e ser mais consequente. Porque não ser o presidente que o Sporting precisa não quer dizer que não possa ser imensamente útil noutra função. Desde a sua entrada em funções que há melhorias significativas na modernização da área administrativa do clube, pelo menos da face que é visível para os sócios, com o é a recente possibilidade de imprimir-mos os nosso próprios bilhetes em casa.

Os prejuízos da sua acção até agora são muitos e evidentes e são agravados por ocorrerem num momento de particular fragilidade do clube e por JEB não ter atrás de si uma equipa que mitigue as suas fragilidades. Não ter um grande líder e uma equipa fraca é uma factura que o Sporting, isto é, nós todos, teremos que pagar. Certamente a juros bem elevados.

JEB crê que foi o destino que o colocou no Sporting. “Houve qualquer coisa que me mandou para aqui”. Sabemos o que essa noção de missão nos custou a todos em Alcacer-Quibir…

Ficam de seguida as frases que considero mais pertinentes nesta I parte:

Sabia que tinha de fazer de Messias para o povo judeu mas se calhar não era bem esse o Messias que estariam à espera”

Cometi o erro da impreparação porque não tive tempo para ver tudo e penso que confiei muito numa coisa que nunca devia ter confiado: acreditei que todos os egos do mundo  se apagariam para ajudar um bom samaritano a levar o barco para a frente

Não houve qualquer pessoa muito importante no Sporting que me tivesse ligado a pedir par vir. Mas houve colaboradores que manifestaram muito interesse  e o meu compromisso inicial  foi com eles, não foi com pessoas mais conhecidas no Sporting.

Reconheço que tenho de melhorar muito o trabalho na mobilização das elites sportinguistas, porque se não as tivermos connosco dificilmente conseguiremos fazer alguma coisa.

(Há uma quinta coluna) Historicamente sempre assim foi, não há nada de novo. As pessoas descobriram agora que as AG`S são complicadas. De certeza que não estiveram nas AG´s de Sousa Cintra e João Rocha.

Tive uma expressão infeliz, aquela do terrorismo, e já pedi desculpa. Mas ninguém comenta a forma baixa e ordinária como tenho sido tratado por algumas pessoas.

Temos obrigação de andar lá em cima. Claramente temos que ficar 15 pontos à frente do SCBraga. Indiscutivelmente. Ainda por cima acho que não estamos no topo da tabela por um conjunto de circunstâncias e coisas estúpidas.

Há um fosso (para os rivais) e esse fosso foi criado numa altura em que ainda é mais difícil recuperar.
(Não teme que o contrato dos direitos televisivos seja considerado um mau acto de gestão) Já fomos acusados há dez anos, de termo feito um mau acto de gestão porque iriam aparecer não sei quantos operadores. A história mostra que não apareceu ninguém. (não fez o contrato por uma questão de adiantamento de dinheiro?) Fi-lo por um conjunto de circunstâncias.

Tentei fazer um programa (de governo) que é claramente de fusão. Se as pessoas quiserem ser sérias, havia mais do que uma plataforma de entendimento. Mas a verdade é que foram alterando o seu discurso , primeiro era porque o clube não era dos sócios, depois porque era da SAD, posteriormente era o ecletismo.

O Sporting tinha de passar pela fusão da tecnocracia com a emoção, com os valores do Sporting, com a cultura Sporting. O Sporting criou algumas expectativas mas foi sempre um projecto atormentado.


Não posso dizer à terça, à quinta e ao sábado que o clube é dos sócios e depois descobrir que só um xeque com petrodolares é que resolve isto. No futebol tenho a consciência que se arriscou um bocado, mas tinha que se tentar alguma coisa e aí corri alguns riscos, mas também acho que, com todo o respeito, se podiam ter corrido outros riscos no passado.


Desde que assumi a presidência encetei um processo de transformação, dizendo às pessoas como é que a casa tinha que ser arrumada. Esse é um legado extraordinário, em termos de mobilização e empenho das pessoas.


Não faço rigorosamente mais nada que não seja o Sporting. (O Sporting ocupa) em média mais de doze horas.


O dinheiro que ganhei este ano não deu para pagar o IRS que tive que pagar agora no final de Setembro.


O esforço e a dedicação de Costinha, na formação de um grupo forte e com princípios bem definidos.


O empenho e a forma profissional com o Paulo Sérgio e a sua equipa técnica tem trabalhado.


Estou optimista quanto ao futuro e acredito que o Sporting irá, certamente, entrar numa fase muito positiva.


O futebol português tem um deficit de coragem. Um País como Portugal não pode gastar o que gasta no futebol. Há um futebol que tem 95% por cento de pessoas extraordinárias. Depois acho que há uma componente de país pequeno terrível, muito baixa. Há cinco por cento de mafiosos.

Há uma coisa que quer queiram quer não, acontece no Sporting: As pessoas gostam de mim.

8 comentários:

  1. Lda

    Embora também não concorde com algumas decisões, compreendo o nosso Presidente e gosto dele. Ninguém dúvida do seu Sportinguismo e quem duvidar que leia na entrevista as coisas de que ele abdicou para ser Presidente (as quais não foram só financeiras). Ok ninguém o obrigou mas é uma maluqueira! Admiro lhe essa maluqueira no bom sentido, assim como a humildade para reconhecer aspectos em que esteve menos bem e acho que essa é a atitude de alguém inteligente e que nos deixará mais perto do sucesso. Quanto à questão da liderança eu prefiro aquelas que são baseadas no conhecimento e no trabalho, do que aquelas que são baseadas apenas na imagem e no discurso. Dessas de facto não precisamos nada! Da proximidade que vou tendo com o clube tenho registado bastantes melhorias que, infelizmente, não encontram paralelo com o sucesso desportivo no futebol. Por isso, e porque o mundo da bola é mesmo assim, costumo dizer que o nosso Presidente ainda corre o risco de vir a ser bestial. Mas para tal é preciso resultados desportivos e sobretudo estar atento aos movimentos negros do futebol português para não sermos comidos!
    Ou vocês acham que o realizador do filme "Fernando Gomes sai do fcporto por não concordar com o Pinto da Costa e assim daqui a uns meses já pode concorrer à Liga" não é o mesmo do "Vítor Baía sai do porto e declara ser triste o clube não considerar os seus antigos jogadores e se tivesse estado no slb ou no Sporting é que era e portanto já se pode candidatar à Federação pq n se dá com o pintinho" ? Espero que o Sporting não pague bilhete para assistir a este filme!

    ResponderEliminar
  2. Carlos:

    "Quanto à questão da liderança eu prefiro aquelas que são baseadas no conhecimento e no trabalho, do que aquelas que são baseadas apenas na imagem e no discurso"

    As características que apontas não têm que ser mutuamente exclusivas num líder, antes pelo contrário. No caso em apreço no que diz respeito aos conhecimentos exibidos e nos resultados alcançados a nível desportivo - porque o Sporting é acima de qualquer outra coisa um projecto desportivo - quer a nível de discurso e imagem penso que temos pouco mais de 1 ano que fala por si.

    E são factos não são questões subjectivas, que não passam de wishful thinking que a realidade tem desmentido, como por exemplo vaticinar que JEB ainda vai ser bestial. Oxalá acertes...

    ResponderEliminar
  3. A este senhor, já que não se demite, só lhe pedia que ficasse calado durante muito tempo e especialmente não desse entrevistas a pasquins lampiões...mas isso é pedir muito a quem por natureza não sabe qual o momento certo para estar calado.

    Não era este mesmo senhor que dizia nas últimas semanas que os meios de comunicação tratavam mal o Sporting?
    E agora vem dar a entrevista a um jornal que se inclui claramente nessa gentalha?

    Sede de protagonismo e mais uma vez piruetas de 180º de um momento para o outro...típico!

    SL
    José

    ResponderEliminar
  4. Lda

    Obviamente que não são características mutuamente exclusivas e que bom seria se tívessemos alguém que as reunisse a todas. Infelizmente não temos..Nem os nossos rivais! E foi nesse sentido que referi que necessitamos sobretudo de uma liderança reconhecida pelo trabalho e conhecimento. Ou melhor, pelo Esforço, Devoção e Dedicação (porque a Glória será uma consequência). Claro que a época passada foi muito triste para todos nós e era de adivinhar tendo em conta o momento para o qual foram marcadas as eleições..Somando a turbulência criada com a saída em bloco da equipa que geriu o futebol e o caso Sá Pinto, o resultado foi o que vimos...Nesta época (que deveria ter começado a ser planeada a meio do ano passado) as coisas até arrancaram bem e conseguiu-se criar alguma ilusão que se devanesceu em Paços de Ferreira. Mas nunca por um segundo senti da parte do nosso Presidente a sensação que deixou de acreditar no trabalho que está a fazer e nas pessoas que escolheu para trabalhar consigo. E isso, pelo menos para mim, ainda me dá alguma confiança. Mas obviamente que estamos a todos os níveis em evolução e não há muita margem. É um facto. De qualquer modo, em muitos aspectos acho que está a ser feito um bom trabalho e que merece continuidade (p.e: financiamento recorrendo à venda das gameboxes e passes de jogadores jovens, Canal Sporting, desenvolvimento do potencial dos núcleos, expansão das escolas academia, pavilhão, serviços para os sócios,etc)

    ResponderEliminar
  5. Carlos:

    Era de adivinhar que o tempo das eleições não era o melhor? Sem duvida!!! E o que fez JEB como vice-presidente do clube para que timming fosse mais favorável?

    Esta época começou bem com uma ilusão que se desvaneceu no 1º jogo da Liga? Isto é começar bem???

    Tens toda a legitimidade para continuar a ter "alguma confiança". Mas como dizia anteriormente isso é algo que não se baseia em factos concretos, sendo també verdade que, face à situação actual, p.ex. no futebol só se pode melhorar...

    E as nossas divergências sobre o produto do trabalho de JEB colocam-nos nos antípodas:
    É no minimo estranho que vejas como boas medidas a antecipação de receitas como a das gameboxes ou a venda de passes de jogadores que ainda estão em formação!!!

    E estranho também que os Sportinguistas possam aceitar isto sem que a necessidade de tais medidas sejam cabalmente esclarecidas,isto depois de acabar de se aprovar um novo "project finance" que nos "ia aproximar dos rivais" em termos de disponibilidade financeira.

    Isto equivale a eu ter ido ao banco fazer um novo acordo sobre o financiamento do crédito à habitação e na semana seguinte pedir a antecipação de parte dos meus vencimentos pelos próximos 2 anos. Falta só pedir a antecipação da quotização e da bilheteira.

    Como isto é considerado um bom trabalho é que eu não consigo compreender.

    Quanto aos núcleos parece começar a querer fazer-se algo melhor,mas convenhamos que o legado de Menezes Rodrigues e FSF não é difícil de superar. Saúdo a deslocação aos núcleos com mais assiduidade,mas ambos sabemos que a vida dos núcleos é bem diferente da dos dias de recepções presidenciais.

    Canal Sporting e pavilhão são ainda projectos pelo que não merecem, por hora, muitos comentários.

    Os serviços para sócios são agora trabalhados de uma forma muito mais eficaz que nos anos anteriores, o que, tal como os núcleos,não é dificil de superar o histórico recente. Espero que em breve JEB perceba que o que a empresa de Oliveira faz no atendimento aos sócios pode ser muito melhor desempenhado por Sportinguistas.

    ResponderEliminar
  6. Eu na pré-época gostei da ver a equipa a jogar. E penso que foi essa a razão que levou a encher a nossa bancada na mata real..É a isso que me refiro quando disse que até começámos bem.
    Quanto à venda de passes de jogadores jovens acho muito bem. Precisamos de receitas e é um risco partilhado. Nada nos garante que esses jogadores irão vingar apesar do potencial que têm! Tivessemos ido também buscar uns euros com o Paím, Tomané, Edgar Marcelino, Lourenço e outros que tais. Para mim isto é uma rentabilização indirecta da Academia. Que já fizemos no passado!Inclusivamente o porto que supostamente tem a melhor situação financeira o fez ainda a semana passada. Há que pesar o peso de também não entrar nos negócios, que foi o que andámos a fazer nos anos anteriores e depois não conseguíamos colocar ninguém. Precisamos de dinheiro e é bom que consigam imaginar soluções alternativas para nos financiarmoso. Mas obviamente que também precisamos de investir melhor.. O que os outros não fizeram já passou e ficou registado. Agora não posso menosprezar o trabalho de quem o faz só porque era mais fácil fazer do que os anteriores.

    ResponderEliminar
  7. Como o Carlos consegue ter optimismo e concordar com JEB e a sua Direccao e algo que me escapa profundamente. No fundo, e a razao pela qual se hoje voltassem a haver eleicoes, podemos todos apostar que JEB voltaria a vencer. Talvez nao por 90-10 mas nunca por menos de 80-20. Os socios e adeptos teem o clube e a Direccao que merecem...

    PS: Conseguir ler, nestes excerptos de entrevista, alguma frase encorajadora, e como encontrar uma agulha num palheiro. Gosto da alusao repetida a "um conjunto de circunstancias" sempre que nao convem dizer mais.

    SL

    ResponderEliminar
  8. calma malta... a ambiçao de quem nos dirige e ficar 15 pontos acima do braga!!
    ia jurar que ja lhe tinha ouvido dizer que o objectivo era ser campeao... devo ter percebido mal

    ResponderEliminar

Este blogue compromete-se a respeitar as opiniões dos seus leitores.

Para todos os efeitos a responsabilidade dos comentários é de quem os produz.

A existência da caixa de comentários visa dar a oportunidade aos leitores de expressarem as suas opiniões sobre o artigo que lhe está relacionado, bem como a promoção do debate de ideias e não a agressão e confrontação.

Daremos preferência aos comentários que entendermos privilegiarem a opinião própria do que a opinião que os leitores têm sobre a opinião de terceiros aqui emitida. Esta será tolerada desde que respeite o interlocutor.

Insultos, afirmações provocatórias ou ofensivas serão rejeitados liminarmente.

Não serão tolerados comentários com links promocionais ou que não estejam directamente ligados ao post em discussão.