O fundo é russo mas não é para "loiros"

A questão de fundo destas eleições tem sido o fundo de BdC e por isso seria inevitável não escrever sobre ele. Como não gosto fazer juízos precipitados aguardei a sua apresentação para depois me pronunciar e é isso que vou fazer hoje.

A honorabilidade de Bruno de Carvalho
Muito se tem falado da credibilidade de Bdc. A vida pessoal e profissional do candidato desde que decidiu avançar tem sido alvo de um escrutínio de malha apertada e até de rumores que põem em causa a sua honra e carácter, levantando dúvidas ora o seu passado, ora antecipando factos que ainda não ocorreram, o que me parece totalmente inadmissível. BdC, como qualquer outro candidato, merece o meu apreço pelo esforço que faz em oferecer soluções ao Sporting e, sem provas em contrário, não deve  ver  posta em causa à priori o bem mais precioso que um indivíduo pode ostentar perante os seus pares- a sua honorabilidade - em nome de trunfos eleitorais. Não nos podemos esquecer em nenhum momento que qualquer um dos candidatos pode ser o próximo presidente do Sporting e o pior que poderia acontecer é vê-lo tomar posse já fragilizado quer aos nossos olhos quer aos olhos dos rivais e inimigos, que o Sporting também os tem.

A discussão deve pois estar centrada na credibilidade das ideias e soluções que os candidatos defendem e essa questão, tal como já aqui afirmei, acaba por ser inevitável e é colocada pelo próprio DC, ao escolher a solução do fundo como tema central da sua campanha. Isto é, tornou-se de importância crucial perceber se o fundo existia e se ele tem exequibilidade para o Sporting. BdC parece ter dissipado essas dúvidas, falta perceber se este instrumento financeiro é passível de ser utilizado em tempo útil, isto é como instrumento de reforço do plantel, onde assenta um pilar fundamental dos argumentos de campanha de BdC.  Essa é agora a questão que inevitavelmente se coloca a esta candidatura, que deve ser respondida de forma inequívoca. Porque podemos estar a falar de dinheiros para reforços que tem que estar disponível no imediato mas pode demorar meses. Não é o mesmo reforçar a equipa no inicio da época, no final da pré-época , em Dezembro, ou até mais tarde.

Mas esse não é a única dúvida que tem que ser esclarecida. Falta também perceber onde estarão as receitas para financiar as rescisões de contratos que se advinham e o aumento inevitável da folha salarial e com ele os problemas endémicos de tesouraria que afectam o Sporting. Este aspecto é obviamente transversal a todas as candidaturas, bem como o milagre de fazer aparecer os cerca de 15 milhões que são necessários para fechar a época. Isto se queremos mesmo um Sporting a começar de folha limpa no próximo ano. E estamos apenas a falar da SAD, estou para ver os esqueletos que saltarão dos armários quando se virem as contas do clube na totalidade…

A origem do dinheiro
Faz sentido discutir nacionalidade do dinheiro de BdC ou de qualquer outro candidato do Sporting? Obviamente que não, o dinheiro não tem nacionalidade como muito bem sabemos. Mas já não tenho dúvidas que deve preocupar a um futuro presidente do Sporting saber como é ganho o dinheiro que servirá para financiar o Sporting. Porque o Sporting não é um clube qualquer, onde ganhar não pode nunca ser tudo. O Sporting é um ideal, é uma forma de estar e não pode ser indiferente que o dinheiro que usa seja de diamantes de sangue, de ditadores que vivem à custa da pobreza e extorsão do seu povo ou de actividades criminosas. E aqui convém lembrar os que se apressam a atirar pedras aos telhados dos vizinhos que os bancos que nos financiam estão longe de ostentar folhas imaculadas, vide o caso dos submarinos,  Portucale, ou do caso BCP. De facto o dinheiro não fala, mas há no seu trajecto linguagem gestual que convém não ignorar, pelo que se recomenda muita cautela quando se quer dar lições de moral…

A ruptura inteligente e a ruptura irracional
BdC de Carvalho tem-se assumido como o arauto da ruptura contra a continuidade e com isso capitalizado muitos pontos. Se não me surpreende que muitos dos que durante muitos anos defenderam o final da “dinastia roquette” estejam hoje ao seu lado, já o mesmo não digo dos que esperaram até final para verem o que já há muito era evidente. Aliás o próprio BdC há menos de 2 anos votou em Bettencourt, o que diz muito da sua capacidade de previsão e análise, que são características que distinguem os líderes. Por isso quando ouço muitos que há pouco tempo apoiavam ainda Bettencourt  e hoje rasgam as vestes quando ouvem falar em continuidade vejo uma espécie de manobra de diversão que faça por os olhos em terceiro para ninguém se aperceba da figura de néscios que andaram a fazer durante este tempo todo. Que credibilidade têm hoje os que defendem hoje a auditoria quando no passado a ignoraram ou a ela se opuseram? Provavelmente a mesma que os que hoje protestam contra a incúria das centrais nucleares no Japão, se até ao dia do sismo nunca as tinham visto? É tão irracional defender hoje uma ruptura qualquer como defender e caucionar pelo voto o que se vinha fazendo até Bettencourt se demitir!

A importância da ginástica nestas eleições
Muito se tem falado pois em continuidade e ruptura. Saber quem será capaz de fazer uma ruptura na atitude e não na retórica é crucial nestas eleições. Estas eleições não são para “loiros” seguramente. Por isso o histórico do que cada um andou a fazer e a dizer durante estes anos todos é tão importante para aferir a coerência e credibilidade de quem se apresenta a eleições. Se muito se tem falado dos flic-flac´s à retaguarda de alguns elementos da lista de GL não deixa de ser notória a maleabilidade de Eduardo Barroso, até há bem pouco tempo um dos maiores ícones da máquina de propaganda roquetista e uma das mais assinaláveis conversões desde S.Paulo. Foi preciso não deixarem protestar desde a tribuna para mudar de opinião, não foram os resultados tenebrosos de uma politica que durante muitos anos defendeu com unhas e dentes e de forma irracional. Que esperar dele no futuro se não mais do mesmo, isto é, continuidade?