sexta-feira, 8 de julho de 2011

As duas estrelas que nos faltam

A conversa é recorrente a cada nova época, especialmente quando, aqui há alguns anos, o Sporting foi buscar Schmeichel ao Manchester United, produzindo um efeito mobilizador a que muitos atribuem uma das razões para o fim do grande jejum.

Antes de ir ao centro do meu raciocínio devo esclarecer que, salvo uma situação excepcional, como foi a do Grand Danois, não vejo que o Sporting possa retirar grande proveito de operações deste tipo. Comecemos pelo efeito no marketing: quantas camisolas são necessárias vender para tornar a operação equilibrada, entre ordenados e prémios de assinatura? Sem conhecer as margens de lucro em cada camisola não tenho pejo em afirmar que teríamos que andar perto dos números que só estão ao alcance dos principais clubes das maiores ligas para a operação poder ser justificada pelo lado do marketing. Fica por isso todo o foco na prestação desportiva. Ora isto equivale a pôr demasiados ovos no mesmo cesto, o que, bem sabemos, não é grande politica. Acresce a isso o facto de tal distorcer o espírito primordial do jogo de futebol que é a sua dimensão colectiva.

É ainda difícil de esquecer o efeito da chegada de Schmeichel mas tenho duas dúvidas: que haja hoje jogador com perfil idêntico capaz de produzir efeito igual ao produzido por ele e que, no cômputo geral, a sua participação no esforço do título tivesse a influência que a categoria quase mitológica a que foi promovido lhe atribui. Há duas razões fundamentais para assim pensar:

1) Schmeichel foi naturalmente titular indiscutível excepto quando se encontrava lesionado, o que ocorreu após a 7º jornada do campeonato. Até aí o Sporting tinha realizado a seguinte série de resultados E|V|V|E|E|D|V e o título parecia já uma miragem. À oitava jornada Nelson foi chamado à baliza, por lesão do dinamarquês, durante 5 jornadas consecutivas e a sequência de resultados foi  D|V|V|V|V. Nelson voltaria à baliza na 19ª jornada e o Sporting venceria o jogo.  

2- Ainda hoje se entende que a chegada dos reforços em Janeiro, em particular de André Cruz, Mpenza e Prates foi a inversão de uma marcha que tudo indicava ir terminar como a dos 18 anos antecedentes.

Disse já o suficiente para concluir que mais importante do que ter uma grande estrela é fundamental a ocorrência simultânea de diversos factores para ser campeão. Seguramente que tanto como ter grandes nomes é necessário ter no relvado uma equipa de movimentação e mecanismos colectivos apurados. 

Por alguma razão o Braga de Domingos, com unidades individuais genericamente menos dotadas que nós, conseguiu duas épocas de nível muito superior ao nosso. Pode ser por aí a chance do Sporting, que, apesar do esforço realizado, não consegue por ora aguentar ombro com ombro com os seus rivais o esforço do mercado. E o FCP, por exemplo, a equipa que mais tem ganho nos últimos anos, há muito que abandonou a perseguição por grandes nomes, preferindo valorizar e vender as sua safra particular, com os resultados desportivos e económicos que se conhecem. Ou ponha-se os olhos no Manchester City.

Por outro lado o facto de ter menos dinheiro não é necessariamente razão para não comprar bons jogadores. Garay tem outro estatuto que não tem Rodriguez, por exemplo. Mas, feita a relação custo/beneficio, não sei se as diferenças que possam existir entre ambos justifiquem o abismo entre os 12 milhões que custará mais os cerca 2,8 milhões por época que ganhava em Madrid, feita a transposição dos seus proventos mensais – 1,5 milhões - para a realidade fiscal do nosso País.

Há duas estrelas que o Sporting não pode prescindir este ano: a da competência colectiva e a da sorte. Elas são as que mais camisolas vendem e mais sportinguistas levam ao estádio. Sem elas não há trutas que nos valham.

5 comentários:

  1. Até podes ter razão em alguma coisa, mas vai lá ver o jogo do Bessa em que ganhamos 1-0 com um golo do eterno 8 aos 34 segundos. Depois diz-me se outro guarda-redes fazia o que ele fez nesse jogo.
    Depois dessa vitória pus todas as fichas em como seríamos campeões.

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  2. Diz-se que um grande GK ganha campeonatos. Curiosamente foi com a chegada do Schmeichel que quebrámos o jejum.

    Claro que é necessário ter uma equipa mas essa vai desde a baliza até ao PdL, passando pela técnica.
    No que toca a GK, apenas o ano passado tivemos um RP que poderia assegurar um campeonato, apesar de não termos equipa, principalmente a técnica, para sermos campeões.

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  3. Não discordando com o post, só quero dizer que o Schmeichel colocou o nome do Sporting, nessa altura, em todo o Mundo. E isso foi a maior camisola que ele vendeu.
    Estou certo que, nessa época, tivemos muitos adeptos britânicos e dinamarqueses. Fora aqueles que eram, somente, adeptos, do Schmeichel.
    Ele era uma figura mundial! E onde se encontrava, tornava esse lugar mundial também.

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  4. Só falta aí referir o Pinto da Costa no último parágrafo. Também temos de vencer as trafulhices dele. Algo que não conseguimos anos a fio, mesmo com grandes equipas.

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