terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Estamos sempre convosco!



O fim-de-semana passado estava preparado para ser uma enorme festa. A juntar ao clássico Sporting-Porto tinha adquirido bilhetes para ver o espectáculo do Cirque du Soleil no Pavilhão Atlântico na sexta-feira, podia assim fazer o fim-de-semana lúdico que a minha mulher há tanto tempo reclamava. Saída dia 6 após o almoço, passeio por Lisboa, espectáculo, revisitar o Lisbon by night, acordar com pequeno-almoço de hotel, de novo usufruir dos soberbos espaços da capital, almoçar tarde na margem esquerda e ao fim da tarde, enquanto a minha cara-metade visitava os saldos, encontro com a rapaziada para ir à bola.

Na terça passada tudo desmoronou! Durante o meu desporto semanal, pressão agressiva sobre o adversário, movimento lateral de acompanhamento e “plack” o sr. Aquiles resolveu entrar em rotura comigo e com os meus planos. Visita directa aos HUC e saída com um belo pé de gesso pelas 2 da madrugada. No dia seguinte, enquanto tentava saber quem seria a alma caridosa a emprestar-me um par de canadianas veio a pergunta fria:

- “Como é que vamos fazer no próximo fim-de-semana?”

- “O próximo fim-de-semana! Meu deus! Sporting-Porto! Não posso falhar!”

- “Não. O Cirque du Soleil, já temos hotel?”

- “Já, marquei ontem mas vou já anular! Arranjas alguém para ir contigo?”

- “Se vais à bola também vais ao espectáculo!”

- “…Vais trabalhar à tarde, não vais? Eu trato disso…”

O tempo, esse bem perecível, tornou-se de imediato escasso.

Primeiro, anular hotel, segundo saber como se procede para entrar nos dois espectáculos sendo PDM (pessoa com dificuldade motora). Pavilhão Atlântico, tudo bem, há entrada, acessos e soluções para esse efeito. Estádio José Alvalade, pânico, por razões de segurança não podem entrar no estádio pessoas com gesso ou canadianas, porque não conseguem garantir a evacuação em caso de emergência.

Entretanto via facebook, sms, etc., a “gozação” começava, “Estás pior que o Izmailov!”, “Dá-me a tua gamebox!”, “Só eu sei porque ficas no sofá!”, não podia ser, respondendo rápida e inconscientemente aos andrades garanti, “É mais certo eu ir a Alvalade que vocês entrarem em campo para vencer o jogo!”.

Quinta – feira, há que tomar medidas drásticas, aprofundar contactos, acalmar a esposa, garantir apoio dos amigos e subitamente uma luz ao fundo do túnel. A única hipótese é ter bilhete de acesso para o sector dos incapacitados motores!

Tudo bem! Por mim até posso ir para o túnel de acesso dos balneários ao campo! Já sei que vou ficar atemorizado com as fotografias mas desde que veja o jogo “in situ”, vamos embora! Só então comecei a pensar na logística, as mãos já doíam, subir a escadaria até ao escritório era um tormento, o pé afectado não pode poisar no chão porque está a 45 graus, as paragens têm de ser frequentes e o jeito para andar de canadianas é nulo (é a minha estreia!).

Seja o que deus quiser! Vou avisar as tropas que para um Leão cair é preciso mais que uma rotura no Aquiles! Sexta-feira, bilhete no bolso, indicações de como entrar no estacionamento do estádio, onde são os acessos às entradas para incapacitados motores, partida, largada, fugida, aqui vou eu!... Sexta-feira à noite, terminada a primeira odisseia no Pavilhão Atlântico, onde tudo era um bocado mais complicado do que fui informado, cheguei finalmente arrasado ao hotel, perna inchada, mãos doridas, o pé bom a perguntar que mal tinha ele feito. O conselho feminino veio frio como a anterior pergunta:

- “Não é melhor amanhã ir para Coimbra e dás a gamebox a alguém?”

- “Amanhã vê-mos isso.” – foi a ultima coisa que disse antes de dormir, o corpo estava de acordo com a minha mulher, mas o espirito não queria admitir a derrota.

Sábado, dia lindo de Inverno como só Portugal sabe oferecer, Lisboa brilhava sedutora mas o primeiro contacto com as canadianas fez acordar a realidade, porque raio não arranjei eu uma cadeira de rodas… “Vamos passear?”, não, a pergunta não congelou o ambiente foi feita com um sorriso malandro, trocista mas cúmplice. “Siga! Temos de fazer horas até às 17.00 e eu estou a morrer por um café.”.

As horas foram passando e a minha malta chegou dos mais variados destinos, a cerveja foi infelizmente proibida (obriga a muito movimento!). Papéis em cima da mesa, preparar a estratégia, vamos embora, objectivo conquistar Alvalade de muletas! Todos os que ajudaram a esta empreitada ser possível me deram o mesmo conselho – Vai cedo! – a primeira tarefa foi deixar o carro no estacionamento do estádio, depois de quase atropelar uns elementos da policia de intervenção lá descobrimos a entrada para o piso -1.

Surge agora o grande dilema, vamos para o lado Norte ou Sul? A porta de entrada não vem mencionada no bilhete e tínhamos de explicar aos seguranças a cada passo que era uma situação pontual de possibilitar a entrada de um “difícil de mover” para um sector reservado a “incapacitado de mover”. Utilizamos a lógica (observada por um dos meus companheiros) que tínhamos de ir para Norte porque todos os sectores ímpares são situados no lado norte do estádio e os pares do lado sul, assim fizemos e acertámos. A entrada foi feita pelo Pavilhão multiusos o que me permitiu conhecer mais este pedaço de Sporting e ver “in loco” a azáfama dos atletas das modalidades de combate, só mais tarde descobri que eles iam estar presentes no relvado antes do jogo e durante o intervalo, excelente ideia por sinal, cruzar-me com uma série de personagens públicas do Sporting e até ter recebido o cumprimento fugaz de Isabel Trigo Mira pela fisga do elevador.

Claro que chegar cedo foi fundamental, claro que manter a calma e a simpatia de cada vez que tinha de explicar a situação também ajudou (e foram muitas). Invariavelmente, na primeira abordagem, me diziam que não era possível entrar, aprendi (à terceira) que o melhor era deixar os seguranças mostrar o seu pleno conhecimento dos regulamentos e só depois de lhes dar toda a razão explicar o porquê da minha situação. Chega finalmente o momento da última etapa, são 18.30 H, os seguranças estão “fresquinhos”, subir o elevador até ao piso 2 e ser de imediato barrado por três seguranças, conversa para cá, conversa para lá, chamar o “chefe” tudo em ordem e sou encaminhado para o meu lugar. Magnifico! Devo ter sido, talvez, a vigésima pessoa a entrar, missão cumprida, Alvalade estava aos meus pés e eu tinha mais uma loucura cumprida.

O jogo decorreu como já foi por demais debatido, queria apenas acrescentar alguns pontos, primeiro sobre Polga e os seus já famosos passes longos, enuncia José Mourinho que passes com mais de 10 metros têm uma percentagem de sucesso próxima dos 30 % e isto independentemente de ser Polga ou outro qualquer jogador mundial a executá-lo, o problema não está nele, está na necessidade que a equipa tem de utilizar esse recurso (onde se perde a bola, em média, 70 por cento das vezes). Seguinte, Capel e o seu abaixamento de forma, o Porto defendeu as laterais com quatro ou cinco jogadores contra Capel/Insua/Scharrs ou JPerreira/Carrillo/Elias, normalmente eram dois contra cinco. Há um lance na segunda parte já com Izmailov em campo em que ele recebe a bola junto da linha do meio campo e tem um rectângulo de quatro jogadores do Porto na sua frente e nenhuma opção de passe ofensiva. Os adversários já perceberam que a nossa força actual está nas laterais e encheram aquelas zonas de gente! Por fim, Wolfswinkel, sem jogo nas laterais, sem bolas a fluir para a área ou pelo menos para o centro não há golos, seja com o nosso lobo seja com Jardel. Fernando Santos ao serviço do Estrela da Amadora, provou como era fácil marcar Jardel, bastava não lhe ligar nada e apenas impedir Drulovic e Sérgio Conceição de centrar… Ficam as notas à atenção de Domingos.

Mau resultado, num jogo quezilento na relação dos jogadores com a bola. A saída do estádio correu ainda melhor que a entrada, partilhei o elevador com dois culés um deles com uma cadeira de rodas de fazer inveja a muitos carros, provando mais uma vez que só fica em casa quem quer! Temos realmente um estádio 5 estrelas que permite a todos usufruir de belos espectáculos ao vivo!

Não quero terminar sem deixar alguns agradecimentos, primeiro à minha mulher por aturar as minhas pancadas, depois à AAS – Associação de Adeptos Sportinguistas na pessoa do nosso Hugo Malcato por terem dado um apoio inexcedível sem o qual esta aventura não seria possível.

Obrigado a todos e venha o próximo jogo. Estamos sempre convosco!

11 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O querer é poder! ...e o amor ao Sporting tambem.

    Mas deixa-te de conversas:

    Põe-te bom depressa para vires a Alvalade sem essas mordomias (mariquices) todas.

    Um abraço

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  3. "Põe-te bom depressa para vires a Alvalade sem essas mordomias (mariquices) todas."

    LOL...

    LMGM:

    Gdes aventuras...

    Gdes fotos...

    Gde post...

    Gde empreitada...

    Ctg é td à grande. Até a lesão no aquiles...

    Só o resultado do jogo é q não foi gde coisa. Fica para a próxima.

    ah... que tenhas uma gde recuperação. Se for à Fito Rinaudo, tanto melhor!


    P.S. - és tu na ultima foto, não és? Reconheci-te-te por causa do ar feroz... Na foto do meio tb dá para ver que o aquiles até está com bom aspecto, apresenta-se de túnica alva e tudo... :P

    Gde... abraço!

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  4. LMGM,

    As coisas que tu inventas para conhecer o Multidesportivo, os elevadores, veres o pessoal das amadoras a treinar etc.

    Fonte bem informada garante-me que te viu em Coimbra à noite a fazer gelo... no copo!

    Abraço e as melhoras.

    (boa ideia para ir ver o jogo a Braga e chegar cedo a casa...)

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  5. Estamos sempre convosco... estamos sempre convosco....

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  6. http://www.youtube.com/watch?v=kU5gaTeikQE

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  7. Fora do contexto:

    Acabei de enviar para o trio de ataque a seguinte mensagem:

    ...

    Penso que a direcção do Sporting já decidiu a substituição das imagens dos corredores.

    Godinho Lopes já encomendou imagens do “Menino da Lágrima” para encher as paredes do acesso às cabinas., pediu emprestados stewarts ao túnel da Luz e entrou em contacto com o fornecedor de creolina do Estádio da Dragão para receber os adversários nos próximos jogos.

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  8. LdA,

    Não faço parte de nenhuma claque, mas podia.

    Boa gestão do espaço.

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  9. LMGM,

    Sempre disponível para ajudar e para que um dos nossos possa visitar com dignidade a nossa casa ;)

    Um forte abraço e as melhoras,
    Hugo

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  10. "LMGM,

    grande texto, grande espírito. Mais uma experiência que enriquece a tua história sportinguista e um pouco da nossa também. Quem quer bolota trepa, e em vontade e querer, ninguém bate os sportinguistas.

    Grande abraço!

    LdA,

    Pensa lá nessa ideia de Braga com carinho!
    Aproveito para avisar que o Núcleo de Braga vai reabrir, em novas instalações, e o Presidente Godinho Lopes vai lá estar às 15:30. Antes disso, passa ainda pelo Núcleo de Gondomar, que faz agora 10 anos.

    Abraço"

    Bruno Martins

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  11. LMGM...grande aventura mas o importante é que conseguiste, só foi pena no final não teres sido recompensado com uma vitória.
    As melhoras e depois dessa aventura nem te atrevas a dizer "tem pena de mim que estou lesionado" porque duvido que aí em casa alguém caia nessa...:):):)

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