segunda-feira, 26 de março de 2012

Um ano, um balanço

Há um ano, mais ou menos por esta hora, empreendia uma viagem para participar no processo eleitoral mais fracturante da história recente do Sporting, só comparável com a ocorrida ao tempo da eleição de Jorge Gonçalves. Porém há uma diferença entre esse tempo e o de há um ano: o período de enorme turbulência desta feita ocorreu logo após o acto eleitoral, num momento que envergonha a história do Sporting e o mesmo deveria acontecer com os seus protagonistas.

Nunca como antes o Sporting esteve na eminência de uma fractura que o transformaria em algo diferente e seguramente pior e mais pequeno. A viagem de regresso e os conturbados dias que se seguiram equivaleriam a uma viagem pessoal que mudaria a forma de me relacionar com o meu clube. 

É difícil ser simultaneamente actor, testemunha e juiz dos factos e personagens da história recente do Sporting quando pretendemos produzir uma análise justa e imparcial. Contudo, não posso deixar de assinalar, com pesar, que no universo do clube continua a ser notória a tendência generalizada de aproveitar  os maus momentos, marcados pelos resultados desportivos, para produzir grande parte das "reflexões" quando o bom-senso recomendaria pelo menos alguma moderação. E que, infelizmente, há quem precise dessa irracionalidade, e quiçá dos maus momentos, para marcar pontos e para ter visibilidade.

Antes de qualquer balanço que se faça da actuação dos actuais corpos sociais essa é uma constatação que não pode passar em claro porque o clube não é apenas o CD e o que faz, mas também a realidade em que se insere e que o condiciona. A irracionalidade associada à paixão que nutrimos pelo clube deveria ficar à porta do estádio quando os jogos terminam e não estendê-la à generalidade das matérias que o versam. 

Não sou excessivamente critico da actuação do actual CD e de Godinho Lopes em particular no tempo até agora decorrido. Como tive ocasião de lhe dizer pessoalmente julgo que os sportinguistas deveriam conhecer de forma menos superficial as condições encontradas em Alvalade após 2 anos de perda de tempo e retrocesso com Bettencourt. Não o saber é não perceber porque o Sporting foi obrigado a tomar umas opções em prejuízo de outras.

Passado um ano não é difícil constatar as diferenças para o passado recente. Alvalade tem sido testemunha de um regresso de muitos leões, o que numa época com os resultados desportivos negativos, em particular para a principal ambição leonina que é o campeonato nacional, é algo de assinalável. Aí não entra só o trabalho realizado pelo actual CD na promoção dos jogos mas, sobretudo, uma enorme vontade dos adeptos sportinguistas de não abandonar uma equipa jovem, talentosa e com enorme futuro à sua frente.

Apontaria 2 razões principais para a actual posição na tabela classificativa: o complot da APAF e o imprevisto "espalhanço" de Domingos, um dos rostos que dolorosamente teve que ser amputado de um projecto que parecia estar destinado a deixar já este ano o Sporting mais próximo dos seus maiores rivais.

Tudo o que venha a suceder na Taça de Portugal e na Liga Europa não pode deixar de ser sentido como um prémio de consolação face à actual classificação no campeonato, mas não posso deixar de manter o que sempre fui afirmando ao longo deste ano: no que ao futebol profissional diz respeito foi realizado um bom trabalho na aquisição de jogadores, do qual o Sporting poderá vir a retirar bons proveitos económicos e desportivos.

Nas modalidades não serei a pessoa indicada para fazer uma avaliação com profundo conhecimento de causa, porque o acompanhamento que faço é feito apenas pelos resultados semanais. Parece-me que a estratégia seguida foi manter o que estava a ser bem feito, como o projecto autónomo do hóquei, o futsal, o ténis e o andebol, isto falando nas modalidades com mais visibilidade, com algum desinvestimento e mudança de estratégia no atletismo. Fala-se agora também no regresso do basquete, modalidade com um historial que nos obrigaria a nunca ter extinto a secção, e também no râguebi. Continuam porém a faltar os títulos colectivos, especialmente no andebol, onde esperamos este ano fique marcado pelo regresso a uma conquista de cariz nacional.

No âmbito do relacionamento com os sócios e destes com o clube a última impressão é a que conta e, nesse sentido, fica a recente passagem da sociedade que detinha o estádio do clube para a SAD como o regresso a uma forma de actuação reprovável e dispensável. A urgência, face à situação financeira da SAD, não pode nem deve justificar tudo.  Essa actuação é anda mais difícil de perceber quando num passado ainda recente houve operações semelhantes que não deixaram de recolher maiorias confortáveis, apesar da contestação. Apesar de me opor à sua grande maioria restava-me conformar com as decisões tomadas por maioria, como sempre deveria suceder. Assim ficam menos visíveis os esforços iniciais em comunicar directamente com os associados, via auditório, a revisão estatutária e a auditoria prometida e realizada. 

Das promessas por concretizar estão à cabeça o pavilhão e o fecho do fosso. O segundo não tem grande relevância mas deveria ser enquadrado numa reformulação mais ampla de alguns problemas estruturais e estéticos de Alvalade. O pavilhão será o de maior urgência e de mais difícil concretização pela envergadura do projecto e pelo momento económico em que vivemos. Acima de tudo espero que a obra seja concretizada mas sem pressas ou atalhos que repitam os erros cometidos aquando da construção do estádio. Uma estrutura como esta deve ser pensada para décadas e não apenas para aplacar pressões ou por um visto nas promessas cumpridas. Mais vale marcar passo temporariamente do que dar um em direcção ao desperdício.

7 comentários:

  1. acho que 4f , godinho lopes irá dar uma entrevista na rtp, e recentemente disse que teria novidades a dar sobre o processo pavilhao

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  2. LdA,

    Aqui há cerca de 1 ano sugeri que este artigo dizia também algo sobre um certo sub-texto um cultura partilhada por muitos sportinguistas, em que a insatisfação e a demarcação das opções tomadas com vista à preservação da capacidade de criticar se tinha transformado num exercício de sportinguismo tão importante como a sua identificação aos símbolos e à história do clube. Era este o texto:

    http://www.economist.com/node/18584584

    Para mim, a prioridade era mudar essa mentalidade mas infelizmente - de forma sustentada - isso apenas se consegue com vitórias sustentadas numa liderança agregadora que tenha uma estratégia de comunicação devastadora para os detractores internos. E qual a probabilidade de isso acontecer? É baixa.

    Até que um dia isso venha a acontecer, o Sporting vai continuar a ser assim:

    http://youtu.be/gb_qHP7VaZE

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  3. Plf,

    Nem mais... Que os sportinguistas se unam contra o inimigo externo e que possamos esquecer o interno por algum tempo.

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  4. LdA,

    Duas notas de fugida:

    I - "...não posso deixar de assinalar, com pesar, que no universo do clube continua a ser notória a tendência generalizada de aproveitar os maus momentos, marcados pelos resultados desportivos, para produzir grande parte das "reflexões" quando o bom-senso recomendaria pelo menos alguma moderação. E que, infelizmente, há quem precise dessa irracionalidade, e quiçá dos maus momentos, para marcar pontos e para ter visibilidade."

    Na "mouche", ainda mais no dia de hoje.

    II - "....julgo que os sportinguistas deveriam conhecer de forma menos superficial as condições encontradas em Alvalade após 2 anos de perda de tempo e retrocesso com Bettencourt. Não o saber é não perceber porque o Sporting foi obrigado a tomar umas opções em prejuízo de outras."

    Julgo que esse conhecimento não revelaria fragilidade e embora comportasse riscos, reforçaria a transparência e talvez até permitisse abertura a novas soluções.

    Abraço

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  5. Saúda-se a viagem que permitiu ao blogue uma melhor apreensão da realidade do clube!

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  6. "Mais vale marcar passo temporariamente do que dar um em direcção ao desperdício."

    Em Alvalade, já se sabe que andamos reféns da política do agora e já. Não sei até que ponto, haverá espaço para um GL andar a marcar passo e não apresentar resultados já.
    Há-que agradecer que ainda temos uma Taça de Portugal ou uma Liga Europa, pq em caso contrário acho que já estaríamos de novo a falar em pré-campanha eleitoral.

    Ainda assim, temos que ouvir com o principal opositor ( pelo menos nas últimas eleições) aparecer sempre que as coisas correm menos bem. E pior ainda, muitas pessoas a dar-lhe razão.

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  7. Ponto prévio. Um ano de mandato pode, ou não, ser suficiente para fazer uma avaliação à actuação de uma direcção do SCP.

    Exemplifico: se no tempo de JEB, um ano (até menos) foi mais do que suficiente para perceber que não servia (tal o nível da demência atingido), no caso de GL, já não é assim. Pq enquanto q em JEB, desse as voltas que se dessem, td era extremamente negativo, com GL podemos destingir entre aquilo que foi bem feito e aquilo que foi negativo. E depois fazer o respectivo saldo. Para uns o saldo será negativo (mt ou pc), para outros positivo (pc ou mt).

    O que a mim me espanta é não se perceber que houve um up-grade significativo do anterior executivo para este. Será suficiente para colocar o SCP nos trilhos certos? Sinceramente, não sei...

    Basicamente concordo com a visão do post. Nas modalidades manteve-se o que de bom vinha sendo feito, com alguma melhoria numas modalidades (hóquei, basket - vai msm avançar pq acredito mt nas pessoas que querem por a modalidade de pé), e alguns deslizes noutras (atletismo). O Futsal continua em bom estilo e o andebol, com altos e baixos, atravessa nova fase prometedora.

    No futebol jovem, formação, houve alguma convulsão, mas parece que continua a correr bem. Basta atentar à carreira e ao talento de mts dos miúdos dos juniores cuja 'visibilidade' a NextGen potenciou.

    No futebol profissional, é inegável o risco que se tomou na constituição do plantel, como é inegável que a maioria das contratações fizeram todo o sentido. Em 19 era impossível acertar todas. Relembro que a gde maioria dos sportinguistas ansiava por revoluções no plantel, pelo que não se percebe que essa mesma maioria venha, agora, contestar tal política...

    DP foi o falhanço com maior estrondo... No entanto relembro mais uma vez que a maioria viu a sua contratação de bom grado e não aceitou a sua demissão... Enquanto mt pcs (onde me incluo) contestavam DP, a maioria ainda o defendia-com (mts) unhas e (menos) dentes, tal os rombos que se foram avistando, quer nos resultados quer nas exibições. No que ao futebol diz respeito reside aqui o maior apontar de dedo ao CD de GL. A aposta na equipa técnica de DP revelou-se desastrada. Já extremamente acertada (pq o que se vê acontecer semana após semana com o SCP é completamente intencional) têm sido as arbitragens apafianas, cuja acção logo surripiou sete pontos nas primeira três jornadas... Coisa pouca para alguns (convenientemente) 'desmemorizados' leões.

    A relação com o massa associativa / adepta tb teve aspectos positivos e outros que me desagradaram... Sendo que o episódio do 'salvador' do SCP, directamente protagonizado por GL e este ultimo caso relacionado com a passagem do estádio para a SAD mt negativos. Alguns membros escolhidos para a sua equipa tb deixaram mt a desejar, com o fugidio Carlos Barbosa à cabeça...

    Do pavilhão, é ver o que aí vem...

    Por fim e ao nível económico-financeiro a acção deste CD / SAD é um total enigma. Só num futuro (próximo, médio, longo?) se poderá ter uma ideia mais concreta. Uma coisa é certa as condições herdadas eram td menos fáceis...


    P.S. - Deixem lá o BdC. Faz o seu papel... Bem ou mal não está agora em causa. Preocupa-me é o que GL e Cop.ª faz ou deixa de fazer com / no SCP.

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