terça-feira, 19 de junho de 2012

Breves notas sobre a selecção

1- Ronaldo voltou a ser que sempre foi e nunca deixou de ser. O que me parece que mudou não foi o jogador mas sim a equipa e quando assim é é inevitável que, seja qual for o momento de forma, os melhores acabem por sobressair. Ontem a RTP salientava o tempo que Ronaldo teve nos pés, (e que por isso precisou para ajudar a decidir o jogo) e que não chegou aos 100 segundos, para marcar 2 golos e ainda criar lances de perigo. Estes dados comprovam a qualidade do jogador e a qualidade com que foi servido. Pensar ou exigir que Ronaldo tem que resolver sozinho o que as melhores equipas da competição resolvem com onze e por vezes com catorze é desgastar e expor o nosso maior tesouro. Não haverá tão cedo outro como ele de quinas ao peito. O resto, as criticas excessivas tal como os  mais desbragados elogios, são folclore.

2- Platini esqueceu-se do lugar que ocupa (e até da nacionalidade) para alvitrar o nome dos finalistas. O que o futebol menos precisa é que quem o dirige se apresse a fazer de oráculo e se esqueça do distanciamento e equidade a se que deveriam votar os dirigentes. Um excesso desnecessário mas que também não dever ser hiper-valorizado. Com as palavras de Platini quer dizer que estão encontrados os finalistas? Não, longe disso. O bom jogo da Croácia ontem permite pensar que, embora difícil, a vantagem dos espanhóis, quer no clube que serve de modelo ao seu jogo quer na sua selecção, já foi maior. Sendo um dos possíveis adversários de Portugal na meia-final, a Espanha, sendo muito difícil, - e mesmo considerando que a fase de grupos é consideravelmente diferente dos jogos que eliminam directamente - talvez possa ser melhor adversário para Portugal: Paulo Bento não precisará de motivar os jogadores ou de os prevenir para as dificuldades. Se esse jogo chegar a motivação e a concentração serão totais e o resto será o futebol a decidir.

3- Mas antes há a República Checa que, misturando alguma veterania e nomes conhecidos com jogadores que o futebol ainda desconhece com inexperiência, será tudo menos fácil. Ajudarão tão pouco os que antes achavam que já tínhamos a passagem de regresso marcada porque íamos jogar com a poderosa Holanda, mas que agora acham que esta era a pior Holanda dos últimos 20 anos, como os que vão assumindo que os Checos não prestam porque já não têm o Poborsky para fazer chapéus. Para os palermas há sempre um chapéu ao virar da esquina, como diria o saudoso Vasco Santana.

4- Raul Meireles veio hoje explicar as razões do silêncio dos jogadores no final do jogo com a Holanda, remetendo-nos para a liberdade de expressão. Ora a liberdade de expressão e o dever de a respeitar não exclui os jogadores da bola, treinadores ou dirigentes. Também eles estão obrigados respeitar as liberdades alheias, a saber destrinçar o que é a critica e a maledicência pura e dura e, em conformidade, valorizar o que deve ser valorizado para progredir e esquecer o que não tem importância. 

3 comentários:

  1. Caro LdA,
    1- Absolutamente de acordo. Seja a equipa capaz de criar espaço para Ronaldo e ele fará, com mais ou menos inspiração, aquilo que melhor sabe fazer: destruir defesas e marcar golos. Podíamos ter muito melhor equipa em termos de organização com os jogadores que temos, e em termos de inteligência e criatividade ofensiva com jogadores que não temos e um treinador que o entendesse. Mas a verdade é que o tempo de treino também é sempre muito curto, a fadiga competitiva de uma época inteira é enorme, e não podemos sequer capitalizar num bloco coeso provindo de alguma equipa bem organizada (exceptuando os 3 de Madrid). Por isso tudo acaba por resumir-se a detalhes, vontade e entreajuda, e depois talento. Tirando a Alemanha e talvez a Espanha (que me parece com problemas) não tenho visto melhor que nós no Euro.
    2 - Platini é um idiota e devia ter noção do ridículo e da seriedade das afirmações que proferiu. Com alguns tropeções arbitrais poderá trazer para si próprio e para a credibilidade da competição questões muito sérias. E no final de contas, na verdade, quem é que quer saber da opinião do Platini?
    3 - Do que vi os checos são solidários e capazes de se organizar. Ganharam confiança e serão um osso duro de roer, numa tática próxima do autocarro que nos poderá trazer grandes dificuldades, nomeadamente no momento de assumir o jogo, algo que ainda não fizemos de verdade. Paciência e cautelas, é o que se pede. Felizmente joga-se lá longe, ou temo que oviríamos muito assobio da bancada antes de eventualmente podermos festejar.
    4 - Pois. Nisto da comunicação a FPF é parecida com o nosso Sporting: incompetência. PB também tem culpa, mas mais uma vez por omissão de quem de direito. Siga o circo, que a apesar de tudo é uma sombra inocente do tempo das paulas do oliveirinha, para não ir mais longe, nem mais perto ...

    SL, MTP

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  2. 1 - Ronaldo é um case-study da psicologia. Tanto serve de saco de pancada onde se aliviam milhares de frustações, como é visto como um Eldorado onde milhares projectam as suas ambições. Talvez não fosse má ideia começar a olhar para ele como aquilo que realmente é, um ser humano como outro qualquer, que teve a felicidade de nascer com um dom, mas que também trabalha muito para que esse mesmo dom não se desperdice.
    2 - Tratando-se de um "wishful thinking", nem respeito teve pela pátria que o pariu. É mais um amolador comprador de bandeiras.
    3 - Jogo muitíssimo mais complicado que o da Holanda. Formas de jogar completamente diferentes que obrigarão a uma muito maior criatividade por parte do nosso meio-campo, que é coisa que não tem existido. Os espaços concedidos pela Holanda, que tanto favorecem a nossa forma de jogar, não irão existir contra os checos. Particular atenção ao balanceamento da equipa no ataque que poderá proporcionar contra-ataques muito perigosos pelas laterais. Selassie e Kolar têm-se revelado acutilantes nas entradas pelas laterais a servir os seus avançados. Factores a explorar: livres perto da área e provocar a mostragem de cartões, já que os checos não se ensaiam nada para travar ataques recorrendo a faltas, algumas delas bem durinhas.
    4 - Ainda não percebi se não quererão um país inteiro calado sem sequer uma palavra de incentivo. Parece que quem os apoia não lhes merece qualquer respeito. Mas também... prefiro-os calados a ter de ouvir discursos aziados contra uma percentagem residual de badamecos que nestas alturas têm sempre de se colocar em bicos de pés.

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