sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Processo Carrillo: da exigência à indigência

Contrariamente ao que me parecia ser a melhor opção de gestão do problema da (não) renovação de Carrillo, o Sporting acabou por decidir afastar Carrillo da equipa titular. Todavia, as declarações de JJ no final do jogo obrigam a alguma contenção nos comentários sobre a matéria, uma vez que aquelas deixam em aberto a possibilidade de o jogador, ao contrário do que foi assumido pela generalidade das opiniões expressas, estar de regresso à equipa já no próximo jogo com o Nacional. A possibilidade de fazer o jogador descansar e amadurecer ideias deve ser considerada. Antes assim seja, embora me pareça que o treinador pretendeu apenas ganhar tempo, esperando um entendimento entre as partes.

A confirmar-se a decisão de afastar Carrillo, esta de certa forma surpreende-me. Como ontem aqui afirmei, o facto de se ter optado por manter o jogador nos nossos quadros, quando o podia ter vendido, indiciava que na SAD se acreditava na renovação. O afastamento do jogador, mais do que o próprio, pune no imediato o clube. Por uma série de razões:

- A radicalização da posição do empregador (SAD) com o empregado (Carrillo) cria o clima oposto para um entendimento.

- Suspender o jogador ontem foi confirmar aos quatro ventos a existência de problemas. Equivale a deitar sangue ao mar infestado de tubarões. Obviamente que os principais clubes e agentes já tinham sinalizado a situação, a confirmação serve de encorajamento a quem quer o jogador.

- Ao contrário do que possa parecer, o Sporting não tem um plantel onde o talento abunda e Carrillo foi, a par de Nani, o jogador mais importante da época passada. Nani já saiu e não tem substituto à altura, o mesmo acontecerá se Carrilo for suspenso. O Sporting fica a perder.

- Tendo em conta o que é dito no paragrafo anterior, o jogador deveria continuar a dar o seu contributo à equipa, pelo menos até Dezembro, altura em que o clube poderia substitui-lo. Num cenário em que o clube tenha a certeza de que o jogador já está comprometido com terceiros, mais de que uma decisão intempestiva de mero adepto de bancada, pede-se a defesa dos interesses do clube baseada na racionalidade. 
- Não faz sentido ter um jogador sob contrato, precisar dele pagar-lhe para não jogar. Tê-lo a jogar é também uma forma de o valorizar, caso ainda subsista a ténue hipótese de o transferir em Janeiro.

Quanto vale afinal Carrillo?
Para muitos, agora que se parece configurar a possibilidade de partida do jogador, Carrillo não vale nada, não justificando tanto dispêndio de tempo ou recursos. Outros preferem ir vaticinando um futuro entregue ao anonimato. Não me parece que os primeiros tenham razão e o futuro não se pode adivinhar. Carrillo tem ainda muita coisa para fazer para podermos considerá-lo um grande jogador, que, quanto a mim, pode vir a ser. Mas no presente o jogador é um dos mais importantes do plantel e a sua saída enfraquece a equipa e as nossas pretensões.

Tempo de rumores
Sem ter chegado ao extremo em que se encontra a renovação de Carrillo, este momento reporta-me ao tempo em que Adrien negociava a renovação de contrato. Iniciava-se a última época em que aquele vigoraria e não faltavam certezas, como não faltam agora, de que o jogador já se tinha comprometido com outro clube, na altura falava-se no FCP. Havia até quem se dispunha a testemunhar ter visto isto e aquilo. O mesmo sucede já com Carrillo. 

Da exigência à indigência
Falar no caso de Adrien obriga também a ver as diferenças de posicionamento de uma parte importante dos adeptos. Na altura a não renovação atempada do contrato de Adrien era entendido como uma manifestação de incompetência. Hoje, no caso de Carrillo, diaboliza-se o jogador, "um ingrato", o agente, ou ao detentor do passe, isenta-se de qualquer responsabilidade a SAD, como se nas últimas três épocas não tivesse havido tempo mais do que suficiente para prevenir a actual situação. 

Porque se deixou arrastar este processo? Pelo facto de passe do jogador pertencer a um fundo? Porque os seus representantes não se disporem a negociar? Por causa de comissões exigidas?  Em todo este processo, que a bem do clube se espera ainda que possa terminar bem, há muita coisa por explicar e que não se pode ficar pelo habitual desculpabilização com o inimigo externo. Se ao menos se aprender com os erros pelo menos já não se perde tudo.

Alguns comentários aproximam-se muito da indigência intelectual que, em última análise significam um convite ao descuido e à negligência. Esta postura é prejudicial para o clube e podem ajudar a explicar porque tantas vezes não se sente a direcção obrigada a resolver matérias mais complexas que a presente e que dependem apenas da sua acção: o relvado continua aquilo que se vê, o site é uma novela mexicana cujo final foi mais uma vez anunciado, e onde ainda há dias se punha a equipa de andebol na Turquia, quando esta se dirigia para a Suíça. Mais uma AG marcada em cima do joelho, com anúncio de mais uma alteração estatutária que a generalidade dos sócios desconhece para votar no imediato. A loja do clube embaraça quem lá acorre acompanhado.

Sejamos claros: não é fácil a quem dirige o Sporting concorrer no meio onde se insere, especialmente quando tem que contratar ou renovar com jogadores. Os meios são escassos, a situação económico-financeira do clube é do conhecimento de todos. Depois podemos estar perante um caso em que não há nada a fazer, se o jogador, de forma legitima, quiser dar curso à sua carreira noutro clube. Aí  a questão da competência não faz qualquer sentido.

Eventualmente poder-se-ia prevenir a chegada ao extremo a que agora estamos. Carrillo não beneficiou dos primeiros dois anos em que clube viveu em permanente instabilidade. E nos últimos dois foi ficando esquecido, enquanto se renovava com uns e se aumentavam outros. Enquanto Carrillo foi crescendo em importância para a equipa, o Sporting, esqueceu-se do presente, preferindo gastar o melhor dos seus recursos em jogadores "com futuro", como Gauld, Slavchev e agora com Paulista. O que está agora suceder com Carrillo é o resultado das opções anteriormente feitas.

12 comentários:

  1. "Da exigência à indigência

    Falar no caso de Adrien obriga também a ver as diferenças de posicionamento de uma parte importante dos adeptos. Na altura a não renovação atempada do contrato de Adrien era entendido como uma manifestação de incompetência. Hoje, no caso de Carrillo, diaboliza-se o jogador, "um ingrato", o agente, ou ao detentor do passe, isenta-se de qualquer responsabilidade a SAD, como se nas últimas três épocas não tivesse havido tempo mais do que suficiente para prevenir a actual situação."


    Touché!

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    1. Touché! Porquê?

      Quase que me apetecia dizer que com o Godinho Lopes a renovação já estaria tratada antes da contratação, mas não digo.

      Analisando de outro modo e pelas três épocas que menciona:
      2012/13 - A tal da pior classificação de sempre, que me lembre nunca foi opção principal e a exemplo dos restante pouco se destacou e com mais 3 anos de contrato não encontro motivo para tratar de renovação.
      2013/2014 - A época do Leonardo Jardim, melhorou consideravelmente o desempenho, juntou bons apontamentos a jogos com alheamento total sendo invariavelmente o primeiro candidato à substituição. Lembro apenas a substituição no ultimo jogo da época e nesta altura era opinião quase unânime que deveria ser um dos jogadores a dispensar/vender de forma a minimizar o gasto com a contratação.
      2014/2015 - Época que terminou em Junho deste ano, aqui sim explodiu e tornou-se um dos jogadores mais relevantes do plantel, tanto quanto sei, fazendo fé nos jornais e mesmo nas declarações do jogador, muito antes do final da época que já negociava a renovação.
      Assim sendo, apenas se pode criticar a má fé do jogador ou a incompetência da direcção na conclusão deste dossier.

      Afinal os 3 anos com franqueza de analise apenas são 3 ou 4 meses.

      AF

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    2. Tocaste no ponto AF. Só para lembrar que na época do Leonardo Jardim os titulares eram o Capel, o Wilson Eduardo e o Carrillo dividia as entradas na segunda parte com o Mané (não sendo o Carrillo superior ao Mané nessa época). Só existiu essa "explosão" (ainda que com intermitências) com o Marco Silva

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    3. Com o macaquinho Diogo? Vê lá se não te enganas. Olha parece que também anda aí um contrato que prova que só queríamos inflaçionar o Cervi. 6 Milhões e não avisaram o Inácio. Porque o Cervi com 17 anos fartou-se de jogar com o Jardim.

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    4. Inflacionar o Cervi? Era bem visto que assim fosse ... Infelizmente essa capacidade parece que ficou na estrutura de carnide.
      Faz lá as contas, retiras comissões, impostos e encargos e ficas com o valor igual ao "supostamente" pago pelo carnide.
      A forma como referes o contrato, é reveladora, se acreditas que um clube de futebol não se move por interesses financeiro e tem preferência por proposta de valor inferior, então não conheces o presidente do maritimo e concerteza não tens capacidade para fazer as contas que estão no contrato que ostensivamente referes.

      AF

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    5. Eu nunca referi nada.

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    6. Anónimo 18 de setembro de 2015 às 21:20 (possível lampião)

      Mas quem é que falou no Cervi? Já agora o que é que queres saber sobre o Cervi?

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  2. No meu entendimento já o perdemos para o corrupto ou para os lampiões. Grande falha da estrutura (será que temos uma estrutura digna desse nome?). O que é que BC andou a fazer enquanto Carrillo almoçava com Jesus? Quem dirige os processos de renovação é o treinador?

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    1. Duvido que vá para um rival directo. Não é impossível mas conhecendo o enorme ego do nosso presidente, creio que tudo será feito para que tal não aconteça. Há três cenários em equação neste momento:

      1. Não renova, é vendido em Dezembro pelo preço possível (valor baixo dadas as circunstâncias), o Sporting perde desportivamente mas ganha algum dinheiro e o jogador pode competir no imediato.

      2. Não renova, não é vendido em Dezembro, o Sporting perde desportivamente e o jogador fica 8 meses sem competir (péssima opção para o jogador que, se tal vier a acontecer, duvido muito que volte a exibir-se neste patamar de qualidade)

      3. O Carrillo renova, honra o compromisso de gratidão para com o clube que o acolheu e desenvolveu, e regressa melhor do que nunca. Ganha o Sporting um reforço de peso e ganha o jogador que estabiliza emocionalmente e pode voltar a competir de cabeça limpa e com um novo contrato ao nível dos melhores.

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    2. Quanto a mim houve incompetência da parte da direcção no tratamento do assunto Carrilho,
      Se o jogador não aceitava as condições então havia que proceder à sua substituição atempadamente e não prolongar penosamente este processo. Foi assim com Danilo, foi assim Douglas, com Cervi e parece-me que vai ser assim com Carrilho.

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  3. Tenho uma teoria muito minha:

    - O dono de 50% do passe do jogador tem um compromisso estabelecido com um outro clube nacional;

    - Esse acordo foi feito para substituir um outro que não pôde cumprir com o mesmo clube, pois a decisão da qual dependia não lhe foi favorável;

    - O jogador deu poderes ao seu empresário, e por consequência a quem está acima dele, para poder representá-lo e assinar compromissos em seu (à semelhança do que sucedeu ao Figo por 2 vezes pelo menos);

    - Neste momento sabendo que está obrigado por esse acordo, não terá como o contornar pelo que só lhe resta deixar correr o tempo até à conclusão do contrato com o Sporting;

    O tempo se encarregará de desmentir ou confirmar esta teoria.

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  4. Ter opiniões sabendo que nunca vamos ter de as por em prática facilita qualquer análise.

    ...o facto de se ter optado por manter o jogador nos nossos quadros, quando o podia ter vendido...
    - Quantas propostas surgiram? E a vontade do jogador não conta? Mas alguma vez o Sporting pode vender o jogador para onde quiser? O jogador tem obviamente palavra activa em tudo isso, não vai para onde o clube lhe disser para ir. Principalmente a 1 ano do fim do contrato e com os agentes que orbitam à volta dele sabendo que daqui a 1 ano poderão ganhar quantias que com uma transferência agora nunca veriam.

    A radicalização da posição do empregador (SAD) com o empregado (Carrillo) cria o clima oposto para um entendimento
    - Talvez. O Matheus renovou depois de já ter sido afastado e dado como certo noutro sítio. Enquanto a posição não for radicalizada, o empregado vai andar sempre a dizer que ainda está a pensar, com o tempo a correr em seu favor.

    Obviamente que os principais clubes e agentes já tinham sinalizado a situação, a confirmação serve de encorajamento a quem quer o jogador.
    - Tal como no mercado de capitais, o mercado só reage a surpresas. E o mercado já reagiu antes, o que se passa agora já não é surpresa nenhuma.

    Nani já saiu e não tem substituto à altura, o mesmo acontecerá se Carrilo for suspenso. O Sporting fica a perder.
    - Dependeria sempre do comportamento do Carrillo em campo. E, para quem tem boa memória, o historial não é famoso.

    Tendo em conta o que é dito no paragrafo anterior, o jogador deveria continuar a dar o seu contributo à equipa, pelo menos até Dezembro, altura em que o clube poderia substitui-lo.
    - Isto é muito menos linear do que o opinador quer fazer parecer. Tal como dito antes, não é líquido que o contributo do Carrillo seja assim tão positivo, tendo em conta a relação actual com o clube. E o tribunal de Alvalade não costuma ter muita paciência para jogadores nesta situação. O que aconteceria ao 1º passe falhado, à 1ª recusa em perseguir uma bola díficil? Volto a relembrar que o histórico do jogador em termos de empenho não é famoso.

    Tê-lo a jogar é também uma forma de o valorizar, caso ainda subsista a ténue hipótese de o transferir em Janeiro
    - Transferi-lo em Janeiro? Mas alguma vez o Carrillo e os seus agentes vão aceitar uma transferência em Janeiro?

    Comparar Adrien e Carrillo.
    - Falso em quase tudo mas até pego só na não renovação atempada do contrato do Carrillo. Quando deveria ter ocorrido? Depois da assobiadela monumental que ele levou na última jornada da época do Leonardo Jardim? Falar agora é fácil, poucos seriam os que consideravam bom premiar aquele jogador com uma extensão do contrato. E não foram poucas as críticas por aqui e noutros sítios de contratos renovados "sem sentido" e a jogadores "que não o justificam".

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