segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Arbitragem: critérios de geometria variável


Nota prévia: o post foi revisto e aumentado já depois da sua publicação.

Critério 1
A APAF e o Conselho de Arbitragem (C.A.) foram céleres a clamar por justiça, após as declarações de Bruno de Carvalho sobre a nomeação de Jorge Ferreira e de JJ sobre este, durante o jogo. Ao menos podiam disfarçar e dar mais 24h.

As declarações merecem averiguações? Se os regulamentos não permitirem declarações como as que Bruno de Carvalho (duvido, mas...) fez que se punam em conformidade. Se encontrarem no que JJ disse durante o jogo razões para qualquer tipo de punição (duvido, mas elas são de ãmbito tão lato que dá para explorar o que se quiser de forma conveniente...) que se puna em conformidade.

Celeridade que, sem surpresa, não houve para se pronunciarem sobre as acusações de Bruno de Carvalho, relativamente aos kit's oferecidos aos árbitros. Independentemente das considerações que se possam fazer relativamente à natureza das ofertas - a mim parece-me excessivo considerar a oferta como corrupção, mas revela pelo menos promiscuidade - é incontestável que estas deveriam já ter merecido muito mais do que o encolher de ombros da FPF, pelo menos do C.A. e Liga. Este silêncio revela senão comprometimento, pelo menos desconforto e inépcia.

Mas pior foram ainda os episódios relacionados com as declarações de Marco Ferreira. Sejamos claros: as suas declarações teriam outro valor se feitas num enquadramento diferente, em que o árbitro assumiria a sua oposição ao modus operandi a partir de dentro e não apenas depois de o sistema o ter usado, mastigado e cuspido e ele, certamente, disso retirado dividendos pessoais. E que ainda por cima as faça dando com uma mão e tirando com outra, não indo até às últimas consequências.

Vejamos as declarações do árbitro: "Não digo que o Benfica pede a Vítor Pereira que este diga aos árbitros para favorecerem o clube. Não estou a dizer isso. O que eu digo é que Vítor Pereira faz isso porque sabe que o Benfica é o único que o apoia. Por isso não quer que um árbitro que desagrade ao Benfica apite os jogos desse clube. O Benfica nunca falou comigo e pediu qualquer favorecimento. Mas, Vítor Pereira sim."

"O SLB nunca falou comigo" é para enganar tolos, só pode. Pois porque o havia de fazer directamente se Vitor Pereira, presidente do CA, lhe servia de porta-voz, o fazia? Então se o árbitro afirma peremptoriamente que ele lhe ligava porque sabe que o Benfica é o único que o apoia está a dizer o quê? Que quer Vitor Pereira quer o SLB representam interesses comuns, que Vitor Pereira deixou de ser o presidente do C.A. de toda a Arbitragem da FPF mas apenas o presidente do C.A. da Arbitragem do SLB. São declarações demasiado graves para poderem ficar-se apenas com a interposição de processo crime. Pela sua gravidade, Vitor Pereira deve explicações públicas, sob pena de ver comprometida a indispensável independência, basilar para o desempenho do cargo.

Conclui-se pelo histórico, sem qualquer parcialidade, que as declarações, quaisquer que elas sejam, por parte do Sporting, parecem funcionar como um poderoso laxante verbal para árbitros, organismos e dirigentes.

Há alguém que se surpreenda por isso com a ameaça de um novo boicote, figura apenas usada pela classe dos árbitros contra o Sporting? Não, obviamente.

O que lhes dói não são as declarações, antes sim sentir um Sporting forte e candidato, que ainda por cima está no topo da classificação. Um Sporting que não os trata bem, que não lhes dá nada e com quem não podem contar para os habituais jogos de influência. Um Sporting que se ganhar, não distribuirá dividendos. Percebe-se o quanto isto possa ser desestabilizador. Mas tenham pelo menos a vergonha e disfarcem, finjam-se sérios.

Critério 2
O Sporting tinha, a propósito do sucedido no jogo do passado fim-de-semana, uma boa oportunidade para fazer valer os seus argumentos em favor da introdução das novas tecnologias no futebol de apoio às decisões dos árbitros. Para ela ser bem sucedida o Sporting precisa de construir em torno da sua argumentação massa critica de clubes, organismos e adeptos para isso tem que deixar demonstrado de forma inequívoca que empreende esta luta pela verdade desportiva, quer quando esta lhe favorece quer quando a sua aplicação é contra os seus interesses.

Acresce que o Sporting não tem nada a temer nas contas que se possam vir a fazer do que aconteceu esta jornada. Beneficiou de um lance de fora-de-jogo para marcar o único golo que lhe garantiu os três pontos? Sem dúvida! Mas o jogo não começou e terminou aí. Já antes nos havia sido negado um penalty claro e anulado uma jogada em que Teo fica isolado, por fora-de-jogo inexistente. É claro e objectivo que não fomos beneficiados mas, ainda que o fossemos, deveríamos lembrar que se as nossas sugestões fossem atendidas era um problema a menos para o futebol e um grande passo para a sua credibilização. De outra forma parecerá que nos queixamos apenas quando perdemos e quase sempre o que parece, é.

6 comentários:

  1. Concordo consigo em relação ao 2º criterio. É a minha forma de ver as coisas.

    É a chamada chapada de luva branca.

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  2. MT Bom,LdA!

    Valeu a pena o aumento... não foi só em caracteres, foi em qualidade! :)

    Abç

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  3. LdA

    Como o bebé já raciocina tão bem. Parabéns! Muitos e bons!

    Um grande abraço

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  4. Então se eu te beneficiar ilicitamente na tua ascensão profissional na tua empresa, isso significa que terás de assumir a tua parte da culpa?

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