segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A miopia é a doença que fica do campeonato dos contratos televisivos

Depois do SLBenfica é agora o FCPorto a anunciar um novo contrato de concessão de direitos televisivos, desta feita com a MEO. Os números são igualmente elevados, na linha do que o contrato efectuado entre encarnados e a NOS. 

As comparações serão inevitáveis porque a rivalidade assim o impõe. Contudo, uma vez que os dois clubes não negociaram exactamente os mesmos "produtos" e não se encontravam na mesma posição (o FCPorto, tal como o Sporting, ainda tem um contrato antigo a vigorar por mais duas temporadas) torna o resultado do confronto de valores mais difícil de percepcionar.

Quanto ao Sporting, vai-se dizendo nos "mentideros" que há negociações em curso. Falta saber se estar neste momento em último traduz uma vantagem negocial ou um prejuízo. Qualquer das possibilidades é real. Mais importante do que as especulações sobre os números parece-me evidente que:
- Ao ficar para último no que aos três grandes diz respeito o clube fica pressionado a igualar os números dos seus rivais.

- Ao não ser o primeiro a fechar contrato o risco de fazer o contrato abaixo dos valores conseguidos pelos rivais saiu diminuído. Valerão agora os argumentos que conseguir colocar na mesa das negociações. 

- Os valores a conseguir funcionarão inevitavelmente como uma importante medida de aferição da posição do Sporting no mercado, assim como da capacidade negocial dos seus dirigentes.

- Há um risco de as condições em que os rivais negociaram se alterarem de forma parcial ou até substancial. A esta distância do final do contrato ainda em vigor, e com a volatilidade do meio e da própria economia, não se consegue estimar o que será de facto mais vantajoso. Só o tempo o poderá esclarecer. 
Dentro do âmbito do último item assinalado, parece-me que o FCPorto poderá estar a correr um risco maior ao negociar no imediato, sendo contudo certo que o novo contrato lhe permite aceder a uma receita importante, resolvendo também um problema que se arrastava: a falta de uma receita importante que é a publicidade nas camisolas. O que se diz aqui sobre o FCPorto aplica-se igualmente a nós, uma vez que nos encontramos numa situação semelhante.

Fica por saber que consequências trazem estes contratos para o futebol português. É fácil de perceber no imediato que se acentuará o fosso já existente entre os três grandes e os demais. Embora aqueles se possam dar por satisfeitos e continuar de vistas curtas apenas a olhar para os respectivos umbigos, é claro que esta macrocefalia é, a prazo, tendente a reduzir a competitividade do nosso campeonato.  

Com menos meios, só por cinismo se poderá exigir aos demais clubes que nos confrontos com os grandes procurem jogar o jogo pelo jogo, sendo mais do que expectável e provavelmente compreensível que apenas se preocupem em ter autocarros mais sólidos. Falta saber se um campeonato de reduzida competitividade pode oferecer aos três grandes a possibilidade de crescer e evoluir. 

Parece-me haver aqui alguma miopia por parte dos dirigentes dos clubes e um rotundo e sonoro falhanço do papel da Liga de Clubes que põe em causa a sua própria utilidade.

E nós, os adeptos, eternos pagantes, que temos a ganhar com aquela que parece ser uma consequência inevitável da dispersão de jogos por diversos operadores? Muito pouco, ou até mesmo um grande nada que, ao fim e ao cabo, pode representar ter que pagar ainda mais para ver ainda menos. Isto porque é muito provável que a concorrência traga a sobreposição de jogos à mesma hora, como já se viu este ano com aparecimento das transmissões directas da BTv.

5 comentários:

  1. Ontem tive o azar de ouvir o Marques Mendes sobre este assunto onde anunciou em primeira mão que brevemente serão revelados acordos similares com outros clubes. Suponho que se refira a contratos de aquisição de direitos de transmissão por longo período de tempo e não de valores similares. Acredito que o Sporting consiga negociar valores similares aos dos seus rivais, o que eu gostava era de conseguir negociar por períodos curtos de tempo ou mesmo época a época mesmo que por um valor ligeiramente inferior.

    Independentemente disso, neste momento os valores de top estão definidos e rondam os 30M por época, estou bastante curioso sobre porque valor vão assinar os clubes médios como Braga/Guimarães/Maritimo e os pequenos... Neste momento, dois dos clubes grandes venderam cada jogo seu por 1,8M, ora os pequenos têm 3 jogos destes para vender o que dá, à cabeça, 5,4M... a pergunta que fica é em quanto será valorizado um Vitória-Belenenses ou um Paços-Braga, no fundo em quanto vai ser valorizada a nossa 1ª Liga que tem resmas de jogos destes...

    Como adepto... viva o stream e o café!!!! OS jogos do Sporting em casa têm, para mim, menos interesse, neste momento acabo por ir ver a grande maioria ao estádio, ora se os jogos fora ficarem dispersos por várias operadoras, não estão a ver as pessoas a comprar múltiplos serviços de cabo para conseguir acompanhar o seu clube na televisão pois não?...

    Para já como não sou cliente de nenhuma das operadoras que fecharam contratos aguardo pacientemente que lá para 2018 decidam se contrato maior banda de internet no meu fornecedor ou se regresso ao café da esquina...

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  2. Ah, mais uma coisa um bocadinho off-topic, quando foi lançado o novo site o Sporting aproveitou o espaço publicitário disponível na sua camisola para a divulgação. Gostei bastante do efeito que teve no dia seguinte nas primeiras páginas, em todas estava escrito Sporting aliado a uma vitória. Não consigo perceber porque não se continuou a utilizar esse espaço para o mesmo efeito.

    Não sei se já repararam mas nas 1ªs páginas dos jornais o Sporting nunca ganha, só ganham os Leões, o Slimani ou o jogador que marcou o golo da vitória, os Verdes, etc., já quando perde é sempre o Sporting que aparece com destaque a perder. Era uma forma de forçar o nosso nome a aparecer na 1ª Página sempre!

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  3. Alguns comentários:

    - Não tenho a certeza que seja uma desvantagem assim tão grande ser o último a fechar contrato. Numa negociação justa, é necessário ter pontos de referência externos. Ora, neste caso, os negócios do Benfica e, sobretudo, do Porto (clube com audiências inferiores às nossas) passaram a ser esses pontos de referência. Veremos que negócio consegue (se conseguir) a direção do Sporting.

    - Veremos também o que fazem. O ponto de referência vale também para os outros. Se as operadores pagarem 5 M€/época a cada pequeno pelos seus jogos em casa contra os grandes, isso já representaria um aumento muito significativo nos orçamentos da maioria dos nossos clubes da I Liga - que em média andarão pelos 2,5-3,0 M€/época.

    - Concordo em teoria com a vantagem da venda em bloco e da promoção integrada do nosso campeonato num único canal. Mas, na prática, tivemos isso durante mais de uma década com a SportTV - e o resultado, como se vê agora, foi ter os clubes a receberem bastante abaixo daquilo que valem.

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  4. Concordo com o LMGM, seria mais produtivo fazermos um acordo por menos dinheiro num máximo de 2 épocas... Hoje saiu a noticia de 500M por 10 anos para a NÓS, ainda não é oficial nem se sabe o que engloba, mas para mim estes valores não são nada de especial pois é para um período de tempo (10 anos) em que pode se revelar um mau negócio.

    Preferia um negocio anual ou bianual, mesmo por valores menores...

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  5. A confirmação são 515M por 12 épocas, direitos de transmissão, publicidade no estádio e camisolas. 446M por 10 épocas e um acerto dos valores actuais até 2018 no valor de 69M. Este acerto de 69M por 2 épocas e meia é a prova de que um contrato de longa duração é sempre um mau negócio para quem vende. Até 2028...

    P.S.- Também se prova aqui a gloriosa e absoluta estupidez que foi um dia vender o património por 50M...

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