terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Muitas e Boas Festas, com mais humildade e menos basófia

Faltam apenas três jornadas para terminar a primeira volta e o Sporting está apenas a um ponto do líder, que neste momento é o FCPorto. Porém é a equipa que até agora liderou por mais tempo e na próxima jornada tem um encontro marcado com a oportunidade de recuperar o comando da Liga. Se no inicio da temporada me fosse perguntado poderia dizer que esta era uma situação que não desdenharia de todo se ela me fosse oferecida. Estaria longe de imaginar porém que a primeira derrota do campeonato e consequente perda de liderança ocorreria com o último classificado e, a par do Tondela pós-Paneira, a pior equipa da competição.

Ora dizer isto é afirmar que o Sporting está a fazer um bom campeonato, estando mesmo a superar não só as expectativas como muitas vezes a si próprio. Mas perder com o último é também uma boa oportunidade para colocar as coisas em perspectiva. É verdade que fomos punidos com alguma crueldade por circunstâncias que ocorrem com frequência no futebol. As mesmas que, em anteriores ocasiões nos favoreceram, quando a perda de pontos esperava apenas o apito do árbitro para o confirmar. 


Não há campeões em Dezembro mas podem-se começar a perder campeonatos em Dezembro. Se a inesperada derrota da passada jornada servir para fazer soar as campainhas, avisando que não há campeões sem humildade suficiente para reconhecerem as suas próprias debilidades e a exposição ao carácter profundamente aleatório do próprio jogo, talvez se encontre nela alguma utilidade. Ao contrário os últimos tempos o Sporting, em especial o discurso do presidente, tem-se assemelhado a de um corredor de fundo que a meio da maratona já corre de braços erguidos em sinal de vitória, sem que nada o justifique.

A afirmação documentada na imagem tem cerca de um mês ("Estamos em 1.º e quero desejar-lhes boa sorte e que vão olhando bem para nós porque não vamos sair do 1.º lugar") e colide com as feitas após o jogo, dando conta que o campeonato "é uma maratona! Manter os pés assentes na terra, trabalhar cada vez mais e manter o foco nos objectivos!"

Por sinal a comparação do campeonato com uma maratona já havia ocorrido na véspera do jogo com o União onde Bruno de Carvalho faria um renovado apelo à união interna. Precisamente o mesmo apelo que já havia em anteriores ocasiões, como por exemplo, na Gala Honoris, em Julho. Ora o Bruno de Carvalho que tão útil acha hoje a união interna é o mesmo que em 2012 achava estranho a insistência nesse apelo, quando afirmava que "mais importante do que fazer o apelo à união, é perceber que o Sporting existe e que o seu património mais valioso é sermos todos do Sporting". 

Não concordo com a afirmação totalmente, até porque não a percebo na plenitude. Mas estranho o apelo porque a união, seja lá o que isso for, é ditada essencialmente por quem lidera. Se não a consegue é a sua liderança que está questão. E, convenhamos, não se vislumbram nem fracturas graves ou ameaças à estabilidade do clube. Nem todos concordam com absolutamente tudo o que Bruno de Carvalho faz ou diz? Seja então bem-vindo à sociedade contemporânea, onde o pensamento e a opinião são livres. 

Se a pretensão é a unanimidade anda a procura de unicórnios, com a agravante de o fazer de trompetas tonitruantes . Se a unanimidade não existe, ela nunca sucederá com alguém que faz da controvérsia e da incoerência entre o discurso e acção o dia a dia, de que os exemplos acima são apenas o prefácio do seu historial. 

Ora são precisamente estas características, juntamente com uma permanente exposição apoiada num discurso que usa com frequência o auto-elogio, muito próximo da basófia que reconhecemos em muitos dos nossos rivais, que causam a rejeição a muitos Sportinguistas. Acresce que Bruno de Carvalho não parece procurar a união na sua acção mas apenas estar rodeado de quem concorda com ele, abdicando do mais elementar juízo critico. São bem conhecidas as suas reacções destemperadas às criticas. 

Para terminar volto ao principio: à necessidade de recentrar o discurso na multitude de dificuldades e adversidades que nos esperam todos os dias ao virar de cada jogo, de cada decisão administrativa. Isto não é compaginável com promessas de ficar no primeiro lugar até ao fim quando estão disputadas apenas treze jornadas do campeonato. É também uma severa falta de respeito imperdoável pelos adversários e que se opõe ao nosso historial e princípios fundacionais e que o futebol  se encarregou de punir com severidade. Entretanto os nossos adversários aproveitam com gáudio para nos ridicularizar.

O recurso à arrogância é ainda mais injustificado quando quer o nosso historial recente quer o maior poderio dos nossos adversários recomendarem alguma humildade. Apesar dos progressos evidentes na nossa prestação desportiva, com o regresso às vitórias em competições importantes, não recuperamos ainda o estatuto de favoritos. E na vertente financeira, apesar de serem altamente meritórios os exercícios positivos, está ainda muito longe de ser conseguida uma alteração estrutural que permita olhar para os anos vindouros com segurança. 

O recente adiar da resolução do problema das VMOC's veio demonstrá-lo bem como - talvez o mais importante - que as ferramentas e filosofia de gestão permanece iguais. A recente decisão do TAS sobre o "caso Rojo" (de que não tive ainda oportunidade de analisar), resultante de uma decisão controversa de sua responsabilidade, não sendo definitiva, significa que as dificuldades estão aí para durar. 

A somar a isto a sombra projectada pelo presidente na sua própria imagem na recente aventura nocturna na Madeira, com agravante de parecer ter ocorrido em representação do clube e com o fato oficial. Há diversos testemunhos e imagens que parecem confirmar que algo que não devia ter acontecido ocorreu. É consideravelmente difícil que a união se faça em torno de quem não se preocupa em cultivá-la pela acção e pelo exemplo.

Aproveito este post para desejar a todos os leitores uma Quadra Natalícia Feliz.

10 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Sérgio. Retribuo os votos, que estendo a todos os teus familiares. Abraço.

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    2. O presidente do Sporting refere-se à unidade dos adeptos de forma instrumental. Na realidade, ele não considera a unidade dos sportinguistas como um bem essencial. Afinal de contas, como apontas com precisão, quem se apresenta com tanta frequência de forma arrogante, controversa e provocatória persegue outro tipo de estratégia.

      Desejo-te um excelente Natal e um ano de 2016 carregadinho de verde e branco!

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    3. Zargo,

      Uma abraço de agradecimento e votos retribuídos de Bom Natal.

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  2. E à primeira derrota, o regresso ao ataque contra Bruno de Carvalho.

    2 anos e 9 meses depois continuas sem conseguir digerir a derrota nas eleições...

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  3. LDA, cansei-me de comentar como me vou cansando cada vez mais de acompanhar o Sporting. No entanto continuo a ler-te por manteres a tua independência e clareza na análise. Aproveito para te desejar Boas Festas e força para continuares.

    Quanto ao assunto do post, estão aqui muitas das razões do meu cansaço. Temos um mitómano na presidência, que tudo o que faz tem um único objectivo que é manter-se no emprego que arranjou e quem sabe lá mais para a frente voltar a aumentar-se outra vez. A cadeira de sonho é esta, quem dera a muita gente poder aumentar-se sem sequer estar dependente dos resultados alcançados.

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  4. É nestas alturas que vocês aproveitam para sair da toca... Acho bem, desfrutem deste momento. Boas festas, e que as entradas nos valham 3 pontos e a liderança isolada, é o meu desejo!

    SL

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