terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Com água pela barba, nem de Barcos atravessamos o Rio Ave

Julgo que qualquer adepto que vive apaixonadamente o seu clube amiúde é confrontado com presságios dos mais diversos sinais antes dos jogos. Ontem, desde muito cedo, senti com preocupação acrescida o aproximar da hora de jogo por antecipar que íamos ter um jogo difícil. Há que dizer que tal não tinha a ver com superstição mas sim com o reconhecimento do valor do adversário, em particular das suas características e das circunstâncias em que o íamos enfrentar. 

Conheço bem o Rio Ave bem como a forma como o seu actual treinador costuma por as suas equipas a jogar, em particular com os grandes. Jogando na expectativa, procura criar dificuldade com o lançamento de transições rápidas ou o jogo directo para contrariar o adiantamento natural dos adversários mais fortes.

Ora havia sinais de que o Sporting ira estrear mais um quarteto defensivo por força da lesão de Naldo e Jefferson o que lançava a dúvida sobre a coesão e entendimento entre os quatro elementos chamados à titularidade. Os receios revelaram-se fundados uma vez que o Rio Ave dispôs de boas oportunidades, mesmo em situações de 1x1 entre avançado e Rui Patrício. Se é verdade que Cássio foi importante para a manutenção do empate para o Rio Ave, não deixa de ser claro que sem o acerto de Patrício os danos poderiam ter sido outros.

Esses momentos acabaram por ser determinantes na postura da equipa que, a partir de determinado momento, começou a revelar sintomas de ansiedade, diminuindo a qualidade das decisões. Isso foi evidente em quase todo o jogo e de forma muito particular na hora de finalizar. Com uma eficácia mais próxima da nossa realidade neste campeonato o resultado poderia ter sido outro. A essa ansiedade não será também alheia a pressão de ver os minutos correr sem conseguir marcar, sabendo da necessidade de ganhar para recuperar a liderança.

Este jogo foi também um bom instrumento para se perceber aquela que parece ser a grande dificuldade que o Sporting enfrenta neste campeonato e que me parece ter sido ampliada nesta janela de mercado com a saída de Montero. O que o Sporting ganhou em altura perdeu em técnica, criatividade e espontaneidade de execução, em particular aquela que é necessária para o reduzido espaço que existe nas zonas frontais à baliza. E, diga-se, ela já não era particularmente abundante. 

Ruiz é pouco para as nossas necessidades. João Mário assegura qualidade em posse de bola, criação de linhas de passe, mas não é particularmente rápido. Gélson tem os problemas naturais da juventude, é inconstante e muitas vezes sendo ocasionalmente brilhante é frequentemente inconsistente. Teo não está em forma porque na praia em regra a consequência mais natural é... ficar mais moreno. Jesus viu-se forçado mandar Barcos para o meio do Rio e o que ficou mais claro foi que ainda é cedo para o argentino. Mas não deixa de ser particularmente preocupante constatar que dependemos em demasia de Slimani, que ontem não esteve particularmente feliz.

A passagem do Rio Ave deixou-nos água pela barba. O resultado de ontem e em particular a exibição deixaram os primeiros sinais de uma equipa permeável a pressão. Os campeões decidem-se muitas vezes pela forma como conseguem lidar com este importante factor psicológico. Quem pensava que ia ser fácil não sabia ao que vinha. Como dizia Ruiz ontem, este é o momento de estar tranquilos. Já perdemos o primeiro lugar anteriormente, de forma inesperada, e de igual modo a recuperamos. 

Creio ser estéril a discussão sobre quem comanda agora o campeonato, embora seja útil perceber quem mantém os critérios usados em anos anteriores e quem os ajusta agora. O que é importante é o critério de desempate no final do campeonato, porque ninguém é campeão antes. E aí creio ser muito difícil anular a vantagem conquistada pelo Sporting com os seus mais directos adversários. Não somos nós que, se essas circunstâncias se verificarem, quem tem que estar mais pressionado ou preocupado.

William terá que ficar para outra altura. Mas, pelo que viu ontem, a sua menor produção não tem nada a ver com o modelo de jogo de Jesus. Não é por isso que se falham passes atrás de passes. A sua recuperação é crucial para a subida de rendimento da equipa e há por isso que perceber o que é necessário fazer para que tal aconteça.

4 comentários:

  1. Não percebo o Teo jogar. Não o percebia antes, não o percebo agora depois de tudo. Para mais com uma equipa como o rio ave, acho que ruiz ao meio, como estava, seria fundamental. Azar.

    Preocupa-me a espiral em que se começou esta segunda volta. Numa luta que se prevê a dois, uma equipa vem motivada e a outra - o nosso SCP - terá de reagir rapidamente.

    Uma nota para o Ruben Semedo: entrou de forma incrível. Não sei quantas bolas terá ganho em antecipação (o adversário estava de rastos, e certo, mas ainda assim é de louvar).

    Veremos o que o futuro dirá.

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  2. Rica prenda que o Jasus deu ao Bruno. Se fosse eu mandava-o ir receber o próximo ordenado ao Vieira. E ou muito me engano ou o Orelhas era capaz de pagar com vontade. Se calhar nem nunca lhe deveu tanto.

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    1. Concordo que não era fácil levantar aquele Benfica que derrotámos três vezes. Mas isto com mestres na motivação é outra coisa. Com os outros porque em casa parece que se está a passar precisamente o contrário. E também não me parece muito difícil de perceber porquê.

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  3. Isto está feio. Dispararam os alarmes todos na SAD e vai de abrir as pernas no feriado. É Carnaval, ninguém leva a mal.

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