domingo, 10 de julho de 2016

Recordai hoje de novo o esplendor de Portugal

Orwell distinguia patriotismo de nacionalismo, conferindo à primeira uma natureza defensiva e à segunda uma tendência expansionista. No patriotismo caberiam formas como as de defesa militar e cultural. No nacionalismo revela-se o propósito de consolidar poder e prestígio, não necessariamente para o nacionalista mas para a nação ou unidade na qual o indivíduo afunda a sua individualidade.
Por preguiça, mal representando para este efeito o pensamento, diria qualquer coisa no seguinte modo: o patriota identifica-se e por impulso cuida de proteger. O nacionalista também poderá começar por identificar-se, mas depressa incorre na visão de um mundo onde o sucesso duma causa (a sua) está directamente relacionada com o insucesso ou a ruína de outras. O patriota dificilmente se reconhecerá como tal. O nacionalista apropriar-se-á indevidamente do termo patriota.

Daí, regressando fiel e novamente em exclusivo a Orwell: todo o nacionalista é capaz da mais flagrante desonestidade, mas também - pela noção de servir qualquer coisa maior do que o próprio - é dono da inabalável certeza de que tudo o que faz é o correcto.

Isto dar-nos-ia pano para para mangas mas não existe tempo. Servirá como moldura.

Pense nas grandes equipas e selecções de futebol que evocam noções patrióticas. De forma grosseira, passe tudo o que conhece pelo filtro que fará sobrar aquelas onde identificamos / identificámos / costumávamos identificar mas já não identificamos um conjunto de princípios, ideias, atributos definidores de uma identidade. Falo de cultura e apelo à sua capacidade de reconhecimento, reconhecimento esse que neste exercício transferirá de equipas para clubes e de selecções para países. Já está? FC Barcelona, Manchester United FC, FC Porto, AFC Ajax, AC Milan, Brasil, Holanda, Alemanha, Portugal, entre algumas ou muitas outras consoante a linha de tempo que estiver disposto a percorrer.
Verificará que pela facilidade de reconhecimento identitário, atribuímos às unidades chavões que em muitos casos fazem algum sentido. Para Portugal, 'o Brasil da Europa', chavão que se vai perdendo no tempo e que não importando agora desempacotar, remete para o explícito elogio da capacidade que Portugal tinha / tem de jogar bom futebol.

Existe uma relação entre futebol e patriotismo, jogo em sentido amplo cultural e de forma restrita jogo exibidor de cultura, receita a clubes por meio de equipas e a países por meio nalguns casos de equipas mas fundamentalmente selecções. Tudo isto é fácil e está aqui a razão para que uma selecção como a portuguesa, em 2000, me tivesse como exemplo magnetizado. E para que tivesse evocado os meus impulsos patrióticos. Com pena, a selecção que hoje em França pretende representar-nos (cultura portuguesa) será jamais capaz do mesmo. Os elementos definidores da identidade não estão lá. Não só não estão lá, como desejaria que o que lá está em nossa representação não estivesse, em virtude de nos desrepresentar. Ainda assim, futebol de selecções não se resume a patriotismo e poderemos sempre ver o jogo pelo jogo (é como deveríamos vê-lo na maioria do tempo). Neste caso, no Portugal VS França de hoje, desejo que vença a selecção que melhor jogar, desejando à partida que essa selecção, por empatia, hoje, seja a portuguesa.

Por fim, na hipótese da cultura portuguesa (pelo meio de futebol ou outras) lhe motivar sentimentos patrióticos, nunca permita a alguém apropriar-se ou negar-lhe esse sentimento. 
De forma análoga, e porque estamos no «A Norte de Alvalade» - espaço leonino, permita jamais que alguém reduzido pela ignorância, movido por interesse, sentimentos maus, ilusões de grandeza, auto-decepção ou outras, se aproprie, negue ou questione o sentimento sportinguista. Não o permita no interesse do Sporting e no seu próprio interesse. Não o permita também porque quem procurar apropriar-se ou questionar o seu sportinguismo, não estará a fazê-lo por lealdade ao Sporting.

10 comentários:

  1. Sou o único que gostava muito mais deste blogue quando este MM não escrevia?

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  2. Sinceramente nao percebo o propósito deste texto. Dá a impressao que se está marimbando para o destino da seleccao.

    Os elementos da identidade portuguesa nao estao lá? Quais sao esses que faltam? As identidades nao evoluem?

    E qual é a necessidade do pregao acerca de sportinguismo?

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    1. Portugueezza,

      Espero com alguma expectativa pela hora do jogo e até ao seu início desejarei que a equipa portuguesa vença. Por aí é nítido não estar a marimbar-me. E assim é mesmo que esta selecção não exiba qualquer coisa por norma reconhecível no jogador português ou em sentido lato no jogo português.

      Qualquer coisa que poderia (deveria) assemelhar-se ao jogo da selecção dum país como a Espanha, e que seria naturalmente muito diferente do jogo duma selecção como a alemã, oferecendo-lhe este último exemplo na vã esperança que perceba não estarmos a falar de resultados.

      Não sei ao que se refere por "destino da selecção".
      Duvido que a própria o saiba.

      Por último não existe qualquer pregão.
      Somente a sua incapacidade de bem interpretar o que vê escrito.

      Obrigado pelo comentário.

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    2. Ó MM, interpretar o que vejo escrito?

      Maezinha, lamento porque alguém uma vez lhe deve ter dito que sabia escrever...Ser mais como a Espanha, e menos como a Alemanha? Que lugar tem uma afirmacao destas numa ensaio sobre identidade?

      Este post é palha, uma mao cheia de palha! Um desperdício de latim. Palavras a mais, temas que nao ligam e uma ingenuidade confrangedora assente numa falácia.

      Qual? Os tempos mudam rapazinho, as pessoas mudam (evoluem) daí eu dizer ingenuidade. E nao estou a defender que agora é que somos bons...longe disso que ainda há muito (muito!) para melhorar!

      Nao. O futebol é feio. Ganhamos a rasca, a la Grécia. Temos lá porcos sem carácter nem formacao como o Pepe, o Renato e o Eliseu. Mas também temos os outros todos.

      Já agora, muita cueca pingada deu o Europeu de 2000, mas nao foram praticamente esses jogadores que foram as putas a Macau em 2002? E fizeram um escandalo por causa dos prémios de jogo (aliás, nao foi o mesmo no Brazil?)? Granda indentidade (!).

      Mas pronto, é a seleccao que temos. Do Mendes, do Nandinho e do F Gomes. Como dizia o Queirós "há muita porcaria na federacao".

      Obrigado pela resposta e desculpe lá o tom

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    3. "Ser mais como a Espanha, e menos como a Alemanha? Que lugar tem uma afirmacao destas numa ensaio sobre identidade?"

      Em futebol, houve um tempo no qual ambicionaria a Espanha, com legitimidade, ser mais parecida connosco. Desde há muito, deveríamos nós ambicionar ser mais parecidos com a Espanha, também com legitimidade. O que não podemos - nem poderá a Espanha - é ambicionar ser parecidos com a Alemanha. Do mesmo modo que a Alemanha dificilmente poderá parecer-se com a Espanha ou connosco.

      Não se trata de escolher ser mais como uns e menos como outros.

      Sei bem que para si tudo é descartável e indiferente. Poderíamos ter hoje em França 11 basquetebolistas lituanos aos saltos a jogar com as mãos, que desde que vestissem camisolas lusas e jogassem em representação de Portugal você continuaria alegre e feliz a não enxergar.

      Não lhe falei da selecção de 2002. Falei-lhe na de 2000. Poderia também ter-lhe falado na de 1998, mas infelizmente não teve a competência de se qualificar. Perdeu muito o França 1998.

      "O futebol é feio. Ganhamos a rasca, a la Grécia. Temos lá porcos sem carácter nem formacao como o Pepe, o Renato e o Eliseu. Mas também temos os outros todos".

      Obrigado por nos revelar a deformação do seu carácter e deseducação. Como essas passam-me ao lado dir-lhe-ei somente que a Grécia em 2004 ultrapassou equipas como a portuguesa (fase de grupos), França e República Checa nos quartos-de-final e meias-finais e novamente a portuguesa, na final.

      Sabe por que modo o conseguiu? Muito mérito, algum acaso e um über treinador como Otto Rehhagel.


      O seu tom não me incomoda. Nem me incomodam a sua incapacidade e estupidez.

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  3. O sr. MM destila ódio por todos os lados e quando não tem nada para dizer, inventa. Não se percebe o propósito deste texto, não se compreende porque é que no post anterior critica o comunicado do Sporting relativamente ao Miguel Ângelo, mas ignora o facto do Miguel Ângelo desprezar o Sporting dizendo que foi uma decisão fácil.

    Compreendo que queira ser útil ao blogue mas não estrague a essência do mesmo e os discursos coerentes e bem articulados do Leão de Alvalade.

    Respondendo ao anónimo do primeiro comentário: não, caro amigo, não é o único a gostar mais do blogue quando o MM não escrevia.

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    1. Bruno Nogueira,

      Terá de reunir-se com o Anónimo (se conseguir encontrá-lo), a gorda aqui de cima e levem essa questão ao Leão de Alvalade.
      Tudo o que ele decidir estará por mim muito bem decidido.

      Obrigado pelo comentário.

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  4. Também adorei essa Seleção de "ouro". De 2000 a 2006 tivemos o melhor período da história da Selecção. Foi nesse tempo que Portugal merecia ter ganho algo.

    Mas por um lado, uma Selecção bem mais fraca, conseguiu superar-se a uma França, onde milhares de portugueses lá fizeram uma vida, sendo mais que uma mera vitória de futebol, mas um simbolismo único.

    De qualquer modo, se não fosse o trabalho feito pela geração de ouro, também não haveria qualquer alicerce para o que se conseguiu ontem à noite em França.

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  5. Profeta,

    Não encontro no futebol esse tipo de simbologia, selecções em representação de povos a residir nos países de origem ou emigrantes e coisas desse género - algo que admito perfeitamente ser um defeito meu. Vejo sim no futebol de selecções uma montra de culturas e por isso capaz de fazer soar impulsos patrióticos. Mas esses impulsos manifestam-se individualmente e nessa condição, se não reconhecer os traços que (na minha interpretação da realidade) façam sobressair a riquíssima cultura do futebol português numa qualquer selecção que o (nos) represente, para mim essa selecção reduz-se a mais uma equipa em prova. Foi assim em 2006, 2008, 2010, 2012, 2014, 2016 e assim será muito provavelmente nos anos vindouros. Mas isso não invalida desejar-lhe sucesso, por empatia, em virtude de ser português. Mas nada mais do que isso. Logicamente, se uma qualquer selecção portuguesa pela qual sinta reservas ou com a qual não me identifique entrar num torneio e se mostrar superior ou diga de elogio, estaria na linha da frente para louvá-la. Não foi evidentemente o caso da selecção que esteve em França e o facto de ter conquistado o troféu em nada o altera.

    A selecção não superou a França na final nem superou qualquer dos adversários com quem jogou. Na final não diria ter levado um banho (levou-o em muitos momentos) mas viu-se de princípio a fim subjugada à evidente superioridade do adversário.

    Estimado Profeta, admita por um momento ter visto o jogo que viu mas ao qual lhe retirariam os 2 segundos finais de cada lance de perigo. Teria visto tudo - como viu - mas nos instantes em que a bola entra ou não na baliza, o caro não saberia como tinham terminado. No fim do jogo alguém lhe informaria: o resultado ficou 4-0. Qual seria a sua aposta para o vencedor?

    Deixe-me somente dizer-lhe por que motivo admito estar equívocado em relação ao que falámos no início. Já saí de Portugal há algum tempo e sempre que encontro ou vejo qualquer coisa portuguesa - uma bandeira, uma embaixada, um café, tudo isso é capaz de me fazer sentir orgulho. Em especial os cafés e alguns pequenos restaurantes já que por norma estão decorados com simbologia bem portuguesa. Um orgulho imenso e usaria nesse contexto o termo patriota.
    Consigo imaginar muita gente ver o futebol da selecção portuguesa do mesmo modo. Mas - por defeito, admito - não é o meu caso. Se é futebol não basta estarem lá as camisolas e os nomes portugueses. É preciso bem mais do que isso para me fazer sentir orgulhoso.

    Abraços.

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    1. equivocado'
      alguém o informaria'

      por entre outras que possam ter-me escapado.

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