quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A aministia de Bettencourt

O Sporting fez duas importantes comunicações nos últimos dias. A primeira relativa à contas consolidadas que, pela extensão do documento e complexidade, não mereceram ainda aqui análise. A segunda diz respeito ao processo em curso de audições dos ex-presidentes, no caso concreto a José Eduardo Bettencourt.

Do epílogo deste processo, e que o comunicado ainda acaba por reforçar, a conclusão a tirar é que a construção da casa pelo telhado acabou por dar os resultados esperados. As acusações apareceram antes de se permitir a defesa dos acusados e bastaram as audições para se concluir que aquelas eram infundadas. Neste entretanto o bom nome dos intervenientes foi posto em causa e o do Sporting associado a práticas dolosas, o que facilmente se poderia ter evitado. Voltando ao comunicado há dois pontos que me suscitaram dúvidas. 

A primeira tem a ver com articulação do ponto 1 com o ponto 2. Seja da minha dificuldade em percebê-los ou da redacção encontrada, não consigo concluir se as razões que levaram à decisão de desistir do processo se estribaram nos "os argumentos apresentados em sede de audição" por permitirem "concluir pela não existência de qualquer ilícito nos actos de gestão practicados durante o seu mandato" ou se, como se lê no ponto seguinte, "as razões para esta decisão prendem-se com a constatação de que existiu total colaboração entre as partes para o esclarecimento e alcance da verdade." É que não é propriamente a mesma coisa perdoar por ter sido colaborante e prestável ou não ter praticado ilícitos.

A segunda está relacionada com as referências ao Pavilhão João Rocha. Certamente por me estar a escapar algum pormenor ou mero desconhecimento dos dossiers. Refiro-me em concreto à afirmação contida no ponto 2 "tendo ainda sido aceite por parte do Dr. José Eduardo Bettencourt colaborar em tudo o que venha a verificar-se necessário para a salvaguarda, a bem do Sporting Clube de Portugal, de todas as condições associadas a tudo o que esteja relacionado com o Pavilhão João Rocha."

Devo confessar alguma surpresa nesta decisão, atendendo ao ponto a que o processo havia chegado. Surpresa pela aceitação das explicações dadas que convenceram os interpeladores. É que, para quem não se lembra o mandato de José Eduardo Bettencourt foi curto em tempo mas dilatado no prejuízo. Este deve-se ter cifrado em valores acima dos 30 milhões de euros, no que só deve ter sido superado pelo que o sucederia, o de Godinho Lopes.  Pelo meio ficaram tomadas de decisão muito questionáveis como e que foram objecto de promessa de levar até às últimas consequências por Bruno de Carvalho em sede de campanha:

9,6 milhões de euros foi o valor envolvido  na contratação de Sinama-Pongolle, que praticamente nunca calçou. Quase tanto como Bas Dost mas ao preço de sete anos depois!

O ordenado bruto anual de José Eduardo Bettencourt era de 159 mil euros, tratando-se do primeiro presidente remunerado da história do Sporting.

O empréstimo de Caicedo cifrou-se em 400 mil euros, com o  Manchester City a ficar ainda com um crédito de  250 mil euros para a eventual compra futura de um jogador leonino.

Rui Meireles recebeu 449 mil euros de indemnização para abandonar o cargo de administrador que ocupava na SAD leonina, embora o seu acto mais visível foi o de ter deixado a equipa ao abandono após resultado confrangedor em Moreira de Cónegos. 

Também Pedro Afra e Salema Garção beneficiariam de indeminazações acima dos valores legais, tendo Bruno de Carvalho prometido na campanha que o levaria ao poder levar o caso até às últimas consequências.
Não menos estranho é José Eduardo Bettencourt e todos os que consigo acabaram por ver a sua honorabilidade posta em causa aceitaram este desfecho de forma aparentemente plácida. Que pelo menos o Sporting ganhe com este desfecho é o que eu desejo.

6 comentários:

  1. LdA, não terá este perdão estar relacionado com a noticia da RTP que o José Eduardo Bettencourt vai para Administrador do Novo Banco?

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    1. dosul:
      a noticia saiu logo a seguir à colocação do post. Mais um par de horas e ter-me-ia referido a isso. É uma leitura natural, o poder do dinheiro é muito grande e o Novo Bes, perdão, Banco ainda tem algum. Para quem ia ser sujeito a escrutínio pelos organismos da tutela europeu ter no curriculum problemas legais não deve ser propriamente apelativo. Devo dizer que não ficaria feliz ou muito menos satisfeito que fosse o processo do Sporting a impedir Bettencourt de proseguir a sua carreira profissional. Como Sportinguista que é já muito lhe deve ter custado viver com as consequências da sua passagem pelo clube.

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    2. Amnistia?

      Lol

      O homem foi absolvido.


      Para mim, foi óptimo, acabaram as dúvidas.
      Desconfiava que este era o poucos cabroes que nos dirigiram que não estava lá para roubar o SCP.
      Agora não te dúvidas, já o posso cumprimentar na rua.
      Incompetente mas SCPGUISTA.

      Para outros, tenho cuspo para dar na rua

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  2. Uma decisão desse Presidente (mais um da lista de administradores-delegados do BES no SCP), levou-me a suspender o pagamento de quotas (que só liquidei para votar) e a a deixar de comparecer em Alvalade (conforme comuniquei, por escrito, ao mesmo), pela primeira vez, desde 1981. Essa decisão não foram "azares da vida" como contratar Pongolle ou Caicedo (que, aliás, se veio a mostrar, em Espanha, um óptimo jogador), mas a de assinar um contrato com Pinto da Costa para vender-lhe o nosso capitão de equipa, algo, para mim, tão inconcebível e violador da minha dignidade como seria o meu Pai assinar um contrato a vender a minha Mãe ao nosso vizinho de cima "porque era um bom negócio". Ainda assim, reconheço que JEB teve a decência de desaparecer de cena, e de prosseguir o seu percurso de Sportinguismo em silêncio e longe das luzes mediáticas, ao contrário de outros cujo fracasso foi tão ou mais cabal. Estou certo, por essa sua conduta desde então, que ele reconhece o mal que fez ao Clube e que se arrepende de tê-lo feito, o que, para mim, é mais importante no julgamento do seu carácter do que os erros graves e irreparáveis que cometeu (ou que assumiu, em nome de terceiros). Parece-me, por isso, coerente e desejável este acordo a que se chegou, como me parece sempre bem quando se reconhecem erros e se enterram rancores. SL! JPT

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  3. Sempre tive enormes dúvidas sobre o "sumo" que poderia sair deste(s) processo(s) de caça às bruxas, principalmente com ele a ser conduzido de modo absurdo em praça pública.

    Não tenho qualquer dúvida que na vida das instituições desportivas nacionais acontecem diariamente ilegalidades, e pior, de que da pratica generalizada dessas ilegalidades depende a sobrevivência das instituições. Neste capitulo o Sporting não é excepção nem regra, não foi, não é, nem será...

    Partindo deste principio a pior forma de combater os erros e grossas asneiras que foram pratica especifica do Sporting deve fazer-se no recato de nossa casa, de preferência à porta fechada e só após esse escrutínio, caso se apurem ilegalidades graves partir para a acusação individual e directa.

    Sobre as tuas dúvidas apenas fiquei com o paragrafo relativo ao pavilhão, não percebi nada do que se tentou transmitir com aquele paragrafo, o que raio tem o Bettencourt sócio e ex-Presidente do Sporting que ver com o pavilhão que não tenha também qualquer outro sócio do clube? Enigmático!

    Sobre os outros pontos que destacas relativos à campanha de Bruno de Carvalho, comprar ou vender mal não é ilegal e em futebol então é o pão nosso de cada dia, há formas de minorar o risco mas venha de lá o primeiro que tenha uma gestão limpa neste aspecto particular. Eu não conheço.

    Meireles é um sobrenome de elevada despesa em Alvalade, muito nos custaram os Meireles que por lá habitaram, mas de novo tenho dúvidas relativas a qualquer ilegalidade de gestão, pode existir uma coisa tão simples como um valor acrescido na indemnização para "comprar o silêncio", não é bonito mas não é ilegal.

    Para finalizar, virtualmente todas as decisões de gestão, mesmo as mais absurdas, foram rectificadas pelos sócios em AGS, logo, apenas no caso de em sede de auditoria se descobrirem novos factos ou algo diferente do que estiver expresso no Relatório e Contas aprovado, existirá espaço para acções directas contra direcções anteriores.

    Este final, mesmo com as pontas que ainda deixa, é óptimo para pacificar a tribuna, vamos continuar focados no que interessa, tornar o clube sustentável e competitivo em todas as suas vertentes e isso faz-se com melhores dirigentes, melhores técnicos e melhores atletas, o resto, títulos e dinheiro, virá por arrasto.

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  4. Não há valores para pagar o pavilhão, vai daí recorre-se aos amigos Ricciardi, Bettencourt e Álvaro Sobrinho. E ainda levam os valores sem juros associados. Escândalo.

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