quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Derradeiras notas sobre a AG e o monólogo dos 3 olhos


O que é realmente importante é perceber porque chegamos aqui

Muito se escreveu sobre o que se passou na passada AG e após esta e a conferência de imprensa que Bruno de Carvalho deu na sua sequência. E todo esse ruído depressa sepultou o porquê de o Sporting se encontrar mergulhado em nova crise. Para que fique bem claro:

Não foi a oposição que não existe, embora seja muito conveniente acenar com o fantasma PMR, como tem sido o de Godinho Lopes, numa permanente comparação com o pior. A razão deste momento deve-se em primeiro lugar à sobranceria de quem achou que as alterações propostas, nomeadamente ao regulamento disciplinar, eram favas contadas. E depois, perante as circunstâncias, não percebeu que insistir nelas custasse o que custasse era um mau serviço prestado ao clube. No fundo, no fundo, o mesmo de sempre: apontam-se aos moinhos de vento mas o verdadeiro, mais forte e talvez único opositor de Bruno de Carvalho tem sido... Bruno de Carvalho.


Mas o que é do maior espanto e revolta é inoportunidade. Esta é uma crise promovida do topo, quando nada a fazia prever, para o interior  do clube pela total ausência do mais elementar bom senso e por maioria de razões:

A mais importante delas é anular o tónico do primeiro titulo, e acontecer num momento difícil da época, após o inicio dum ciclo decisivo e, não podemos ignorar, quando a equipa revela dificuldades que o resultado do Estoril é apenas uma confirmação.

Não menos importante é o tirar o foco que incidia e expunha o cada vez mais evidente complot do rival do outro lado da estrada. Para quê  queixarmo-nos da falta de rigor e atenção dos média, se lhes fornecemos o álibi perfeito em forma de primeiras páginas com este episódio lamentável?

Não menos lamentável é constatar e até estranhar o porquê desta urgência, ao ponto de colocar em causa a continuidade de um mandato que vai ainda no seu inicio e cujo resultado se aproximou da unanimidade dos votos expressos. E o respeito por essa vontade, onde está?

Em que é que a aprovação ou falta dela é instrumento imprescindível para a normal gestão do clube ou cumprimento de promessas eleitorais ou "programa de governo"? Afinal há muito que existe um regulamento disciplinar que nem tem sido muito usado.
Quanto às queixas relativamente às dificuldades que o cargo impõe, que ninguém duvide que são reais. É importante porém lembrar que se trata de uma opção voluntária e, segundo o próprio, cumprimento de um sonho que até está a decorrer num ambiente muito mais favorável que qualquer dos seus vários antecessores recentes. Se estes tivessem seguido o exemplo do que agora pretende fazer o Sporting talvez contasse com tantos associados, incluindo ele.
Quanto às queixas do ambiente na AG, por muito que fossem lhe fossem adversas não passou de uma história para embalar meninos se comparadas com várias outras. Algumas antes da sua aparição (p. ex., as da discussão de venda do património) e outras em que participou pessoalmente.
Não deixa de ser curiosa e digna de ser assinalada a enorme contradição entre o Bruno de Carvalho que prefere os monólogos às explicações em ambientes de igualdade ou desfavoráveis, ou o refúgio do FB, insulta a inteligência dos sócios ("manual para burros", "lacraus") com discursos paternalistas, que chantageia descaradamente o seu direito à livre escolha, promove a sua divisão ("sportingados") e listas de excomungados (alguns deles com feitos e anos de trabalho pro bono para lhe ganhar de goleada), que desrespeita os homólogos, promove ou ignora o uso do discurso insultuoso por funcionários do clube (Carlos Dolbeth, Nuno Saraiva são apenas dois exemplos) é o mesmo que se queixa de ser insultado, de não ter direito à privacidade.

Pode até não ser, mas fica difícil de demonstrar que Bruno de Carvalho não pretende mais do que a unanimidade e, chocando de frente com a realidade que lhe demonstra essa impossibilidade, resolve fazer birrinha, seguida de chantagem. E que esta alteração do regulamento disciplinar mais não visa que a domesticação das opiniões e a expurgação de todos os que ousem contestar a sua vontade.

A publicação no seu mural de FB da troca de mensagens com Nuno Mourão como bom exemplo de divergência é, ao contrário do que pretende, uma espécie de confirmação: até os sportingados (Nuno Mourão estava na famosa lista, o que é uma profunda injustiça para com um apoiante da primeira hora) podem ser bons desde que acabem a confessar que continuarão a contar com o seu voto. Até aqui não foi muito feliz.

Pode sentir-se injustiçado pelo que entende serem as dificuldades encontradas e a obra até agora realizada, mas creio que, na sua maioria os Sportinguistas, que gostam dele e/ou do que fez, gostam acima de tudo do clube. O seu monólogo dos três olhos demonstra que não percebe isso e é mau caminho afrontá-los. Demonstra o desconhecimento da identidade associativa basilar do clube (mais de um século de histórias...) o que num presidente é muito mau. Demonstra também a total subjugação da generalidade dos órgãos sociais a um homem só. O presidente da AG, duramente criticado dias antes, enxovalhado até por sectores que sabemos próximos do presidente (leia-se câmaras de ressonância) ali estava mudo e quedo. O presidente do CFD idem aspas, ele que nem se pronunciou sobre as alterações propostas ao regulamento disciplinar.

Pode até correr bem, a dramatização de falta de alternativas ajudará, mas é minha impressão que Bruno de Carvalho, com este episódio, queimou muita da sua credibilidade como líder do Sporting. Com isso também o seu período de validade alienando simultaneamente alguns dos  que mais lhe podiam ser úteis: os que lhe toleravam o estilo. O seu gosto pela guerra e sobressalto permanentes deixa de ser bem acolhido quando se vira para o interior do clube. Por exemplo: que sentido faz a guerra com os Supporting?

Alguém que goste tanto do Sporting como apregoa - mais do que de si mesmo - em vez de ter saído a terreiro em frente às câmaras de televisão anunciar o "ou eu o caos" (terá aprendido com a dinastia Ricciardi?...) teria aceite - e sobretudo percebido que nada disto é assim tão importante que não pudesse ser discutido no final de época. E, uma vez que a AG não foi sequer ainda convocada, um derradeiro rebate de consciência e humildade, o melhor desfecho ainda é possível. Bem sei que não vai acontecer. Mas deveria acontecer, não em favor do Bruno, não contra o Zé, ou outros quaisquer, mas em favor do Sporting.

Por mim aceitarei, como sempre, aliás, qualquer que seja a decisão da maioria dos meus consócios. Ser-me-á difícil de aceitar qualquer das decisões que resultem da próxima AG: ver a maioria dos sócios de joelhos, perante o capricho e a chantagem, transformado o leão num animal de circo, com medo que lhe falte o dono. Ver o clube lançado num vazio, com reformas ainda por consolidar lançando demasiadas interrogações no imediato. Uma certeza porém, já vivemos ambas e sobrevivemos. Também temos no nosso cemitério muitos insubstituíveis.

Preferia obviamente acordar amanhã com o sabor de um bom resultado no dragão e lembrar-me de tudo isto como um dos muitos pesadelos que recentemente tenho vivido acordado. É que já me imaginava em grandes dificuldades em explicar aos meus netos - ao meu filho basta aquele olhar "lá vamos nós outra vez..." - algumas das singularidades da história do Sporting, mas como é que lhes explicarei que o presidente eleito com o maior número de votos, na maior eleição de sempre se decidiu, sem grande motivo aparente colocar a baloiçar com os pés à beira do precipício?

12 comentários:

  1. Um grande texto. Muitos Parabéns.
    Não há ninguém que lhe meta juízo. sou apoiante dele desde as eleições de 2011. Mas a minha paciência chegou ao fim. faça o que quiser e bem entender. Vou à AG e voto contra os 3 pontos. Vai brincar com quem ele quiser. com o nosso clube não brinca. e não venham com caos após o período do Godinho. naquelas eleições ele não concorreu sozinho. estava lá o couceiro que eu saiba, não estava o Godinho. Digam o que quiserem. comigo não gritam daquela maneira como na última AG. nem a minha mãe gritava comigo assim. vai gritar com quem ele quiser. fora do Sporting.

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  2. Para um observador externo sem qualquer cor partidária, conhecedor dos antecedentes da personagem, é muito fácil fazer um diagnóstico.
    Estudem o perfil psicológico de um drogado, de alguém que vive ou viveu uma parte da sua vida sob a influência de drogas (fuga à realidade), e irá mais facilmente perceber, com eu percebo, o seu comportamento desviante e ziguezagueante.

    Digo isto sem qualquer intenção de ofender. Mas a realidade por vezes entra-nos pelos olhos dentro e não o podemos evitar.

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    1. Fez o seu diagnóstico por intermédio do DSM-5, foi?

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    2. Este parece-me um episódio triste e escusado na história do nosso clube.

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    3. Lamento que o Presidente se coloque nesta situação, ainda para mais após uma vitória eleitoral categórica. É absurdo assistir a estes tiros no pé de alguém que conseguiu, entre outras coisas, reequilibrar as finanças do clube, bater recordes de lucros da SAD e de transferências, negociar excelentes contratos com patrocinadores, construir um pavilhão, revitalizar modalidades e ganhar títulos europeus, aumentar o número de sócios e a média de assistências no estádio, fornecer informação financeira com mais transparência, criar um canal televisivo e resolver o problema crónico do relvado. E isto num momento em que os vizinhos recebem visitas diárias da PJ..

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  3. Qualquer dia nem com um cinto de forças. Tenham dó do SCP.

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  4. E pior. O grande lutador da verdade desportiva é agora “amiguinho” do Pinto da Costa.
    Só mesmo alguem com uma memória de minhoca pode aceitar esta aliança.

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  5. O dono deste blogue devia ter vergonha ao deixar publicar um post como este a chamar drogado ao presidente do Sporting. Nas drogas deves andar tu, aziado, sportingado. Dia 17 corremos convosco à paulada.

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    1. Exatamente. A aceitação do dito comentário é uma vergonha para o Blog e para os seus autores. Demasiado baixo.

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  6. Lamento que o Presidente se coloque nesta situação, ainda para mais após uma vitória eleitoral categórica. É absurdo assistir a estes tiros no pé de alguém que conseguiu, entre outras coisas, reequilibrar as finanças do clube, bater recordes de lucros da SAD e de transferências, negociar excelentes contratos com patrocinadores, construir um pavilhão, revitalizar modalidades e ganhar títulos europeus, aumentar o número de sócios e a média de assistências no estádio, fornecer informação financeira com mais transparência, criar um canal televisivo e resolver o problema crónico do relvado. E isto numa altura em que os vizinhos recebem visitas diárias da PJ..

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  7. "E que esta alteração do regulamento disciplinar mais não visa que a domesticação das opiniões e a expurgação de todos os que ousem contestar a sua vontade."
    Sempre gostava de saber em que alteração(ões) vê a base desta afirmação.

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