terça-feira, 10 de julho de 2018

Das rescisões às reversões: o que é melhor para o Sporting?

Atendendo à particularidade do momento da vida do clube e até do ineditismo do caso que levou ao processo de rescisão, só levarei a sério a noticia do "regresso" de Bruno Fernandes quando ele for mesmo apresentado. Mas é uma oportunidade para reflectir sobre qual o procedimento adequado por parte do clube no sentido de melhor defender os seus interesses.

De todas as actuações a considerar a pior de todas seria não fazer nada e deixar cair para a litigância todos os processos.  É que se é verdade que o Sporting pode obter a totalidade de decisões favoráveis em última instância, o contrário também o é, pelo que a tentativa de resolução pela negociação visaria a redução do risco de perder de uma parte substancial dos pilares da sua equipa da época transacta. 

A situação assemelha-se a um jogo de poker e a possibilidade de fazer recuar um ou mais jogadores equivaleria ao virar de uma carta favorável entre várias outras que por ora estão no escuro e não se sabe quem favorecerão. Concorreria para a ideia de que as condições que levaram à rescisão foram excepcionais e estariam afastadas em definitivo. É isso que o regresso de Bruno Fernandes poderá representar e que significaria uma nova postura e novas abordagens pelos clubes que se venham a interessar pelos jogadores que decidiram rescindir.

Como é evidente os casos não são todos iguais. Não é por acaso que os jogadores de mais baixo salário, como Podence e Rafael Leão, tendem a ser os mais que mais rapidamente se definirão. Os seus futuros clubes também fazem contas como nós e devem ter entendido que o risco compensava face a uma penalização futura. A excepção aqui foi Rui Patrício, que quanto a mim se precipitou quer quanto ao timing quer quanto ao clube escolhido. Mas será também, a par de William e Bas Dost, dos jogadores com mais possibilidade de ver uma decisão final que o favoreça.

Há que considerar contudo que o Sporting não tem uma posição negocial confortável. Para todos os efeitos os jogadores deixaram de ser seus e terá que concorrer com outros clubes que estão nestes momentos a considerar a possibilidade de os contratar. Depois há também que levar em linha de conta que talvez à excepção precisamente de Bruno Fernandes, nenhum jogador se valorizou especialmente. E mesmo este acabou por passar pelo palco do Mundial praticamente sob anonimato, à semelhança de Patrício, William, Coates e Acuña. 

Isto é, são jogadores interessantes a custo zero, mas nenhum clube se aproximará dos valores que, em circunstâncias normais, estariam dispostos a oferecer e que poderiam andar perto das cláusulas de rescisão. A semelhança com o jogar no escuro do poker aplica-se aqui também e a ambas as partes: ao Sporting, que joga com a possibilidade de ganhar e ser ressarcido de verbas importantes, mas sabes também que cada decisão desfavorável significará o inverso. Os clubes que venham a contratar os jogadores sabem o mesmo e jogam da mesma forma.

Desta forma é claro que andaremos longe dos negócios ideais ou mesmo de negócios  que perspectivávamos ainda há pouco tempo. Daí que acordos como o que parece estar prestes a acontecer com Bruno Fernandes, revertendo a rescisão, são os ideais porque permitem ao clube vir a negociar no futuro numa posição de maior conforto e autoridade, sem estar sujeito a pressões ou ao espectro de uma decisão desfavorável e tudo o que ela acarretaria. 

O que é dito no parágrafo acima é válido em qualquer circunstância. Isto é, mesmo que o anterior CD estivesse ainda em funções. Foi isso que Carlos Vieira reconheceu de forma implícita na entrevista que deu ao DN, nem sequer negando a existência de negociações. Porém, pessoalmente não acredito que com aquele executivo houvesse retrocesso nas rescisões por razões óbvias. 


Há outro factor de monta a concorrer para a negociação mesmo que de jogadores que não queiram regressar. O modelo de governação que tem estado em vigor na SAD obriga à venda de regular de activos para o equilíbrio das contas. Como é reconhecido na mesma entrevista por Carlos Vieira. Tal assentimento nem era necessário por ser uma evidência em todos os clubes e que  a reconhecida falta de liquidez confirmava.


Fica apenas mais uma nota pessoal: não vejo com bons olhos o aproveitamento das rescisões para obtenção de melhorias contratuais. Mas também não veria com bons olhos as alternativas. Infelizmente o Sporting tem responsabilidades na situação em que se deixou cair por erros e omissões e inevitavelmente sofre agora as consequências. Independentemente do imprescindível apuramento de todas as responsabilidades e de lutar até ao último cêntimo pelo que é seu de direito, foram erros que foram nossos e que seremos nós a ter que saber sair deles mais fortes e melhor preparados.

5 comentários:

  1. Porque razao o Bas Dost tem mais possibilidade de ver uma decisão final que o favoreça? Outra vez a história do cinto? Mas os outros também nao levaram com murros e pontapés?

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    1. nao sei se levaram murros, sei que o Dost levou com um cinto e abriu a cabeça e ha provas disso e para mim era o unico que merecia ser discutida a sua posicao no Sporting.

      mas tambem sei que a camisola do patricio apareceu queimada na barriga mas nunca vi imagens das queimaduras na barriga do patricio, até vi a bola ser defendida, no final da taça, contra a propria barriga queimada mas o homem é de ferro....vi o Patricio a sair a esquadra novinho em folha para quem ia ser agredido por 50 gajos.

      vi o varandas a pedir para filmar a fivela do cinto, enquanto largava um sorriso colgate para a camera.

      o que vi foi um balneário completamente intacto para quem sofreu um ataque de 50 gajos com tochas(nem uma parede preta do fumo, brutal), nao vi nada partido a nao ser meias no chao, uma cooler no chao e umas fitas adesivas no chao. nao houve um banco partido, uma portinha dquelas onde guardam as cenas deles arrancada, foram os 50 marginais mais florzinhas que ja fizeram um ataque...até 50 castelos brancos juntos tinham feito mais estragos naquele dia

      é ver as imagens...está la tudo....tudo intacto e umas merdinhas espalhadas no chao...ha e o som do alarme para parecer mais dramatico e tal...

      mas sim eles foram brutalmente agredidos, nada que uns milhoes nao os facam esquecer nao é Bruno Fernandes...

      nao percebo como um gajo que esteve a vi,da toda no Sporting o Patricio, nao pensou como o Bruno fernandes, ah ja sei, é porque o patrício é serio e nao quer saber do dinheiro.

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    2. Estás em negação... Só faltou dizer que nem lá foi ninguém.

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  2. Está confirmado o regresso de Bruno Fernandes. O que é sem duvida uma excelente noticia. Sousa Cintra trabalhou muito bem neste processo. Os outros...a paciência deve ser uma virtude porque estamos a falar de processos muito complexos, que exigem muito trabalho e calma, seja para o regresso de mais algum, seja para o retorno financeiro dos clubes para onde vão compensações pelas saídas. Apesar de o tempo ser curto para nós devido à preparação da época (investimentos significam que tem de haver dinheiro a entrar pela outra porta) e por causa das questões de tesouraria há que ter calma e trabalhar com inteligência e ponderação. Parece-me que isso tem sucedido...

    Quanto ao post, pouco há a acrescentar porque diz praticamente tudo o que há para dizer a respeito deste assunto...

    José Gomes (JG)

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  3. No contexto em que a CG e o CA da SAD estão a trabalhar negociar o regresso de qualquer um dos atletas é um resultado acima das melhores expectativas. No caso do BF eu admitiria uma melhoria salarial já que aquilo que o jogador provou valer situa-se acima das expectativas existentes à data da sua contratação. Acresce o facto de ser relativamente fácil fazer as contas:em caso de acordo com duplicação do salário, por exemplo, o Sporting chegaria ao final desta época com um investimento em BF que se traduziria num gasto de 16 milhões de euros. (10 milhões da transferência mais 2 milhões de salários no primeiro ano, mais 4 milhões no segundo). Obteria dois anos plenos de contribuição desportiva cuja quantificação financeira é dificil de fazer mas que significará uma contribuição importante para muitos milhões de receitas. Admitindo que venderia o jogador no final deste ano por 30 milhões - um valor baixo num quadro de normalidade - obteria um relevante retorno. Parece interessante. Abstenho-me de fazer as contas para o cenário da rescisão levada às últimas consequências.
    Mas BF regressou recusando o aumento salarial que o Sporting e o seu empresário tinham acordado. Notável.
    Negociação com jogadores que rescindiram e que não admitem regressar. O caminho seguido por Sousa Cintra é o caminho certo e o que estão a fazer é um trabalho notável. Tentar o regresso, forma de afastar/esvaziar o expectro da insegurança, e caso não seja possível, apelar ao bom senso e cultura empresarial responsável dos clubes contratantes, para negociar o mais perto possível da normalidade de mercado.
    Bom trabalho em curso. Não é fácil reparar o casco de um navio que navega no alto mar.

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